Editorial do Estadão:
Nos últimos anos, o equilíbrio de forças determinado pela criação de novas legendas provocou várias alterações casuísticas tanto na Constituição como na lei ordinária. No que se refere à troca de partidos, os parlamentares querem agora mais liberdade: a antecipação da “janela” de transferência para este segundo semestre e que sua adesão à nova legenda conte para efeito de distribuição do fundo eleitoral. Cabe a pergunta: no que essas duas modificações contribuirão para algo mais do que a conveniência de parlamentares convencidos de que só a troca de partido poderá viabilizar sua reeleição e de lideranças partidárias ansiosas para acumular poder com o aumento artificial de suas bancadas?
Como informou o Estado, o acordo para a decretação do novo casuísmo já foi fechado em Brasília para ser votado no Congresso assim que acabe o recesso, em agosto. Após reunião realizada na terça-feira passada na casa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), um dos participantes, o deputado Danilo Forte (PSB-CE), tentou explicar o que passa pela cabeça de seus pares: “A reforma política vai antecipar para setembro ou outubro a ‘janela’. Há um inconformismo muito grande tanto em bancadas da base aliada quanto da oposição”.
Isso que Forte diz fazer parte da “reforma política” implica, além de mais um deplorável casuísmo, aquilo que o relator da reforma na Comissão Especial da Câmara, o petista Vicente Cândido (SP), definiu como “mercantilização dos mandatos”. Autor da indecorosa “Emenda Lula”, Cândido perdeu a autoridade moral para propor o que quer que seja depois de ter tentado blindar a candidatura presidencial do dono do PT. Mas a “mercantilização” a que ele se refere já ocorreu em 2013, quando foram criados novos partidos, como o Pros e o Solidariedade, e deputados envolvidos em troca de legenda negociaram o direito a parte dos recursos adicionais do fundo partidário.
De acordo com as regras atuais, a divisão dos recursos públicos do Fundo Partidário para financiamento de partidos e candidatos tem como critério apenas o número de votos conquistados por cada legenda na eleição anterior à Câmara dos Deputados, reservados 5% para serem igualmente divididos entre todos os partidos. Agora, as maiores legendas, que acreditam que serão as maiores beneficiadas com as transferências partidárias que estão sendo negociadas, estão pressionando, segundo o jornal Valor, para que seja adotado um modelo híbrido em que 49% dos recursos sejam divididos de acordo com os votos conquistados em 2014 para deputado federal; 15% levando em conta o tamanho atual de cada bancada no Senado; 34% obedecendo ao mesmo critério na Câmara; e 2% rateados entre todas as legendas. Diante de cálculos tão imaginosos, é compreensível que os parlamentares não tenham disposição para trabalhar em propostas que contribuam para uma reforma política digna do nome.
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