por Ruy Castro FOLHA DE SÃO PAULO
No filme "Todos os Homens do Presidente" (1976), Bob Woodward e Carl
Bernstein são os repórteres do "Washington Post" que expuseram a
conspiração (real) armada pela Casa Branca em 1972 –o famoso Caso
Watergate– para sufocar o Partido Democrata. Os repórteres tinham um
informante secreto, que chamavam de "Garganta Profunda". Quando se viam
embatucados, sem saber como continuar, "Garganta Profunda" aconselhava:
"Sigam o dinheiro".
Queria dizer que, se seguissem a trama de depósitos, saques e propinas
envolvendo alguns suspeitos, chegariam aos cabeças e talvez ao
mandante-mor –o que aconteceu e levou à renúncia do presidente Nixon. O
filme reflete a história como ela aconteceu, exceto num ponto: "Garganta
Profunda" nunca disse a frase "Sigam o dinheiro".
Ela foi uma criação do brilhante roteirista William Goldman, já
respeitado então pelos roteiros de "Butch Cassidy" (1969) e "Maratona da
Morte" (1976). Talvez sem querer, foi o que Woodward e Bernstein
fizeram: seguiram o dinheiro e foram dar nas entranhas do caso. Desde
então, a frase de Goldman se tornou um mote para esse tipo de
investigação. O mundo fica lhe devendo esta.
Há anos, muitos repórteres e agentes da lei têm tentado seguir o
dinheiro que circula nas monumentais negociatas da Fifa. Mas foi preciso
que essas se dessem em território americano para que o camburão do FBI
saísse para recolher os primeiros implicados. O aprofundamento das
investigações revelará um esquema que não operava apenas para render
milhões a alguns aqui ou ali, mas para perpetuar-se como uma estrutura
de poder –como um sistema que não dependesse dos operadores.
No passado, os corruptos eram avulsos e equivaliam aos ladrões de
galinha. Hoje, eles usam um supergalinheiro como frente para os bilhões
escusos que movimentam.
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