editorial do Estadão
Deixar para trás a recessão, mesmo com a economia em marcha muito lenta,
é hoje uma ambição razoável, mas será preciso um avanço muito maior
para o País se juntar ao grupo dos emergentes dignos desse nome. Para
crescer 5% ao ano, acima de seu desempenho na última década, mas ainda
abaixo do padrão das economias dinâmicas da Ásia, o Brasil precisará
elevar sua poupança estrutural de 16% para uns 22,5% do Produto Interno
Bruto (PIB) e o investimento para uns 25% ou 26%. Será um esforço bem
maior que o necessário a países como Chile, Colômbia, México e Peru,
segundo uma análise recém-divulgada pela agência de classificação de
crédito Standard & Poor’s (S&P). O aumento da poupança interna
será essencial para permitir um maior dinamismo sem excessiva
dependência de capitais estrangeiros. Poupança externa pode reforçar o
crescimento, mas a dependência em excesso pode converter-se em
armadilha.
O Brasil poupa e investe bem menos que outras economias
latino-americanas e isso tem-se refletido num desempenho econômico bem
mais fraco. Entre 2004 e 2016, o investimento nominal das seis maiores
economias da região, incluída a brasileira, ficou em 21,5%. A do Brasil
foi quase sempre inferior a 20%. Em 2016, a taxa nominal brasileira
limitou-se a miseráveis 15,4%, enquanto as de Chile, Colômbia, México e
Peru ficaram entre 22,5% e 25,5%. As taxas estruturais, estimadas para
condições de pleno emprego, situaram-se entre 19,9% para o Brasil e
27,7% para a Colômbia. A Argentina é o único país do grupo com números
piores que os brasileiros.
Investir mais e elevar a eficiência do capital investido é recomendação
geral, mas especialmente importante para as duas economias com cifras
piores. Poupar mais é condição para aumentar o investimento em condições
seguras e isso, de modo geral, dependerá de melhor resultado das contas
públicas. A prescrição ganha obviamente importância especial no caso do
Brasil, por causa da situação dramática das finanças governamentais.
É preciso realçar esse ponto. Não se trata de consertar as finanças
governamentais apenas (se couber esta palavra) para atender a um
critério contábil, para ceder a pressões do mercado financeiro ou para
cumprir um rito de inspiração neoliberal. Nada disso. O ajuste das
contas públicas é essencial para o aumento da poupança interna e,
portanto, para uma expansão segura do investimento em máquinas,
equipamentos, obras de infraestrutura e construções para fins
empresariais.
É essencial, em outras palavras, para o aumento do potencial produtivo e
da capacidade de crescimento econômico. Disso depende a criação de
empregos. Mantras ideológicos são insuficientes para produzir efeitos
materiais como o reforço da capacidade produtiva.
Para o Brasil, o potencial de crescimento está limitado a 2,8%, segundo a
S&P. Outras fontes apontam números menores, mais próximos de 2%. De
toda forma, indicam uma capacidade de crescimento sustentável muito
menor que a de outras economias emergentes.
Como se nada disso tivesse algum significado, parlamentares continuam
estraçalhando as finanças públicas. O projeto do novo Refis, concebido
para proporcionar R$ 13,8 bilhões de receita ao Tesouro neste ano, foi
desfigurado e quase inutilizado – e isso é apenas parte da orgia de
irresponsabilidade fiscal em Brasília.
Enquanto isso, a recuperação apenas iniciada continua em marcha lenta e
aos tropeços. Em maio, a atividade econômica recuou 0,9% em relação a
abril, segundo o Monitor do PIB da Fundação Getúlio Vargas. A notícia
positiva aparece no crescimento de 0,7% na comparação com maio de 2016. O
mesmo relatório, no entanto, mostra um novo recuo do investimento em
capital físico, no confronto com o ano anterior. Outro dado positivo, o
saldo de 67,36 mil empregos formais criados no primeiro semestre, também
sustenta algum otimismo, até porque a indústria de transformação
contribuiu com 27,78 mil. Mas esses ganhos só se consolidarão com
decisões prudentes e decentes na Praça dos Três Poderes. Não é fácil
apostar nisso.
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