, por Elio Gaspari
Na sua entrevista ao repórter Roberto D'Avila o senador Aécio Neves disse o seguinte:
"Eu não perdi a eleição para um partido político. Perdi a eleição para
uma organização criminosa que se instalou no seio de algumas empresas
brasileiras, patrocinada por esse grupo político que aí está."
Dias antes, a doutora Dilma dissera o seguinte:
"Esses golpistas (...) não nos perdoam por estar tanto tempo fora do poder."
O hábito petista de associar denúncias a golpismo vem de longe. Em 2007,
quando faltavam duas semanas para que o Supremo aceitasse o processo
contra a turma do mensalão, José Dirceu falou em "tentação golpista". O
procurador-geral da República dissera que havia ali uma "organização
criminosa". Dirceu foi para a Papuda, agora dorme em casa, e as
instituições democráticas vão bem, obrigado.
Na sua entrevista, Aécio reconheceu expressamente a legitimidade do
resultado das urnas. Portanto, o adjetivo de Dilma não se aplica ao
senador. Muito menos o vitupério do ministro da Justiça, segundo o qual
busca-se um "terceiro turno".
Ouvindo-se as palavras duras de Aécio, percebe-se que ele parou a
milímetros da fulanização do PT como "organização criminosa". Numa outra
referência, deu um passo à frente: ela não opera apenas em "algumas
empresas", mas "se estabeleceu no Estado brasileiro" e mencionou
referências conhecidas, relacionando o tesoureiro do PT, João Vaccari,
com petrorroubalheiras. (Seu antecessor, Delúbio Soares, foi para a
bancada da Papuda.) O PT anunciou que interpelará Aécio judicialmente.
Está em curso uma dança na qual o governo e a oposição seguem uma
coreografia de insinuações, como se soubessem que vem algo por aí. Um
fala em "organização criminosa" e o outro denuncia "golpistas", pedindo
uma reforma política e o eterno plebiscito, com militância na rua. À
primeira vista, é um diálogo de surdos, mas é provável que se esteja
diante de um jogo no qual cada lado se move antecipando o próximo lance.
A oposição espera por fatos que sairão de uma investigação policial e
do rito judicial. Já o comissariado responde com qualificativos
genéricos e apocalípticos. Ambos sabem que, diante das
petrorroubalheiras, o mensalão foi coisa de trombadinhas.
Na mesma entrevista a D'Avila, o senador lembrou que é um discípulo do
avô, Tancredo Neves. Há algumas semanas ele contou que em 1984 "pregaram
uns cartazes em Brasília com o símbolo do comunismo" e um desenho com o
rosto de Tancredo: "Era um movimento radical, para dizer que ele era
comunista". Com o avô, aprendeu a não contar tudo o que sabe.
Aécio referia-se a um episódio ocorrido em agosto de 1984, no qual dois
sujeitos foram presos em Brasília colando cartazes vermelhos com a sigla
do do Partido Comunista e a legenda "Chegaremos lá". Semanas depois,
quando pouco se sabia do caso, Tancredo disse: "Tenho outras
informações". Quais? "Ah... agora fica entre nós."
Não era coisa de um genérico movimento radical. Havia sido uma operação
clandestina do Centro de Informações do Exército e, com uma carteirada,
um coronel libertara os soldados presos. Tancredo sabia e não disse uma
palavra. Ele mostrou que sabia mais.
FONTE ROTA2014
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