editorial do Estadão
Na segunda-feira passada, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles,
informou que o presidente Jair Bolsonaro concordou em manter o Brasil no
Acordo de Paris. Ainda
que haja oposição ao acordo por parte de integrantes do novo governo,
“por ora, a participação do Brasil está mantida”, afirmou Ricardo Salles.
É um recuo importante em relação a declarações anteriores de Jair
Bolsonaro sobre o tema. Além de representar uma inexplicável indiferença
com o meio ambiente, a saída do Brasil do Acordo de Paris traria graves
e imediatos danos econômicos e políticos ao País.
Durante a campanha eleitoral, Jair Bolsonaro defendeu várias vezes a
possibilidade de o País sair do Acordo de Paris, em linha com a posição
adotada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ainda no ano
passado, depois das eleições, o assunto voltou à tona com o anúncio do
governo brasileiro de retirar sua candidatura para sediar a 25.ª
Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP-25), a ser
realizada em 2019. Ao reconhecer que havia participado dessa decisão,
Jair Bolsonaro afirmou que existia a possibilidade de o País sair do
acordo do clima e não queria “anunciar uma possível ruptura dentro do
Brasil”.
No mês de dezembro, em transmissão ao vivo por redes sociais, Jair
Bolsonaro voltou a mencionar a possibilidade de o Brasil sair do acordo
relativo ao clima. “Vamos propor mudanças no Acordo de Paris. Se não
mudar, cai fora. Quantos países não assinaram? Muitos importantes não
assinaram, outros saíram. Por que o Brasil tem que dar uma de
politicamente correto? Nossa soberania jamais estará em jogo”, disse
Jair Bolsonaro na ocasião.
Agora, de acordo com o ministro Ricardo Salles, o presidente Jair
Bolsonaro admite a manutenção do País no Acordo de Paris. “As metas de
redução de emissão, que o Brasil e os outros países concordaram, estão
o.k. O problema é como você internaliza esses princípios e estes valores
na legislação do País. A nossa única preocupação é se esta legislação
restringe a liberdade e a ação de empreendedorismo e a gestão do
território. Vamos estar muito atentos a isso”, disse Ricardo Salles.
Resultado de longas negociações e concluído em 2015, o Acordo de Paris
compromete seus signatários a limitarem o aumento médio da temperatura
da Terra a 1,5ºC até 2100. Em vez de fixar metas predeterminadas, cada
país signatário comprometeu-se a elaborar sua própria estratégia de
redução das emissões de carbono, dentro do objetivo comum de reduzir o
aumento da temperatura global.
A assinatura de um acordo internacional não viola a soberania nacional,
como às vezes equivocadamente dão a entender membros do governo
Bolsonaro. Comprometer-se a cumprir um acordo internacional é, antes,
manifestação inequívoca da soberania do país signatário. No caso do
Acordo de Paris, ele foi assinado pelos 195 países-membros da ONU. Além
disso, a própria estrutura do acordo – sem metas predefinidas, com cada
país podendo definir sua estratégia específica para a redução de suas
emissões de carbono – é um evidente sinal de respeito às especificidades
de cada nação.
“Quem quer sair do Acordo de Paris é porque nunca exportou nada”, disse ao Estado, na semana passada, o engenheiro agrônomo Luiz Cornacchioni,
diretor executivo da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). “Em
muitas questões, não é preciso apenas ser sustentável – porque nós o
somos –, mas é preciso mostrar também. Muitas vezes, a gente perde
negócios por causa da imagem”, lembrou Luiz Cornacchioni.
Além de dispor de um moderno marco jurídico para o meio ambiente, que é
considerado verdadeira referência internacional, o Brasil tem conseguido
aliar excelentes índices de preservação ambiental – coisa rara nos dias
de hoje – com uma intensa e abundante produção agropecuária. O Brasil,
nesse campo, é modelo de sustentabilidade ambiental. Tendo alcançado
esse feito com muito esforço e investimento, seria um claro contrassenso
que o Brasil denunciasse o Acordo de Paris e se apresentasse à
comunidade internacional como inimigo do meio ambiente.
extraídaderota2014blogspot
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