Jornalista Andrade Junior

quarta-feira, 12 de julho de 2017

"O barbeiro da Papuda",

 por Ruy Castro Folha de São Paulo

O ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) chorou e suplicou que a Polícia Federal não lhe raspasse a cabeça ao trancafiá-lo na Papuda, em Brasília. Não adiantou. Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), ex-assessor especial do presidente Temer, também implorou ao ser preso que não o zerassem. Loures foi solto dias depois, mas tarde demais para sua crina —já tinha sido tosquiada. A tosa do empresário Eike Batista foi mais simples —bastou pescar-lhe a peruca. E a do ex-governador Sérgio Cabral teve mais efeito moral do que prático —não havia muito que remover.

Não que Geddel e Loures fossem portadores de vastas cabeleiras. Ao contrário, ambos já chegaram à idade em que morrem mil vezes mais fios do que nascem. O caso de Eike foi curioso: no alto da cabeça, ele tinha uma região raspada a navalha, para receber a cola que lhe prendia a peruca.

A raspagem de recém-chegados é de rotina, para evitar que infestem de piolhos os já presos. Você dirá que nenhum dos indigitados teria piolhos. É provável, mas sempre pode haver surpresas. O Geddel que deixou a cadeira do barbeiro, por exemplo, revelou-se quase sósia do cômico Jerry Howard (1903-1952), o Curly dos Três Patetas originais. Quem suspeitaria?

Para entender melhor o procedimento da polícia, consultei um conhecido coiffeur carioca. Ele me disse que a raspagem deve ter sido feita com máquina Wahl, americana, usando o pente nº 1, suficiente para deixar uma rala vegetação sobre o coco. Possivelmente, os presos tiveram também os pelos do nariz e das orelhas quitados —sabe-se lá onde se escondem os piolhos?

Por um instante, coloquei-me no lugar do barbeiro da Papuda. Aposto que, ao ver as fotos de Lula, Temer, Aécio e outros figurões dos inquéritos, ele deve imaginar como eles ficariam depois de passar por suas mãos.






















extraídaderota2014blogspot

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