editorial de O Globo
Acareação em CPI e testemunhos de que propinas destinadas ao ex-diretor Renato Duque foram para o PT amplificam a importância do caso
Não se esperava muito do comparecimento à CPI mista da Petrobras dos
ex-diretores da estatal Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró,
personagens do que já é o maior escândalo de corrupção da história do
país. O objetivo era uma acareação entre quem confirma a existência de
desvios na compra da refinaria de Pasadena, Paulo Roberto, e Ceveró,
envolvido diretamente naquela operação, quando era diretor Internacional
da empresa, e que se mantém firme em negar qualquer anormalidade no
negócio.
Paulo Roberto, em prisão domiciliar por ter concordado em ajudar nas
investigações por meio de delação premiada, reafirmou tudo o que
testemunhou perante o juiz Sérgio Moro, responsável pelo inquérito sobre
a lavanderia de dinheiro montada por Alberto Youssef, pela qual teriam
passado bilhões subtraídos da estatal por meio do superfaturamento de
contratos. O esquema foi operado por Paulo Roberto, outros diretores e
alto funcionários.
Não se sabe tudo dos depoimentos, sob sigilo judicial. Mas o que vazou
já foi suficiente para colocar o mundo político em estado de alerta e se
ter ideia das grandes proporções do escândalo. Na acareação, Paulo
Roberto foi incisivo ao dizer que confirmava tudo o que depôs. Portanto,
confirmou que recebeu US$ 1,5 milhão para “não atrapalhar” o negócio
cuja lisura Cerveró continua a defender. Mesmo que a presidente Dilma
tenha afirmado que não o aprovaria, quando estava à frente do Conselho
de Administração da Petrobras, caso soubesse de todos os detalhes da
compra — sonegados por Cerveró, deu a entender.
Esta última passagem de Paulo Roberto pelo Congresso foi, ainda, marcada
por comentários fortes de cunho pessoal. Depois de afirmar que, “desde o
governo Sarney”, nenhum diretor da estatal foi nomeado sem
apadrinhamento de político, Costa se disse arrependido de ter entrado no
esquema, do qual estava “enojado”. Disse, também, ter testemunhado
sobre “dezenas” de políticos beneficiados pelo assalto à Petrobras.
Privadamente, ao deputado Ênio Bacci (PDT-RS), Costa foi mais preciso:
35 políticos. A reunião da CPI ganhou outra dimensão.
Costa foi muito além ao dizer que o mesmo modelo de assalto aplicado na
Petrobras é usado em muitos outros setores (obras em ferrovias, portos,
aeroportos e hidrelétricas). Faz sentido, mas os agentes públicos que
atuam na questão da Petrobras não podem perder o foco. Se forem abertas
agora tantas outras frentes, crescerá o risco da impunidade.
E a história cresce mais ainda com a informação de que outros
depoimentos sob delação premiada, estes dos empreiteiros Augusto
Mendonça e Júlio Camargo, garantem que propinas destinadas ao ex-diretor
Renato Duque foram encaminhadas ao PT por meio de doações legais. Mais
uma razão para a Justiça e o Ministério Público não dispersarem
esforços.
FONTE ROTA2014
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