editorial da Folha de São Paulo
Aposentadorias privilegiadas para servidores públicos não são invenção
brasileira, mas, ao que tudo indica, aqui a prática tomou proporções
raras no mundo.
Uma contribuição oportuna a respeito do tema encontra-se em estudo
publicado recentemente pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea), de autoria dos pesquisadores Rogério Nagamine Costanzi e
Graziela Ansiliero.
O trabalho examina reformas previdenciárias conduzidas nos 35 membros da
OCDE, entidade que congrega países de desenvolvimento mais avançado.
Boa parte delas destinou-se a aproximar os benefícios dos setores
público e privado —como o Brasil, sob intensa resistência das
corporações estatais, vem tentando fazer.
Atualmente, conforme o levantamento, apenas quatro nações da organização
(Alemanha, França, Bélgica e Coreia do Sul) mantêm regimes inteiramente
separados para seus servidores civis, a exemplo do modelo brasileiro.
Em 17 países, as regras são as mesmas para todos os trabalhadores
(excluídos militares); em outros 14, há arranjos intermediários.
A diferenciação de normas tem raízes históricas. Os funcionários do
Estado foram, em geral, os primeiros a receberem aposentadorias, como já
ocorria em grande parte da Europa Ocidental no século 19. Os regimes
previdenciários para os empregados na iniciativa privada só se
disseminariam no século seguinte.
Aqui e agora, a discrepância se mede em cifras impressionantes. União,
Estados e municípios gastam o equivalente a 3,9% do Produto Interno
Bruto com cerca de 3,6 milhões de servidores inativos e seus
pensionistas.
Já o INSS, que atende os demais trabalhadores, desembolsa pouco mais de 8% do PIB com uma clientela de quase 30 milhões.
Os dois montantes são elevados para os padrões internacionais, mas o
primeiro supera até mesmo os observados em países ricos. Embora
diferentes metodologias de cálculo não permitam comparações precisas,
não se conhece na OCDE uma despesa tão elevada com funcionários
públicos.
É inadmissível, portanto, que a reforma do sistema previdenciário
nacional deixe de lado, em nome do pragmatismo político, o objetivo da
igualdade de regimes.
Se a proposta em tramitação no Congresso for reduzida à imposição de uma
idade mínima para a aposentadoria, como se cogita, haverá ainda
vantagens orçamentárias. Não será possível afirmar, entretanto, que
houve grande avanço na busca de equidade.
extraídaderota2014blogspot
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