Creio
que o Ocidente confundido pelo obscurantismo do Iluminismo estaria
cruzando o Atlântico. Ou seja, avança ideologicamente para a destruição
da liberdade em nome da igualdade.
Um espectro está rondando a América Latina: é o espectro do Socialismo do Século XXI. Esse espectro tornou-se mais evidente na recente reunião da CELAC que teve lugar em Santiago do Chile. A prova mais evidente da tendência ideológica que representa a organização da CELAC no continente, foi a nomeação de Raúl Castro como presidente da mesma. Ou por acaso pode-se ter dúvidas da ideologia comunista que prevalece em Cuba por mais de 54 anos?
Lembremos
que essa instituição foi criada por obra e graça de Hugo Chávez e à
imagem e semelhança de Fidel Castro. O suposto objetivo da CELAC era a
reunião continental dos latino-americanos, portanto, ficavam excluídos
os Estados Unidos e o Canadá. Já na primeira sessão que teve lugar na
Venezuela não se chegou a nenhum acordo a respeito dos propósitos de
Chávez. Porém, é indubitável que o propósito do projeto era o
enfrentamento com os Estados Unidos em nome do anti-imperialismo. Quer
dizer, o princípios político que impera na América Latina como condição sine qua non para alcançar o poder.
Naquela
oportunidade produziu-se o que se poderia considerar uma contradição,
pois nomeou-se Sebastián Piñera como presidente. Quer dizer, o
presidente do Chile, que é o único país na América do Sul no qual
prevalece o rule of law (império da lei). E me referi ao rule of law,
pois careço de uma tradução literal para o sistema político que se
baseia nos seguintes princípios: as maiorias não têm direito a violar os
direitos das minorias. O respeito pelos direitos individuais: a vida, a
liberdade, a propriedade e a busca da própria felicidade. A limitação
do poder político através da separação dos poderes e fundamentalmente, o
rol do poder judiciário para decidir o que é a lei de conformidade com a
Constituição.
A
nomeação de Raúl Castro como presidente da CELAC, ignorando os crimes
de Fidel Castro e a falta de liberdade dos cubanos na ilha, onde se
violam os mais comezinhos direitos humanos, da tônica do projeto em
questão. Poderia dizer que o mesmo tem uma manifesta vontade de
construir o que Jefferson denominou um despotismo eletivo. Quer dizer,
Fidel Castro, por meio de eleições, tal como está ocorrendo na Venezuela
e continuando no Equador. Ou seja, a confusão da democracia com o
socialismo, uma vez mais sob a hipótese da busca da igualdade, que
deriva na desigualdade do poder absoluto, e sua conseqüência, a
cleptocracia.
É
doloroso ver que este projeto parece ser aprovado pela União Européia, e
tanto é assim que na reunião participou sua mais eloqüente
representante que é sem dúvida a Srª Merkel, Primeira-Ministra da
Alemanha. Assim, uma vez mais se ignoram os crimes que se cometem em
Cuba e a violação dos direitos individuais. Nessa linha encontramos
principalmente a Espanha que através dos hotéis Meliá, parece controlar o
turismo em Cuba.
Lamentavelmente
a política exterior americana pretende instaurar a democracia no
Oriente Médio e falaciosamente no Egito, enquanto que ignorando o
totalitarismo cubano pretende negociar com Raúl Castro. Tudo parece
indicar que o obscurantismo do Iluminismo parece se expandir pelas
terras do Tio Sam. A pretensão da igualdade e da prática desqualificação
dos ricos, determinam a violação do princípio fundamental da liberdade
que é o direito à busca da própria felicidade.
Outro
aspecto que não consigo compreender da política americana é a confusão
do liberalismo com o socialismo. Basta a mais superficial análise da
filosofia política universal, para tomar consciência de que o
liberalismo e o socialismo são concepções ético-políticas antitéticas. O
liberalismo parte do conceito de que a natureza humana é imutável,
enquanto que o socialismo pretende a criação de um homem novo. O que
diria John Locke se soubesse que o país que pela primeira vez na
história aplicou a doutrina liberal na consciência de que os monarcas
também são homens, pode desconhecer o princípio liberal fundamental do
direito à busca da felicidade?
A
partir dessa confusão ético-filosófica, se teria praticamente aceitado
que as idéias liberais são representadas pelo conservadorismo. Nesse
pressuposto ignora-se que o conservadorismo não é uma doutrina
filosófica, senão tão-somente uma atitude frente à vida. Poderíamos
dizer que hoje o mais conservador do mundo é Fidel Castro, que conservou
o poder totalitário toda a sua vida. Essa confusão ético-filosófica é
aproveitada pela esquerda para desqualificar o conservadorismo por estar
a favor dos ricos e por conseguinte contra os pobres, ou seja, do povo.
Como bem disse Thomas Sowell, “a esquerda monopoliza a ética e quem
esteja contra não apenas está equivocado, senão que é um pecador”. Em
conseqüência, a mera defesa dos direitos individuais que a Constituição
americana garante, aparece como ser de direita. Portanto, se
desqualifica eticamente o sistema que criou a liberdade pela primeira
vez na história, e ao qual lhe devemos não ser nazistas ou comunistas. E
mais ainda gera a riqueza, pois onde não se respeita o direito de
propriedade, não se cria riqueza.
Enfim,
creio que o Ocidente confundido pelo obscurantismo do Iluminismo
estaria cruzando o Atlântico. Ou seja, avança ideologicamente para a
destruição da liberdade em nome da igualdade. Conseqüentemente, insisto
em que essa confusão impede do mesmo modo compreender a realidade do
mundo em que vivemos. Mundo no qual a China libertada por Mao Tsé Tung
parece ter-se inteirado das virtudes do direito de propriedade, mesmo
desde um governo autoritário.
Se
cabe alguma dúvida do processo obscurecedor que ameaça os Estados
Unidos, aí temos o recente discurso do presidente Obama no dia de sua
posse. Na ocasião ele disse: “Nós, o povo”. Já deveríamos saber que
quando os direitos são do povo, desaparecem os direitos individuais em
nome do suposto bem comum. Aristóteles dizia: “Quando o povo se faz
monarca viola a lei, se faz déspota e desde então os aduladores do povo
têm um grande partido”. Nessa demagogia o presidente insistiu quando
disse: “Nosso país não pode ter êxito quando muito pouco estão bem e uma
crescente maioria não pode fazer nada”. Nessas palavras me parece
lembrar o pensamento de Karl Marx, conforme o qual a culpa da pobreza é
dos capitalistas. Como bem disse Hana Arendt: “Quando se violam os
direitos individuais em nome da compaixão, desaparecem a liberdade e a
justiça”.
Tradução: Graça Salgueiro
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