por Adriano Pires O Globo
Uma das principais características da política econômica adotada nos
governos do PT foi a ideia de criar as empresas campeãs nacionais. Essas
empresas teriam a missão de se transformar em espécies de
multinacionais brasileiras e conquistar o mundo dentro da lógica
megalomaníaca e intervencionista que prevaleceu no pais durante os 13
anos petistas. Dentre as empresas que representam essa vertente estão a
Petrobras e a JBS.
A Petrobras começa a sua trajetória de se transformar numa campeã
nacional com o anúncio do pré-sal, seguido em 2010 com a aprovação da
Lei da Partilha e a capitalização da empresa. A descoberta do pré-sal
foi vista pelo governo do PT como a possibilidade da volta do monopólio
da Petrobras, transformando a estatal num instrumento de um grande
projeto político que manteria o partido durante anos no poder. Algo
semelhante ao que ocorre na Venezuela e em alguns países africanos.
Dentro dessa lógica, o modelo de partilha da produção trazia a
obrigatoriedade de a empresa atuar como operadora única e deter, no
mínimo, 30% de participação nos campos do pré-sal que viessem a ser
leiloados.
Essa ação não só ampliou o monopólio da Petrobras, como transformou a
empresa num monopsônio, dado que a companhia tornou-se, praticamente, a
única compradora da indústria de fornecimento de bens e serviços para o
setor de óleo e gás.
Essa grande estrutura gerida sob pesada interferência do Estado e aliada
a uma política de conteúdo local, que estimulava a reserva de mercado,
criou o ambiente perfeito para uma conjuração entre partidos políticos,
dirigentes da Petrobras e as empresas fornecedoras. O resultado foi o
expressivo endividamento da Petrobras, a ocorrência dos crimes de
corrupção revelados pela Operação Lava-Jato, uma industria
parapetrolífera brasileira pouco competitiva e dependente do mercado
doméstico e a perda de valor, e mesmo a quebra, das empresas que fazem
parte de toda a cadeia de valor da indústria de óleo e gás no Brasil.
A JBS se transformou, durante o governo do PT, numa campeã nacional
turbinada por empréstimos e mesmo participação societária do BNDES. Seus
dirigentes se aproveitaram das benesses da política dos campeões
nacionais para, através de um processo de doping, fazer crescer a
empresa, transformando-a na maior produtora de proteína animal do mundo.
Da mesma forma que a Petrobras, a JBS se tornou, praticamente, num
monopólio e monopsônio. A crise que a empresa passa devido à Operação
Carne Fraca e ao seu envolvimento no episodio da delação premiada do seu
principal executivo está levando, também, a uma crise em toda a cadeia
da indústria da carne no Brasil.
Há lições que precisamos aprender em relação à política dos campeões
nacionais. No caso da Petrobras, o governo, seu acionista majoritário,
precisa entender, de uma vez por todas, que a empresa não é 100%
estatal, e sim uma empresa de economia mista. Nesse sentido, é preciso
virar definitivamente a página de usar a empresa como instrumento de
política econômica e para atingir projetos políticos. Devíamos ter a
coragem de discutir a privatização da empresa.
No caso da JBS e de outras empresas que foram escolhidas para serem
campeãs nacionais, o aprendizado é não usar um banco com as
características do BNDES para turbinar empresas que teriam totais
condições de irem ao mercado financeiro privado. E sim usar mais o S do
banco para dar financiamento a áreas da infraestrutura tao carentes de
investimento, como o saneamento.
Adriano Pires é diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura
extraídaderota2014blogspot
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