por Cláudia Costin Folha de São Paulo
Não é infrequente um aluno alegar dificuldades para não realizar tarefas
escolares. Houve um problema em casa, o bairro ficou alagado, a
comunidade foi invadida. Frente a esses problemas, verdadeiros e
desafiadores, bons professores procuram apoiar o aluno, mas não
isentá-lo de atividades que o farão desenvolver competências das quais
ele precisa para construir seu futuro.
As condições do aluno em situação de vulnerabilidade não são as ideais,
mas nem por isso cabe uma atitude de falsa piedade que o impeça de
aprender.
Acomodações e estratégias diferentes devem ser adotadas, mas nunca a
visão demagógica de que, para esse aluno, é melhor não demandar muito e
oferecer educação de segunda classe.
O mesmo se passa com os professores: as condições de trabalho do
professor no Brasil estão longe das ideais. O salário não atrai para a
profissão, o reconhecimento social é pequeno, por vezes ele é tratado
como vítima e não como um profissional, a infraestrutura das escolas é
precária, a formação inicial é insuficiente e os materiais instrucionais
são inadequados.
Nesse contexto, podemos ser levados à paralisia: já que as condições são
desfavoráveis, não cabe nenhuma melhora na educação antes que elas
sejam modificadas. Ao contrário, é justamente porque são ruins que cabe a
transformação, com as devidas acomodações dado o contexto em que se
atua.
Da mesma maneira que ajustes podem ser feitos para que o aluno mais
vulnerável possa ter a mesma educação de qualidade que seus colegas com
menores desafios, o professor pode adaptar sua forma de atuar, embora
com resultados não ideais, a contextos de trabalho eventualmente
inadequados e, ao mesmo tempo, cobrar melhorias.
Transformações em educação só funcionam bem se forem sistêmicas. Há que
atuar em diferentes áreas da política educacional ao mesmo tempo e não é
possível esperar as condições evoluírem substancialmente numa área
antes de abordar gargalos existentes em outra. É importante adotar uma
Base que norteie os currículos, preparar materiais instrucionais e
capacitar docentes com base neles, enquanto se busca melhorar a
atratividade da profissão (aí incluídos salários, carreiras e condições
de trabalho) e mudar a formação inicial do professor.
É uma tarefa gigante que demandará muitos anos, mas, enquanto ela se
desenvolve, a presente coorte de alunos está na escola e precisa
aprender, mesmo que em condições subótimas. Cabe a cada professor,
gestor de sistema e diretor de escola se empenhar para garantir o
direito de aprender de cada criança e jovem; cabe igualmente aos
governantes não destruírem os sonhos de futuro das novas gerações de seu
país.
extraídaderota2014blogspot
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