Jornalista Andrade Junior

segunda-feira, 22 de junho de 2015

O PT roubou o futuro

Opinião Leonardo X:

Faz muito tempo que o tempo levou minha juventude. Uma eternidade. Aos sessenta e seis anos de idade, e fração, até eu mesmo às vezes duvido que um dia já fui jovem. Mas fui, não me deixam esquecer as frestas que se abrem na memória, escondendo nas brumas da vida o que não merece o registro da nostalgia. Como naquele filme do genial Fellini, Amarcord (“Ainda me lembro”, no dialeto de sua cidade natal, Rimini), por onde nos conduziu à sua infância na Itália fascista.

Pode ser, eu não duvido que, por esse truque da memória, a ditadura militar de minha juventude tenha se apagado. Só deixou o registro histórico do Pasquim, do velho e bom de guerra JB do Castelinho, da deliciosa irreverência do Febeapá de Stanislaw Ponte Preta, das crônicas mordazes de Nestor de Holanda, do Millôr e de tantos críticos daqueles dirigentes que pontificavam no cenário nacional, surgidos da caserna para atuarem no picadeiro.
Faz muito tempo, mas ainda me lembro. O samba, a bossa nova, o futebol, a mulata, o charme da mulher brasileira e humor para driblar as armadilhas da vida, cair e dar a volta por cima, em cada um de nós coloria a aquarela de nossa cultura nacional. Não todos, na verdade. Havia exceções. Para alguns, nada disso era uma virtude.
Faltava uma revolução em nossa História. Como fizeram os russos. Como fizeram em Cuba. Para acabar com a miséria e tirar do céu o privilégio de ser o reino da justiça. Pretensão que sempre animou, e anima, os devotos de Karl Marx: “Os filósofos tentaram explicar o mundo; nós vamos modificá-lo”, assim falou o guru materialista.
Não caberia neste espaço tão estreito criticar essa aberração que remete à alegoria bíblica da torre de Babel. Nem seria necessário fazê-lo. Basta lembrar o que é a Coreia do Norte, por exemplo, que soleniza em nossos dias a insanidade de um ditador refém do mesmo mal que vitimou Herodes, Stalin, Mao, Fidel, os césares romanos, porque inevitável a todo ser humano que pretenda usurpar o trono da divindade sob o signo de um poder incontrastável, imposto pelo terror.
Mas, retomando o fio da meada, faz muito tempo que eu perdi minha pátria. Tenho saudade dela, mas perdi a ilusão de resgatá-la das mãos daqueles poucos que a sequestraram — e fizeram de mim um exilado no meu próprio país.
Talvez os meninos de hoje, assim espero, amanhã sejam adultos de uma ditadura que as brumas do tempo dissipem de suas memórias. E só lhes restem na memória as travessuras que Fellini reproduziu em Amarcord. A fantasia inocente do nosso mundo real. Que os adultos desbotam, rasgam e delas fazem a mortalha do seu mundo irreal.
Nossa vida é eterna quando temos vinte e cinco anos, mas não aponta para esse infinito quando atingimos o dobro dessa idade. A partir de então, cada hora passa num minuto. O que nos salva dessa angústia é a perspectiva de futuro para os nossos descendentes.
Mas o PT – para os simplórios, Partido dos Trabalhadores, e para os que não são tolos, Partido Comunista – roubou esse futuro.




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