Mas
entre tanta decepção sob as luzes e as câmaras, um aspecto positivo:
nem Steven Spielberg nem Tony Kushner ganharam uma estatueta dourada.
Um só fato seria suficiente para não dar qualquer atenção e importância (ou, pelo menos, para não perder horas de sono assistindo em direto) à 85ª cerimônia de entrega do Oscar, realizada em Los Angeles: a total ausência nas nomeações – nem uma só! – do melhor filme de 2012, ‘Batman, Cavaleiro das Trevas Ressurge’. Outra ausência indesculpável, também por motivos de “mensagem”, ideológicos, políticos (isto é, por ser um filme mais à direita do que a “tolerante” Hollywood tolera), mas esta mais previsível, foi a de ‘2016 - A América de Obama’, que foi “apenas” o documentário que mais dinheiro fez nas bilheteiras no ano passado; Ou seja: falácias filmadas como “Uma Verdade Inconveniente” e “Fahrenheit 9/11” terão sempre mais hipóteses de serem selecionadas e galardoadas.
Quanto ao espetáculo propriamente dito, e apesar das aparentes mudanças, novidades e variações introduzidas todos os anos, acabou por ser a “treta” do costume, uma “seca” monumental. Que não terá sido inteiramente compensada pelo apresentador, Seth MacFarlane, que se excedeu em piadas misóginas – um esquerdista é (quase) sempre um sexista - e atingiu um ponto baixo com outra sobre Abraham Lincoln. Em poucas palavras, imaturidade e mau gosto, que foram do desagrado, imagine-se, até de Debbie Wasserman-Schultz! Porém, o ponto mais baixo da noite, o momento mesmo mau, acabou por ser a aparição de Michelle Obama, direto de Washington, para anunciar o último Oscar da noite, para melhor filme, dado a ‘Argo’ - sem dúvida o favorito da Casa Branca, pois John Kerry já havia desejado boa sorte a Ben Affleck. Até os jornalistas do entretenimento estacionados na Califórnia, que mais liberais não podem ser, mostraram desagrado face a este excesso (mais um) de cumplicidade entre a “primeira família” e as gentes do cinema, entre a política (“progressista”) e o entretenimento. Soube-se depois que tinha sido Harvey Weinstein, grande apoiante de Barack Obama (e mais um judeu que não se incomoda com a atitude demasiado permissiva da atual administração em relação ao Islã), a organizar esta manobra, provavelmente também como forma de promover o filme de que é produtor (“Guia Para um Final Feliz”), e na qual terá contado com a colaboração da operativa democrata – e mentirosa impenitente – Stephanie Cutter.
‘A Hora Mais Escura’, ao início um favorito ao triunfo final, acabou por ser prejudicado pela “acusação” – o “horror”! – de que dá a entender que as técnicas de interrogatório reforçado (waterboarding) podem ter ajudado a localizar e a eliminar Osama Bin Laden; e nem pensar em elogiar, em valorizar, mesmo que indireta e remotamente, George W. Bush, logo… nada feito, ou quase – só um Oscar, na categoria de edição de som.
Mas entre tanta decepção sob as luzes e as câmaras, um aspecto positivo: nem Steven Spielberg nem Tony Kushner ganharam uma estatueta dourada enquanto, respectivamente, realizador e argumentista de ‘Lincoln’ - este proporcionou, contudo, prêmios a Daniel Day-Lewis (melhor ator) e a Jim Erickson e a Rick Carter (desenho de produção). E porquê? Porque apoiantes de um partido racista não merecem fazer um filme sobre o homem que aboliu a escravatura nos EUA, quanto mais serem distinguidos por ele. Kushner, em especial, pelo que é, pelo que pensa e pelo que diz, mostrou ser uma pessoa particularmente desprezível e indigna de respeito. E incompetente: a película mostra os então representantes do Connecticut a votarem contra a 13ª Emenda, o que na realidade não aconteceu. Já se sabe, e já se espera, que Hollywood tome algumas liberdades com a História… mas convém não abusar e não exagerar.
Octávio dos Santos, jornalista, edita o blog Obamatório.
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