Jornalista Andrade Junior

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O que trará o Ano Novo



O penhasco fiscal significa, acima de tudo, que a Pax Americana está chegando ao fim. Assim, a Ásia e a Europa estão destinadas a retomar suas velhas rivalidades.

O tempo tem o hábito de passar – e aqui estamos ao final de mais um ano. Em suas Meditações, o imperador romano Marco Aurélio escreveu: “O tempo é como um rio. Assim que alguma coisa é vista nele, logo essa coisa é levada embora para dar lugar à outra”. Arthur Schopenhauer disse: “O tempo é o lugar onde todas as coisas morrem”. Hoje a noite comemoramos a passagem de mais um ano; e então nos perguntamos: o que o Ano Novo trará?

O Presidente Obama disse que colocará “toda a sua influência” na política de controle de armas – enquanto isso, ele culpa o Congresso pelo iminente penhasco fiscal. O Senador Joe Manchin (democrata do estado da West Virginia) colocou em pauta um projeto de lei que supostamente “suaviza” a passagem pelo penhasco fiscal; além disso, o Presidente da Câmara dos Representantes, John Boehner (republicano de Ohio), emitiu uma nota em resposta ao Presidente Obama, onde ele diz que os “republicanos fizeram todos os esforços para alcançar um déficit ‘balanceado’ conforme o presidente prometeu ao povo americano. Entretanto, o presidente insistiu continuamente em um pacote dramaticamente enviesado em favor do aumento de impostos que destruiriam postos de trabalho.”
Algumas coisas podem ser ditas a respeito do ano vindouro. Primeiramente, uma significante porção dos cortes do orçamento dos EUA foi direcionada aos gastos com defesa, ou seja, os Estados Unidos estarão menos seguros, não importa o quanto se repita o contrário. É esperado um corte de US$ 54,7 no orçamento do Pentágono apenas para o ano fiscal de 2013. Adicionado a isso, programas vitais de defesa serão eliminados, pois serão colocados em conflito direto com programas sociais “necessários”. Por exemplo, será alegado que Washington terá de cortar US$ 11.1 bilhões do Medicare para pagar as inspeções do nosso arsenal nuclear que apodrece.
Dada a mentalidade dos Estados Unidos nos dias de hoje, o Medicare certamente triunfará sobre as armas nucleares. Então se prepare para um mundo sem um desencorajador e confiável arsenal nuclear americano (que já vem perdendo sua confiança pelos últimos três anos). Enquanto isso, o Irã e a China estão trabalhando para produzir armas nucleares como salsichas e a Rússia acionou submarinos silenciosos. A América não vai conseguir manter-se par com a Rússia ou com a China. É uma questão de realidade financeira e política.  É uma realidade que os líderes do Japão e da Alemanha deveriam se preocupar.
No Extremo Oriente a China e o Japão aparecem como inimigos. A batalha sino-japonesa pela Ásia, interrompida em 1945 pelo bombardeio atômico ao Japão, está agora renovada e pronta para começar de novo. O poderio americano já foi ignorado, como se os EUA sequer estivessem lá. Aqui encontramos uma expectativa, uma previsão e um pensamento. O penhasco fiscal significa, acima de tudo, que a Pax Americana está chegando ao fim. Assim, a Ásia e a Europa estão destinadas a retomar suas velhas rivalidades.
Enquanto essas coisas acontecem, a crise financeira europeia pavimenta o caminho para o ressurgimento do nacionalismo, do fascismo e do socialismo linha-dura. O que aconteceu na Grécia foi apenas um antegosto – economica e politicamente falando. O espantoso progresso eleitoral do movimento Aurora Dourada sob o slogan “Grécia para os gregos” nos dá um vislumbre do futuro.  Com a morte do então encarcerado vice-Führer – Rudolf Hess – em 1987, os membros da Aurora Dourada distribuíram proclamações que diziam “Rudolf Hess imortal”. Hoje a Aurora Dourada tem 18 cadeiras no Parlamento grego. É inevitável que esse número aumente. Mas por que – você me pergunta – isso é algo inevitável? Porque a situação econômica piorará em 2013 conforme as soluções erradas forem sendo repetidamente aplicadas. Assim, parece que os líderes da nossa civilização não sabem como manter o que lhes foi legado. Eles estão equipados com ideologias superficiais, slogans superficiais e (Deus os ajude) estão sem dinheiro. Assim como na Revolução Francesa, o descuido não é apenas uma questão financeira.
Aqueles que esperam que as fórmulas políticas de última hora se mantenham em voga falharam em ler sua própria história. Nenhuma ideologia se mantém no poder para sempre. O politicamente correto de hoje será açoitado amanhã. Todas as coisas derrocam e todos os sistemas se tornam senis. “O tempo é como um rio” escreveu Marco Aurélio. “Assim que alguma coisa é vista nele, logo essa coisa é levada embora para dar lugar à outra.”
Cícero disse: “Não há nada feito pelas mãos dos homens que [...] o tempo não destrói.”

Publicado no Financial Sense.

Tradução:
Leonildo Trombela Júnior

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