J.R. Guzzo: Publicado na edição impressa de VEJA
Em nenhum momento, desde o primeiro dia de seus problemas com a Justiça Criminal, Lula preocupou-se em apresentar uma defesa baseada em argumentação jurídica, como faz qualquer réu acusado de um crime. Declarou, logo de cara, que era um “perseguido político”. Achou que podia resolver o seu problema fazendo acusações contra o juiz, os promotores e o sistema judiciário em geral, como se os réus fossem eles. Não respondeu a nenhuma das acusações que recebeu — não com algum fato concreto ou verificável. Imaginou que “tribunais internacionais”, por algum milagre legal, iriam substituir Sérgio Moro e absolvê-lo dos crimes pelos quais acabou condenado — e muita gente boa levou essa palhaçada perfeitamente a sério. Seus advogados desrespeitaram abertamente o juízo e tentaram o tempo todo tumultuar o andamento do processo com chicanas, provocações e muitas das piores práticas da profissão legal. Acostumado a meter medo em tucanos, que vivem em pânico de contrariá-lo, Lula levou um susto quando ficou cara a cara com Moro e descobriu que não havia a menor possibilidade de assustar o moço de 44 anos que o interrogava; chegou ao fim da audiência em estado de desmanche. Pensou, também, que os exércitos do MST, da CUT, dos sem-teto etc. iriam encher as ruas com multidões em sua defesa; não aconteceu nada. Cansou de repetir que só estava sendo processado porque “eles não querem que eu ganhe as eleições de 2018”. Eles quem? Não colou. Finalmente, deu o assunto por resolvido de uma vez declarando que tinha “provado” a sua “inocência”. Convenceu o PT e os militantes, mas não convenceu quem realmente precisava ser convencido — o juiz.
O Brasil fica melhor com a condenação de Lula. Sempre é problemático dizer que alguma coisa melhorou quando se vê o espetáculo deprimente oferecido todos os dias por uma porção tão grande da máquina judicial brasileira — ou com a impunidade que continua a beneficiar tantos criminosos com poder e dinheiro. O que dizer de um país em que o procurador-geral da República, com o apoio do Supremo Tribunal Federal e de maneira até agora inexplicável, presenteia com o perdão perpétuo um criminoso bilionário que confessa mais de 200 crimes — uma aberração que não tem paralelo em nenhuma sociedade civilizada? Algo está errado quando o ex-presidente toma mais de nove anos de prisão no lombo e os Joesley desse país recebem medalhas de honra ao mérito. Mas é fato que o Brasil, desde a sentença, ficou mais longe da Venezuela. Na véspera, o país sonhado por Lula e pelo PT apareceu com a sua verdadeira cara, mais uma vez, quando um amontoado de senadoras rasgou as leis em vigor e quis proibir, com um ato de selvageria, que o Senado votasse a reforma trabalhista. Perderam, porque a sua disposição revolucionária durou apenas seis horas, o tempo de validade de uma quentinha. Elas e outros tantos continuarão, é claro, tentando virar a mesa depois da condenação do chefe — mas seu projeto, agora, vai dar mais trabalho do que gostariam.
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