Guilherme Fiuza: Epoca
O gigante enfim acordou. O grande dia demorou a chegar, mas valeu a
pena. A criatura paquidérmica e modorrenta espreguiçou-se com estilo,
lançou um olhar de sagacidade em direção ao nada e anunciou a descoberta
da origem de todos os seus problemas: Michel Temer.
Foi bonito, mas não pensem que foi fácil. Na verdade, nem teria sido
possível se não fosse a intervenção de um herói discreto, um humilde
homem do povo disposto a tudo para salvar a sua gente: Joesley Batista. Desde o lendário Luiz Inácio da Silva –
o filho do Brasil – não se via nesta terra alguém tão determinado a
sacrificar-se pelo bem comum. Talvez até já se possa dizer que o Brasil
tem dois filhos.
Ninguém ganhou tantas manchetes neste país em pouco mais de 30 dias
quanto o companheiro Joesley. Nada mais justo. Está faltando um
historiador corajoso o suficiente para constatar o óbvio: o Maio de 17
no Brasil foi mais revolucionário que o Maio de 68 na França. Daniel
Cohn-Bendit, o heroico líder das passeatas estudantis na França
conhecido como Dani Le Rouge, tende a sumir dos livros de história com a
consagração de Joesley Batista, o Jo Free-Boy. Cohn-Bendit nem exilado
foi. Já o nosso Free-Boy teve de se exilar em Manhattan, em plena
primavera nova-iorquina, jogado como um indigente em seu apartamento na
5ª Avenida, cercado por todos os lados de grifes milionárias e
opressoras.
Felizmente, Jo Free-Boy é um herói solitário, mas nem tanto. Alguns
estudiosos progressistas e humanitários asseveram que ele não seria nada
sem uma eminência parda também fadada a passar aos livros de história
como ícone da revolução de Maio de 17 no Brasil: Rodrigo Janot, o
Deixa-Que-Eu-Chuto. Graças aos chutes certeiros de Janot, em tabelinhas
sensacionais com Joesley (jogam por música), o Brasil descobriu que a
quadrilha de Michel Temer sequestrou e depenou o país por 13 anos –
mantendo gente inocente como Lula, Dilma, Dirceu e todos aqueles
tesoureiros simpáticos deles sob efeito de drogas pesadas, obrigados a
fazer papéis sórdidos. Desumano.
Mas agora tudo se esclareceu. Quem roubou o BNDES e passou mais de
década enfiando bilhões de reais na conta de Jo Free-Boy, na marra e sem
dar a ele a mínima chance de defesa, foi Temer. Quem obrigou José
Dirceu, por meio de tortura e choques elétricos, a reger na Petrobras o
maior assalto da história do Ocidente foi Temer. Todo mundo sabe que o
único parceiro de luta armada que tinha a chave da casa de Dirceu era
Temer. Uma violência.
E vejam só a desfaçatez: no que Temer assume a Presidência da República,
o que ele faz? Enxota todos os bandidos da Petrobras e de seu entorno,
põe para dirigir a companhia um executivo de primeira linha, inclusive
honesto, que vai lá e salva em tempo recorde a maior empresa nacional. É
muita cara de pau. Na guerrilha, chamavam isso de “fazer fachada”.
Mas não engana ninguém. Agora todos já sabem, depois de tanta polêmica,
que o tríplex do Guarujá é de Temer. O sítio de Atibaia também. Os
pedalinhos pertencem a Michelzinho – e aqueles nomes da família de Lula
pintados ali eram disfarce. Os Silvas na verdade eram empregados do
sítio, inclusive submetidos a trabalho escravo. Michelzinho ficou
milionário à sombra do pai – que o apelidou de Ronaldinho dos negócios –
quando todos sabem que talentoso mesmo para as finanças era Lulinha.
Mas esse continuou pobre, porque a quadrilha de Temer sabotou todas as
suas iniciativas. Antes de ser preso na Lava Jato, o pecuarista José
Carlos Bumlai cuidou pessoalmente de asfixiar a promissora carreira
empresarial do filho de Lula.
É tudo muito triste, mas Deus é brasileiro e agora estamos caminhando
para o final feliz. A receita do sucesso é simples, Brasil: não deixe de
apoiar, em hipótese alguma, os chutes da dupla Janot & Joesley. A
bola costuma ir à arquibancada, mas isso não tem problema, porque o juiz
Fachin sempre apitará gol. Entendeu? Pare com essa mania de
investigação, processo e outras frescuras pequeno-burguesas. Um país
moderno não pode ficar travado em burocracias.
Só falta erguer um monumento ao revolucionário desconhecido que tatuou
seu lema na própria testa: “Eu sou ladrão, vacilão e safadão, mas estou
livre porque tem um monte de otário pra acreditar em mim”.
extraídaderota2014blogspot
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