por Dora Kramer O Estado de São Paulo
Aos 35 anos de idade, o PT está com medo de morrer. Vítima de inanição
eleitoral, caso as coisas não melhorem para o lado do partido e o
ex-presidente Luiz Inácio da Silva não seja candidato à Presidência em
2018.
E por “coisas” entendam-se circunstâncias econômicas, políticas, sociais
- por consequência, eleitorais - favoráveis a uma possibilidade
concreta de vitória. Lula avisou e o partido já entendeu (isso inclui a
gama de legendas aliadas à esquerda) que não embarcará em causa perdida
nem em bola dividida. Sacrifício inadmissível para quem saiu do poder no
auge.
Nesse clima o PT realiza nesta semana seu 5º congresso nacional, de 11 a
13 de julho, em Salvador (BA), ciente de que vislumbra a aproximação do
precipício. É forte o termo? Pois o porta-voz da expressão é
parlamentar e dirigente do partido. Legenda cuja trajetória desde 1980
vinha sendo ascendente e agora, pela primeira vez, toma o rumo contrário
correndo o risco de entrar por um caminho sem volta.
A “construção das condições de vitória” em 2018 é o pano de fundo dos
embates do partido com o governo da presidente Dilma Rousseff. É também a
razão de todas as críticas às medidas de ajuste fiscal e ao
“estelionato eleitoral” que não incomodou ao PT quando o que estava em
jogo era ganhar a eleição de 2014. Bem como motiva teses e posições a
serem debatidas no congresso entre as diversas variantes de petistas.
Há os ideológicos, que ensaiam um discurso sobre reformulação de conduta
tendo como linha a retomada dos princípios éticos a fim de reconquistar
o eleitorado “de raiz”. Prevalecem, contudo, os pragmáticos. Estes só
pensam na produção de algum ambiente confortável que melhore o humor
daquele tipo de eleitor/consumidor.
Na realidade, a preocupação central é com o efeito politicamente
depressivo de uma possível recessão. Basta ver que enquanto a economia
ia bem, a direção do PT não se dedicou às questões de conduta. Ao
contrário, as ignorou e defendeu os seus que foram réus. Portanto, a
questão em foco não é a correção dos erros cometidos. Em aspecto algum.
O objetivo é, mais uma vez, encontrar uma maneira de criar artifícios
pelos quais o governo (para beneficiar o partido) convença as pessoas de
que vai tudo bem e que remédios amargos não são fruto da necessidade
fática criada pelo próprio governo. Nesta versão, produto da visão
“equivocada” de um representante de Satã no ministério da Fazenda.
O problema em tal equação está no enunciado: Se Lula é a solução, foi
Lula quem inventou Dilma, a presidente que desestruturou a economia,
cujo ‘reconstrutor’ seria Joaquim Levy por indicação de Lula, que posa
como se não tivesse nada com isso e ainda é tido por seus seguidores
como o salvador da pátria petista.
Ver para crer. Há dois pré-requisitos a serem cumpridos antes de se
comprar pelo valor de face essa proposta dos presidentes da Câmara e do
Senado de submeter as estatais ao controle do Congresso, com a
finalidade de melhorar a transparência e a governança nas empresas.
Antes de qualquer coisa é preciso que o projeto “ande”. Por ora o que se
tem é a criação de uma comissão para estudar o assunto e a impressão de
que se trata de mais um lance na batalha de demonstração de força ante o
Palácio do Planalto para impressionar a arquibancada, distraída do fato
de o deputado Eduardo Cunha e o senador Renan Calheiros serem
investigados na Operação Lava Jato.
Caso a tramitação prossiga, um artigo nessa espécie de novo código de
conduta será imprescindível: partidos e políticos abrem mão de
indicações para cargos de quaisquer das instituições incluídas no
projeto, onde o mérito passará a valer como critério único para
nomeações. É isso ou estarão automaticamente revogadas todas as
disposições em contrário.
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