por Bernardo Mello Franco Folha de São Paulo
A denúncia do mensalão fez dez anos. A corrupção ainda domina o
noticiário político. As campanhas continuam a ser abastecidas com
dinheiro das estatais. Gente de quem o leitor não compraria um
velocípede usado permanece à frente de altos cargos da República.
É inevitável pensar que o Brasil mudou menos do que deveria. Em 2005,
quando o pagamento de mesada a parlamentares vinha à tona, um escândalo
muito maior era gestado na Petrobras. Outros casos brotam diariamente
nos Estados, prefeituras, câmaras e assembleias. Isso acontece porque a
impunidade continua a ser regra, não exceção.
Houve algum avanço. O Supremo Tribunal Federal mandou políticos
poderosos para a cadeia no julgamento do mensalão. Agora terá a chance
de fazer o mesmo no petrolão. Também há ameaças de retrocesso. Acusados
da Lava Jato tentam intimidar o Ministério Público para frear as
investigações. Se funcionar, teremos andado para trás.
Outro sinal preocupante é a repetição de personagens nos dois esquemas,
como os ex-deputados José Janene, já falecido, e Pedro Henry, que voltou
a ser preso. O ex-ministro José Dirceu também reapareceu no escândalo
petroleiro. Ao mesmo tempo em que era julgado pelo mensalão, recebia
como consultor de empreiteiras sob suspeita.
O que deu errado? O ex-deputado Roberto Jefferson sugere que nada será
resolvido sem uma mudança no sistema. Uma década após a entrevista a
Renata Lo Prete, ele deixa claro que a corrupção continua na engrenagem
da máquina eleitoral.
"Quem financia campanha no Brasil são as empresas que têm grandes contratos com BNDES, Banco do Brasil, Petrobras", disse à Folha, neste sábado (6). "Os empreiteiros são braços das estatais. É aí que está o caixa de toda eleição."
Enquanto isso não for enfrentado, ficaremos com a sensação incômoda de que as coisas só mudam para permanecer como estão.
extraídaderota2014blogspot





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