O penhasco fiscal significa, acima de tudo, que a Pax Americana está chegando ao fim. Assim, a Ásia e a Europa estão destinadas a retomar suas velhas rivalidades.
O tempo tem o hábito de passar – e aqui estamos ao final de mais um ano. Em suas Meditações, o imperador romano Marco Aurélio escreveu: “O tempo é como um rio. Assim que alguma coisa é vista nele, logo essa coisa é levada embora para dar lugar à outra”. Arthur Schopenhauer disse: “O tempo é o lugar onde todas as coisas morrem”. Hoje a noite comemoramos a passagem de mais um ano; e então nos perguntamos: o que o Ano Novo trará?
O Presidente Obama disse que colocará “toda a sua influência” na política de controle de armas – enquanto isso, ele culpa o Congresso pelo iminente penhasco fiscal. O Senador Joe Manchin
(democrata do estado da West Virginia) colocou em pauta um projeto de
lei que supostamente “suaviza” a passagem pelo penhasco fiscal; além
disso, o Presidente da Câmara dos Representantes, John Boehner
(republicano de Ohio), emitiu uma nota em resposta ao Presidente Obama,
onde ele diz que os “republicanos fizeram todos os esforços para
alcançar um déficit ‘balanceado’ conforme o presidente prometeu ao povo
americano. Entretanto, o presidente insistiu continuamente em um pacote
dramaticamente enviesado em favor do aumento de impostos que destruiriam
postos de trabalho.”
Algumas
coisas podem ser ditas a respeito do ano vindouro. Primeiramente, uma
significante porção dos cortes do orçamento dos EUA foi direcionada aos
gastos com defesa, ou seja, os Estados Unidos estarão menos seguros, não
importa o quanto se repita o contrário. É esperado um corte de US$ 54,7
no orçamento do Pentágono apenas para o ano fiscal de 2013. Adicionado a
isso, programas vitais de defesa serão eliminados, pois serão colocados
em conflito direto com programas sociais “necessários”. Por exemplo,
será alegado que Washington terá de cortar US$ 11.1 bilhões do Medicare
para pagar as inspeções do nosso arsenal nuclear que apodrece.
Dada
a mentalidade dos Estados Unidos nos dias de hoje, o Medicare
certamente triunfará sobre as armas nucleares. Então se prepare para um
mundo sem um desencorajador e confiável arsenal nuclear americano (que
já vem perdendo sua confiança pelos últimos três anos). Enquanto isso, o
Irã e a China estão trabalhando para produzir armas nucleares como
salsichas e a Rússia acionou submarinos silenciosos.
A América não vai conseguir manter-se par com a Rússia ou com a China. É
uma questão de realidade financeira e política. É uma realidade que os
líderes do Japão e da Alemanha deveriam se preocupar.
No
Extremo Oriente a China e o Japão aparecem como inimigos. A batalha
sino-japonesa pela Ásia, interrompida em 1945 pelo bombardeio atômico ao
Japão, está agora renovada e pronta para começar de novo. O poderio
americano já foi ignorado, como se os EUA sequer estivessem lá. Aqui
encontramos uma expectativa, uma previsão e um pensamento. O penhasco
fiscal significa, acima de tudo, que a Pax Americana está chegando ao fim. Assim, a Ásia e a Europa estão destinadas a retomar suas velhas rivalidades.
Enquanto
essas coisas acontecem, a crise financeira europeia pavimenta o caminho
para o ressurgimento do nacionalismo, do fascismo e do socialismo
linha-dura. O que aconteceu na Grécia foi apenas um antegosto –
economica e politicamente falando. O espantoso progresso eleitoral do
movimento Aurora Dourada sob o slogan “Grécia para os gregos” nos dá um
vislumbre do futuro. Com a morte do então encarcerado vice-Führer –
Rudolf Hess – em 1987, os membros da Aurora Dourada distribuíram
proclamações que diziam “Rudolf Hess imortal”. Hoje a Aurora Dourada tem
18 cadeiras no Parlamento grego. É inevitável que esse número aumente.
Mas por que – você me pergunta – isso é algo inevitável? Porque a
situação econômica piorará em 2013 conforme as soluções erradas forem
sendo repetidamente aplicadas. Assim, parece que os líderes da nossa
civilização não sabem como manter o que lhes foi legado. Eles estão
equipados com ideologias superficiais, slogans superficiais e (Deus os
ajude) estão sem dinheiro. Assim como na Revolução Francesa, o descuido não é apenas uma questão financeira.
Aqueles
que esperam que as fórmulas políticas de última hora se mantenham em
voga falharam em ler sua própria história. Nenhuma ideologia se mantém
no poder para sempre. O politicamente correto de hoje será açoitado
amanhã. Todas as coisas derrocam e todos os sistemas se tornam senis. “O
tempo é como um rio” escreveu Marco Aurélio. “Assim que alguma coisa é
vista nele, logo essa coisa é levada embora para dar lugar à outra.”
Cícero disse: “Não há nada feito pelas mãos dos homens que [...] o tempo não destrói.”
Publicado no Financial Sense.
Tradução: Leonildo Trombela Júnior
0 comments:
Postar um comentário