O mito da presidente workaholic
Marco Antonio Villa
Ao longo dos últimos dois anos, os propagandistas de Dilma Rousseff
construíram vários figurinos, todos fracassados pela dura realidade dos
fatos. O último foi o da presidente workaholic. Trabalharia
diuturnamente, seria superexigente, realizaria constantes reuniões com
os ministros, analisaria detidamente os projetos e cobraria
impiedosamente resultados. Porém, os dados oficias da sua agenda,
disponibilizados na internet, provam justamente o contrário.
Em agosto despachou com 17 ministros. Um terço deles, apenas uma vez
(como Aldo Rebelo e Celso Amorim). Deu preferência a Paulo Sérgio
Passos, Gleisi Hoffman e especialmente para Guido Mantega, recebido 9
vezes. Se a a maioria deles não teve um minuto de atenção da presidente,
o mesmo não se aplica a Rui Falcão, presidente do PT, e até ao
presidente da UNE, Daniel Iliescu, que foram ouvidos a 9 e 22 de agosto,
respectivamente.
Dilma pouco se deslocou de Brasília. Numa delas foi a São Paulo, no dia
6. Saiu às 11h30m direto para o escritório da Presidência da República
na capital paulista, à época ainda sob a responsabilidade de Rosemary
Noronha. Dilma foi se encontrar com Lula. Passaram horas discutindo
política. Às 18h40m, retornou a Brasília. Foi a única atividade do dia.
Em setembro recebeu 14 ministros. Os mais assíduos foram os que
despacham no Palácio do Planalto (Miriam Belchior, Gleisi Hoffman e
Ideli Salvatti; as duas últimas, quatro vezes, e a primeira, três) e
Aldo Rebelo (Esportes), três vezes. Uma sequência de 12 dias com
pouquíssima atividade chama a atenção. No dia 5 recebeu um ministro
(Edison Lobão) às 9h e não há mais qualquer registro. No dia seguinte
trabalhou das 10h às 12h. E só. No feriado compareceu ao tradicional
desfile. Na segunda-feira, dia 10, só registrou duas audiências, uma às
10h e outra às 15h.
Dois dias depois, foi uma espécie de “quarta maluca”. A presidente teve
apenas dois compromissos e nenhum administrativo: às 15h, recebeu o
presidente do PCdoB, “o partido do socialismo”, Renato Rabelo, e uma
hora depois, mostrando o amplo arco de apoio do governo – e haja arco!
-, o megaempresário Jorge Gerdau. E mais nada. No dia seguinte
compareceu à posse de um ministro e ao lançamento de um programa de
incentivo do esporte de alto rendimento. Na sexta-feira (14), anotou na
agenda às 10h um despacho interno e rumou, no início da tarde, para
Porto Alegre, onde permaneceu o fim de semana e a segunda-feira – neste
dia visitando dois estaleiros.
Nada mudou em outubro. Despachou com 19 ministros. Fez uma breve viagem
ao Peru, visitou São Luís e São Paulo (duas vezes: uma delas novamente
ao escritório da Presidência da República e para mais um encontro com
Lula). Se muitos ministros, em três meses, não foram recebidos pela
presidente, o mesmo não ocorreu com Renato Rabelo. O presidente do PCdoB
teve mais uma audiência, a segunda em dois meses. Dilma teve tempo para
ouvir Fernando Haddad, prefeito eleito de São Paulo, no dia 29, e, dois
dias depois, o de Goiânia. Ambos do PT.
Curiosamente a agenda não registrou – caso único – onde a presidente esteve nos dias 27 e 28, fim de semana.
Dilma manteve em novembro sua estranha rotina de trabalho. Recebeu 15
ministros. Dois pela primeira vez, nos últimos 4 meses: Paulo Bernardo e
Antonio Patriota. Concedeu duas audiências a prefeitos eleitos: de
Niterói, Rodrigo Neves, do PT; e Curitiba, Gustavo Fruet, do PDT e
apoiado pelo PT. Fez uma longa viagem à Espanha e uma breve à Argentina.
Mas três dias se destacam pelas curiosas prioridades: 21, 22 e 23. Na
quarta-feira (21), a presidente não recebeu nenhum ministro e não
efetuou qualquer despacho administrativo. Dedicou o dia a José Sarney,
Gim Argello, Eduardo Braga e ao seu vice-presidente, Michel Temer.Como ninguém é de ferro, à noite assistiu o filme “O palhaço”. No dia seguinte, a agenda registrou três compromissos, um só com ministro (o dos Portos), a posse do presidente e vice-presidente do STF e um encontro com a apresentadora Regina Casé. E na sexta-feira? Somente duas audiências e no período da tarde.
Dilma incorporou o péssimo hábito de que o mês de dezembro é “de festas”. Fez duas viagens ao exterior (França e Rússia) e despachou com apenas 9 ministros. Antecipou o réveillon para o dia 28, suspendendo as atividades por 13 dias, até 9 de janeiro.
Iniciou o novo ano com a mesma disposição do anterior: pouquíssimos despachos, audiências ou reuniões de trabalho. Em janeiro, despachou com 11 ministros. Lobão foi o recordista: quatro vezes. E, por incrível que pareça, e sempre de acordo com a agenda oficial, concedeu pela primeira vez em um semestre uma audiência para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Melhor sorte teve o ex-jornalista Franklin Martins: esteve duas vezes, em apenas quatro meses, com Dilma.
Nesse semestre (agosto de 2012/janeiro de 2013), nove ministros – cerca de um quarto do ministério – nunca foram recebidos pela presidente: Marcelo Crivella, Aguinaldo Ribeiro, Garibaldi Alves Filho, Brizola Neto, Gastão Vieira, Maria do Rosário, Eleonora Menicucci, José Elito e Alexandre Tombini (presidente do Banco Central, mas com status de ministro). Outros não mais que uma vez. Uma reunião entre a presidente e alguns ministros de áreas correlatas nunca foi realizada. Em alguns dias (como a 16 de janeiro), não concedeu nenhuma audiência e nem efetuou despachos internos. Pior ocorreu duas semanas depois, a 30 de janeiro, uma quarta-feira: está sem nenhum compromisso. É uma agenda de uma workahloic?
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