por Aloisio de Toledo César O Estado de São Paulo
Velhos ensinamentos que nos acompanham desde a infância, desde a
adolescência, desde a universidade, de repente afloram em nossa mente
com surpreendente vigor e nos ajudam a tentar entender certos mistérios
da vida, em especial quando presentes interesses contrariados. Por
exemplo, a chicotada que o ex-presidente Fernando Henrique Cardozo deu
no prefeito de São Paulo, João Doria, dias atrás, acusando-o de fazer
sucesso porque manipularia as redes sociais o dia inteiro, faz lembrar o
que dizia G. W. Hegel, filósofo prussiano, a respeito da eterna luta
entre o velho e o novo, sempre com a vitória do novo.
Seguidor de Hegel, Karl Marx também repetia que na dialética é
inevitável a ocorrência da luta, que se dá em todo estágio de
desenvolvimento sempre entre o velho e o novo – e o novo inevitavelmente
triunfa. Assim, como o feudalismo vencera a escravidão, no inexorável
curso da História o socialismo substituiria o capitalismo e permitiria o
surgimento da sociedade sem classes e, numa etapa final, o
desaparecimento das diferenças nacionais.
Fernando Henrique encantava os alunos da Faculdade de Ciências Sociais
da Universidade de São Paulo quando discorria sobre a sedução marxista
e, posteriormente, se destacaria como senador e presidente da República,
mudando a cara do Brasil. Porém neste momento parece que anda meio
esquecido daquilo que ensinava na escola, ou seja, da velha lição de
Hegel e de Marx sobre a inevitabilidade da luta entre tese e antítese, o
velho e o novo.
De fato, ao lançar críticas desnecessárias contra um companheiro de
partido político Fernando Henrique deixou a impressão de que não se
alegra por ver no jovem prefeito um possível e futuro candidato a
presidente da República.
Em verdade, a vitória consagradora de Doria nas urnas para a Prefeitura
talvez faça Fernando Henrique lembrar-se de fatos de sua própria
carreira, quando disputou o mesmo cargo, em 1985, para suceder a Mário
Covas. Naquela ocasião, teve a infelicidade de se sentar na cadeira de
prefeito antes da eleição e seu opositor, Jânio Quadros, ao vencer e
assumir o cargo mandou desinfetá-la. São crueldades de que somente o Homo sapiens é capaz.
Surpreende agora que, em vez de estimular e facilitar a aproximação de
João Doria, seu aliado, do PSDB, Fernando Henrique o fustigue com a
acusação de que estaria fazendo sucesso apenas por manipular as redes
sociais o tempo todo.
A velocidade de informação no mundo contemporâneo é a cada dia mais
surpreendente e propaga a impressão de que estamos apenas no início
desse processo, sujeito sempre a novidades e evoluções. Alguns políticos
e administradores se adaptaram a essas modificações e veiculam com
rapidez as suas realizações, fazendo uso das redes sociais, frequentadas
diariamente por milhões de pessoas. Isso não custa nada e tem um
retorno extraordinário.
Os dois políticos paulistas que mais fazem uso dessas redes de
comunicação são o governador Geraldo Alckmin e o prefeito João Doria. A
cada realização, mesmo pequena, Alckmin grava algumas palavras dirigidas
aos paulistas, assim como se estivesse tão somente prestando contas.
Ele faz isso de forma discreta, talvez para não passar a impressão de
que esconde uma conduta política.
Na mesma linha, João Dória também usa as redes sociais e costuma obter
extraordinário retorno, medido pelo número surpreendente de pessoas
atingidas pelas mensagens. Homem de comunicações, com boa experiência
nessa área, ele talvez esteja olhando não para o que faz no presente, e
sim para o futuro.
Não há duvida de que o prefeito paulistano é leal ao seu padrinho
político, Geraldo Alckmin, e que ambos caminham juntos, com diferenças
pouco relevantes a respeito de temas administrativos. Mas Doria é homem
com luz própria, anda com as próprias pernas e com certeza visualiza
aonde pretende chegar.
É curioso observar que esses dois políticos do PSDB, os únicos que
conseguiram votação consagradora, não mereçam um estímulo maior da parte
de Fernando Henrique, ainda hoje o principal nome daquele partido
político. Isso talvez se deva ao fato de o ex-presidente ter pretendido,
na convenção partidária municipal, a escolha do candidato que concorria
com João Doria e ter sido derrotado.
Dizem que perder eleição é tão ruim como levar o fora de uma mulher
muito bonita. É sempre difícil deixar de dizer aquilo que está gravado
no coração e talvez por isso o ex-presidente Fernando Henrique não tenha
conseguido calar, preferindo dizer de público que João Doria nada mudou
e só aparece bem porque manipula as redes sociais.
Essa desavença pouco proveitosa para o PSDB antecipa o que está para
acontecer no Estado de São Paulo a partir de 1.º de abril do ano que
vem. Nessa data o vice-governador Márcio França, político habilidoso e
sem preguiça, assumirá o Palácio dos Bandeirantes, porque parece certo
que Alckmin se desincompatibilizará para concorrer à Presidência da
República.
Pelo que se ouve entre os peessedebistas, a inclinação do governador é
apoiar Márcio França, que, já estando no cargo, certamente disputará o
governo paulista. Isso pode desmanchar os planos dos chamados caciques
do partido, inclusive José Serra, Aloysio Nunes Ferreira, Alberto
Goldman e outros.
Ao pedir demissão do cargo de ministro das Relações Exteriores, José
Serra causou a impressão de pretender candidatar-se a governador de São
Paulo e isso talvez seja possível, pois seu partido terá condições de
lançar candidato próprio. Mas será muito difícil para ele conseguir
apoio de pessoas que não apoiou e agora estão no poder.
*Desembargador aposentado do TJSP, foi secretário da Justiça do Estado de São Paulo.
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPÓT
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