Folha de São Paulo Ruy Castro
O STF entrou em recesso na sexta-feira (30) e só voltará no próximo dia
1º/8. Serão 30 dias difíceis para quem se habituou à transmissão de suas
sessões pela TV com a duração de, às vezes, 6 horas —em que o destino
do Brasil parece por um fio, até que um ministro "pede vista", a decisão
crucial vai para as calendas e o Brasil é obrigado a seguir seu destino
por conta própria.
Diante da naturalidade com que aprendemos a acompanhar essas maratonas
televisivas com Gilmar Mendes e grande elenco –sempre generosos diante
de criminosos inocentes–, pergunto-me se conseguiríamos resistir a
debates tão longos protagonizados por outras categorias.
Seria tolerável, por exemplo, uma sessão de 6 horas entre juízes de
futebol discutindo as regras do jogo para dirimir um lance mal explicado
ou uma acusação a um jogador? De repente, um juiz invoca a regra de
que, numa cobrança de pênalti, o goleiro deve estar com os pés em cima
da linha —mas, e se ele estiver com um dos pés dentro do gol e defender o
chute? Vale a defesa ou manda repetir? E se outro juiz, citando
parágrafos e incisos, remeter ao peso original da bola que, em 1900, se
media em onças —mas, se uma onça está entre 0,02 kg e 0,03 kg, como
estabelecer uma jurisprudência? Assim são as sessões do STF.
Será que suportaríamos 6 horas de médicos discutindo a cirurgia de
próstata de um paciente, com referências à possibilidade de
incontinência e sugestões de próteses para mitigar a de impotência? E se
for uma sessão de economistas dizendo que o mercado "está nervoso", a
Bolsa "despencou", o dólar "disparou" e o Estado precisa "enxugar os
gastos"?
Acho que não aguentaríamos nem 6 horas de chefs de cozinha falando de
molhos, temperos e sobremesas. A não ser que o assunto fosse receita de
marmelada.
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