por Luiza Santelli Mestieri Duckowrth O ESTADO DE SÃO PAULO
Para os “cooperados” da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São
Paulo (Bancoop), a prisão do João Vaccari Neto, ex-presidente da
cooperativa, talvez seja o início da aplicação da Justiça.
Para estas famílias, a administração foi ruinosa.
Em novembro de 2004, com a morte dos dirigentes Luiz Eduardo Saeger
Malheiro, Alessandro Robson Bernadino e Marcelo Rinaldo, em acidente até
hoje sem explicação, ocorreu a escolha de João Vaccari Neto, até então
diretor administrativo financeiro, para o cargo de presidente da
Bancoop.
Foi aí que começou o pesadelo dessas famílias. Vaccari passou a impedir
os cooperados de entrar em assembleia, começou a manda e desmandar
criando valores de “Reforço de Caixa” e aprovação de contas, sem a
presença dos “cooperados”. Nessas manobras, ele era assessorado pela
administradora financeira e pela advogada, ambas da Bancoop e
denunciadas.
Em decorrência disso, Vaccari, a advogada da Bancoop Leticia Archur
Antonio, a diretora financeira e administrativa da cooperativa Ana Maria
Ernica, os falecidos e outros gestores da Bancoop, foram denunciados
como um bando, uma quadrilha, por crimes como estelionato (artigo 171
CP), apropriação indébita (artigo 168 do CP) e falsidade ideológica
(artigo 299).
De acordo com denúncia, de 1999 até 2009 ocorreu a formação dessa
quadrilha com a prática de crimes contra o patrimônio da cooperativa.
Estes crimes, na realidade, foram cometidos contra milhares de famílias,
cujo sonho em comum era a aquisição da casa própria.
As denunciadas Ana Maria Ernica e Leticia, apesar de farta documentação
que comprova práticas administrativas questionáveis, continuam em suas
funções na Bancoop – a primeira como administradora financeira e a
segunda como advogada.
Vaccari deixou a presidência da Bancoop para exercer a função de
tesoureiro nacional do PT – isto quando já existia a indicação de
irregularidades financeiras, que incluíam investigação sobre desvios de
mais de R$ 100 milhões dos cofres da Bancoop. Mas fez questão de criar
mais problemas aos cooperados antes de sair.
Hoje, os cooperados da Bancoop sofrem ainda as consequências da má
administração. Diferentemente do que Vaccari afirmou em entrevista
recente, a questão Bancoop não foi resolvida. Todos os problemas e
irregularidades da Bancoop foram acrescidos a novos problemas criados
pela OAS, sucessora em diversos empreendimentos da cooperativa.
Grande parte destas famílias não tem escritura de propriedade de suas
unidades e estão tendo de ingressar na Justiça, porque Vaccari assinou
diversos documentos de cessão dos empreendimentos da Bancoop para a OAS,
acordando que os “cooperados” teriam de se desligar da Bancoop, pagar
15% do valor do imóvel à cooperativa e assinar um novo contrato com a
OAS. Pelo acordo firmado por Vaccari, o valor pago à cooperativa,
descontados os 15%, seriam aproveitados pela OAS, que venderia os
imóveis aos próprios cooperados por um novo valor. Se os cooperados não
fizessem isso, seriam eliminados e perderiam seu imóvel, pois a OAS era a
proprietária dos imóveis, e não as famílias que haviam quitado há anos.
Em alguns casos, a quitação havia ocorrido cinco anos antes da cessão
do empreendimento.
Ou seja, além de ter sido acusado e denunciado de desvio da ordem de R$
100 milhões do dinheiro da casa própria de diversas famílias, ele ainda
obrigava estas famílias a pagarem algo em torno de 15% para a Bancoop.
A denúncia criminal do Ministério Público Estadual aponta que a
cooperativa movimentou um total de R$ 248,7 milhões no período
compreendido entre 17/12/2002 e 29/05/2008. Portanto, aplicando mais
15%, teremos a ideia do montante.
Diversos empreendimentos ficaram inacabados, apesar de os cooperados
terem pago a totalidade do contrato de compra e venda. Estas pessoas só
têm uma vontade: ver Vaccari ser condenado com a pena máxima permitida
em lei. Enquanto isto não ocorre, lutam no Judiciário para terem as
escrituras de quitação e registrá-las nas matrículas do imóvel, para,
então, terem a tão sonhada propriedade.
Vaccari tornou-se um pesadelo na vida de milhares de famílias, que só querem uma coisa: JUSTIÇA.
* Luiza Santelli Mestieri Duckowrth, advogada
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