Reynaldo-BH: Uma tragédia tão rotineira quanto as viagens do governador a Paris
REYNALDO ROCHA
A cena se repete. Até quando? São somente 17. O que representa 17 frente a novecentos? Nada. Coisa estatisticamente desprezível. Ou seja, uma vitória.
São 17 mortos pelas chuvas ─ com data marcada para ser mais um desastre ─ em Petrópolis. São 17 vidas. Pior: 17 mortos. Previsíveis como as tempestades de verão na serra fluminense.
O mesmo governo que à vista de todos superfatura orçamentos do Maracanã, e considera coisa de punguista a divisão dos royalties do petróleo, tem uma única ação prevista para as chuvas que são mais certas que viagens a Paris: choveu mais em um dia do que o previsto para o mês inteiro.
Quantas vezes este mesmo argumento já foi usado? Ou se acerta a previsão ou se admite que é um fato normal na região. Não absolve os responsáveis pela perda de 17 vidas.
Chega a ser macabra a certeza ─ que não a tem? ─ das mortes do verão. Seja em janeiro, fevereiro ou nas águas de março, tão comuns que viraram tema de uma das obras-primas da MPB.
Em três anos, a única providência adotada foi a instalação de sirenes. Que lembram as de Londres nos bombardeios da Segunda Guerra. O anúncio patético e desumano da tragédia.
Quem já perdeu um amigo ou parente sabe o que as famílias estão sentindo com os efeitos do descaso. Mas são somente 17. Uma grande economia para a prefeitura, que não vai ter que providenciar centenas de caixões. E um número que será usado como sinal de sucesso.
A conta de assassinados pelo descaso do governo do Rio ─ e do governo federal, cujos representantes preferem sobrevoar as áreas atingidas de helicóptero (transformados em uma versão moderna de urubus) a efetivamente cumprir o que a cada tragédia prometem ─ diminuiu bastante. Para quem trata com números, é uma vitória.
Para quem cuida de vidas, uma derrota. Para os familiares, desespero.
Para os governantes, um modo quase silencioso de matar.
0 comments:
Postar um comentário