editorial da Folha de São Paulo
Poucos congressistas se dispõem a diminuir benefícios sociais já
consagrados na legislação, por mais irrealistas e contraproducentes que
possam ser.
Foi portanto necessária muita pressão do Executivo, ademais de alguma
consciência da absoluta necessidade de um ajuste nas contas públicas,
para que o Senado viesse finalmente a aprovar, nesta semana, as medidas
preconizadas pelo Ministério da Fazenda.
O pacote era certamente impopular, ainda que seu teor tivesse conhecido alguma diluição em relação à proposta original.
Dentro de um contexto em que se impunha recuperar com urgência a saúde
da economia nacional, não se pode classificar como draconianas ou
indiscriminadas as restrições agora efetuadas.
Tome-se, por exemplo, o benefício da pensão em caso de morte. Até o
momento, era concedido em sua integralidade ao cônjuge, sem que se
calculasse o tempo mínimo de casamento ou de contribuição.
Ajustaram-se minimamente os mecanismos legais. Fica estipulado o prazo
de 18 meses de contribuição, e de dois anos de união, para que o cônjuge
enlutado receba o benefício. Haverá também de ser proporcional à sua
idade, sendo recebido vitaliciamente apenas por quem tiver 44 anos ou
mais ao perder o companheiro.
Modificações desse tipo não representam violências gritantes contra o
trabalhador –muito menos dada a economia proporcionada aos cofres
públicos–, ainda que envolvam um quinhão de sacrifícios com que antes
não se contava.
Por legítimas que sejam as críticas quanto à irresponsabilidade do
primeiro governo Dilma Rousseff (PT) no manejo das contas públicas, e
por mais diversas que se afigurem as alternativas hipotéticas aos cortes
e ajustes, era necessário que o Legislativo os aprovasse –e a maioria
terminou cedendo a esse imperativo.
Não foi o que aconteceu, porém, com o PSDB. O partido de Aécio Neves
–que sem dúvida teria encaminhado propostas de austeridade semelhantes
caso eleito para a Presidência– negou seus votos para o ajuste.
Reeditou, com isso, a atitude que tanto criticava no PT de outros
tempos: a tática do "quanto pior, melhor".
Não parece ser vocação dos tucanos ou de parte significativa de seu
eleitorado deixar-se seduzir pelo populismo sindical e pela ignorância
das leis da aritmética.
Em recente propaganda política veiculada em rádio e TV, o PSDB anunciava
um lema: "Ser oposição não é dizer não a tudo. É ser a favor do país".
Diante do ajuste econômico, contudo, eis que o partido se desacredita de
modo notável. A máscara não lhe pertence; não terá nem mesmo ganho mais
votos ao usá-la nesse baile.
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPOT
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