Cel Weslei Maretti
Os exércitos usam divisas e insígnias para identificar hierarquicamente
os militares. As divisas são utilizadas pelos praças e usadas no braço porque o
braço é o símbolo da força, da ação; são os praças que constituem a
força viva de qualquer exército e são a massa que impõe a vitória
sobre o inimigo. Os oficiais usam as insígnias sobre os ombros porque os ombros
simbolizam a responsabilidade. O maior atributo de um oficial é ser responsável
em razão do exercício do comando. É impossível ser um bom comandante se o
oficial não for responsável por suas atitudes e não se sentir responsável pelo
destino de seus comandados. Assim, sobre os ombros de um oficial pesa a
responsabilidade de bem conduzir seus comandados.
A
morte em ação de um militar não pode ser um fato espantoso ou que cause grande
comoção. Apesar da dor da perda de um companheiro de armas, ao ingressar no
Exército o militar presta um compromisso de dedicar-se inteiramente ao serviço
da pátria cuja honra, integridade e instituições deve defender com o sacrifício
da própria vida. Assim, a morte é, em última instância, inerente à atividade
militar.
No
dia 26 de novembro, o cabo do Exército Michel Augusto Mikami, de 21 anos,
foi morto em um confronto com marginais na favela da Maré. A sua morte pode ter
sido causada pelo emprego inadequado e irresponsável das tropas do Exército em
favelas do Rio de Janeiro. Essa prática de ocupação de favelas de forma
continuada iniciou no governo do governador Sergio Cabral e por determinação do
Presidente Lula. O governador não teve vergonha de reconhecer que seu governo
era incapaz de controlar a criminalidade por não ter recursos humanos e
materiais para cumprir uma obrigação de seu governo. É bom lembrar que essa
mesma autoridade, frequentou as manchetes por ter sido acusado de ligações
espúrias com empresários que assaltavam o Estado com licitações fraudulentas.
Assim, os recursos públicos, aparentemente, estavam sendo empregados de forma
pouco republicana, e o governador não se sentiu envergonhado de demonstrar a
sua incompetência e passar a responsabilidade da manutenção da ordem pública em
favelas conturbadas às forças federais.
Esse
acordo entre políticos que buscavam atingir interesses pessoais e partidários é
até compreensível em um país como o Brasil que o interesse público,
normalmente, não é o que prevalece. O mais grave é que os comandantes da Força
Terrestre deixaram de realizar o emprego da tropa como uma força de combate e a
transvestiu em forças policiais. Começou com a denominação idiota de
Força de Pacificação. Força de Pacificação é como as tropas da ONU são
denominadas porque atuam em países em conflito onde não tem soberania. Caso
haja o insucesso nessa missão, como na maioria das vezes acontece, a Força de
Pacificação se retira. Não é o caso do Rio de Janeiro onde o que se busca é o
restabelecimento da soberania porque o Estado perdeu a capacidade de exercer o
controle de determinadas áreas.
As
Forças Armadas são empregadas como o último recurso do Estado se falharem resta
somente a contratação dos Blackwater, forças mercenárias norte-americanas. Como
última medida de força, seu emprego deve ser feito em um período pequeno
buscando, como em qualquer operação militar, a utilização dos princípios de
guerra. Dentre esses princípios pode-se destacar como imprescindíveis para o
sucesso de uma operação dessa natureza o emprego da surpresa, da segurança, da
massa, da manobra r da unidade de comando. Parece que nada disso foi feito. O
que se viu noticiado na imprensa foi um patrulhamento por frações sem que haja
uma ação de massa contra os marginais. Não se observa o comando unificado sobre
as forças policiais estaduais, o emprego dos meios governamentais de
implementação de ações públicas ligadas ao ensino, saúde, limpeza urbana e
obras de urbanização bem como um trabalho próximo das instancias judiciais e da
promotoria pública. O que faltou foi que os chefes militares dissessem a quem
deu a ordem para o emprego da Força Terrestre que a mesma seria
empregada como uma força militar e isso tem um custo. O
constrangimento à população, o risco de confrontos armados decorrentes
da pressão sobre bandidos seria inevitável. A área onde se dá o emprego militar
deve ser saturada para possibilitar a prisão de marginais ou a sua eliminação
física quando confrontarem a força de ocupação. A denominação mais apropriada
não é de Força de Pacificação e sim Força de Ocupação. Com certeza, frente a
uma Força de Ocupação o governo do Estado do Rio de Janeiro procuraria os meios
para acelerar a sua saída do seu território.
Parece
que o sangue do cabo Mikami deve ser depositado sobre os ombros de quem
empregou o Exército de forma tão leviana que possibilitou que um grupo de
marginais não temessem o confronto com o Exército. A morte do cabo Mikami,
não foi uma fatalidade foi resultado do mau emprego da força militar. Muitas
vezes procura-se responsabilizar os generais pela atuação pouco combatente e
altiva do Exército mas todos os que estão na cadeia de comando tem a sua
parcela de culpa por não ter protestado, criticado e dito ao rei que o mesmo
estava nu.
Voltamos
à responsabilidade. Dentre todos aqueles para quem um oficial deve prestar
contas de seus atos é aos subordinados que essa responsabilidade é maior. A
vida dos mesmos depende de sua capacidade de decidir e empregar os seus homens.
Parece que muitos falharam e a consequência foi uma esposa viúva que se
transformou em chefe de família, um filho que vai crescer sem a proteção e a
condução de um pai e pais e irmãos que sentirão sempre a dor da perda de um
ente querido.
Cães
de guarda não são bem quistos porque podem trazer problemas para os
seus donos quando mordem mas impõem respeito a quem se aproxima dos mesmos.
Cachorros de madame são bonitinhos, graciosos, são sempre
apresentados como animais interessantes mas não trazem proteção aos seus donos.
É preciso optar em ser um cão de guarda ou um cachorrinho de madame.
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