Jornalista Andrade Junior

domingo, 17 de fevereiro de 2013

O obscurantismo no continente (1)


Creio que o Ocidente confundido pelo obscurantismo do Iluminismo estaria cruzando o Atlântico. Ou seja, avança ideologicamente para a destruição da liberdade em nome da igualdade.

Um espectro está rondando a América Latina: é o espectro do Socialismo do Século XXI. Esse espectro tornou-se mais evidente na recente reunião da CELAC que teve lugar em Santiago do Chile. A prova mais evidente da tendência ideológica que representa a organização da CELAC no continente, foi a nomeação de Raúl Castro como presidente da mesma. Ou por acaso pode-se ter dúvidas da ideologia comunista que prevalece em Cuba por mais de 54 anos?

Lembremos que essa instituição foi criada por obra e graça de Hugo Chávez e à imagem e semelhança de Fidel Castro. O suposto objetivo da CELAC era a reunião continental dos latino-americanos, portanto, ficavam excluídos os Estados Unidos e o Canadá. Já na primeira sessão que teve lugar na Venezuela não se chegou a nenhum acordo a respeito dos propósitos de Chávez. Porém, é indubitável que o propósito do projeto era o enfrentamento com os Estados Unidos em nome do anti-imperialismo. Quer dizer, o princípios político que impera na América Latina como condição sine qua non para alcançar o poder.
Naquela oportunidade produziu-se o que se poderia considerar uma contradição, pois nomeou-se Sebastián Piñera como presidente. Quer dizer, o presidente do Chile, que é o único país na América do Sul no qual prevalece o rule of law (império da lei). E me referi ao rule of law, pois careço de uma tradução literal para o sistema político que se baseia nos seguintes princípios: as maiorias não têm direito a violar os direitos das minorias. O respeito pelos direitos individuais: a vida, a liberdade, a propriedade e a busca da própria felicidade. A limitação do poder político através da separação dos poderes e fundamentalmente, o rol do poder judiciário para decidir o que é a lei de conformidade com a Constituição.
A nomeação de Raúl Castro como presidente da CELAC, ignorando os crimes de Fidel Castro e a falta de liberdade dos cubanos na ilha, onde se violam os mais comezinhos direitos humanos, da tônica do projeto em questão. Poderia dizer que o mesmo tem uma manifesta vontade de construir o que Jefferson denominou um despotismo eletivo. Quer dizer, Fidel Castro, por meio de eleições, tal como está ocorrendo na Venezuela e continuando no Equador. Ou seja, a confusão da democracia com o socialismo, uma vez mais sob a hipótese da busca da igualdade, que deriva na desigualdade do poder absoluto, e sua conseqüência, a cleptocracia. 
É doloroso ver que este projeto parece ser aprovado pela União Européia, e tanto é assim que na reunião participou sua mais eloqüente representante que é sem dúvida a Srª Merkel, Primeira-Ministra da Alemanha. Assim, uma vez mais se ignoram os crimes que se cometem em Cuba e a violação dos direitos individuais. Nessa linha encontramos principalmente a Espanha que através dos hotéis Meliá, parece controlar o turismo em Cuba.
Lamentavelmente a política exterior americana pretende instaurar a democracia no Oriente Médio e falaciosamente no Egito, enquanto que ignorando o totalitarismo cubano pretende negociar com Raúl Castro. Tudo parece indicar que o obscurantismo do Iluminismo parece se expandir pelas terras do Tio Sam. A pretensão da igualdade e da prática desqualificação dos ricos, determinam a violação do princípio fundamental da liberdade que é o direito à busca da própria felicidade.
Outro aspecto que não consigo compreender da política americana é a confusão do liberalismo com o socialismo. Basta a mais superficial análise da filosofia política universal, para tomar consciência de que o liberalismo e o socialismo são concepções ético-políticas antitéticas. O liberalismo parte do conceito de que a natureza humana é imutável, enquanto que o socialismo pretende a criação de um homem novo. O que diria John Locke se soubesse que o país que pela primeira vez na história aplicou a doutrina liberal na consciência de que os monarcas também são homens, pode desconhecer o princípio liberal fundamental do direito à busca da felicidade?
A partir dessa confusão ético-filosófica, se teria praticamente aceitado que as idéias liberais são representadas pelo conservadorismo. Nesse pressuposto ignora-se que o conservadorismo não é uma doutrina filosófica, senão tão-somente uma atitude frente à vida. Poderíamos dizer que hoje o mais conservador do mundo é Fidel Castro, que conservou o poder totalitário toda a sua vida. Essa confusão ético-filosófica é aproveitada pela esquerda para desqualificar o conservadorismo por estar a favor dos ricos e por conseguinte contra os pobres, ou seja, do povo. Como bem disse Thomas Sowell, “a esquerda monopoliza a ética e quem esteja contra não apenas está equivocado, senão que é um pecador”. Em conseqüência, a mera defesa dos direitos individuais que a Constituição americana garante, aparece como ser de direita. Portanto, se desqualifica eticamente o sistema que criou a liberdade pela primeira vez na história, e ao qual lhe devemos não ser nazistas ou comunistas. E mais ainda gera a riqueza, pois onde não se respeita o direito de propriedade, não se cria riqueza.
Enfim, creio que o Ocidente confundido pelo obscurantismo do Iluminismo estaria cruzando o Atlântico. Ou seja, avança ideologicamente para a destruição da liberdade em nome da igualdade. Conseqüentemente, insisto em que essa confusão impede do mesmo modo compreender a realidade do mundo em que vivemos. Mundo no qual a China libertada por Mao Tsé Tung parece ter-se inteirado das virtudes do direito de propriedade, mesmo desde um governo autoritário.
Se cabe alguma dúvida do processo obscurecedor que ameaça os Estados Unidos, aí temos o recente discurso do presidente Obama no dia de sua posse. Na ocasião ele disse: “Nós, o povo”. Já deveríamos saber que quando os direitos são do povo, desaparecem os direitos individuais em nome do suposto bem comum. Aristóteles dizia: “Quando o povo se faz monarca viola a lei, se faz déspota e desde então os aduladores do povo têm um grande partido”. Nessa demagogia o presidente insistiu quando disse: “Nosso país não pode ter êxito quando muito pouco estão bem e uma crescente maioria não pode fazer nada”. Nessas palavras me parece lembrar o pensamento de Karl Marx, conforme o qual a culpa da pobreza é dos capitalistas. Como bem disse Hana Arendt: “Quando se violam os direitos individuais em nome da compaixão, desaparecem a liberdade e a justiça”.


Tradução: Graça Salgueiro

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