Reinaldo Azevedo
Marina Silva é a personagem política mais reacionária e arrogante do país; nesse particular, ela venceu Lula!
Perguntaram
a Marina Silva se a “Rede da Sustentabilidade”, partido que pretende
criar, será oposição ou situação. Ela respondeu: “Nem oposição nem
situação, precisamos de posição”.
Perguntaram a Marina Silva se o partido que pretende criar será utópico ou pragmático. Ela respondeu: “Será sonhático”.
Neste
sábado, ela reuniu os “marineiros” para dar largada à criação da legenda
que não é nem oposição nem situação, mas “posição”; que não é nem
pragmático nem utópico, mas “sonhático”… Estava no melhor da sua forma, e
isso quer dizer, então, que ninguém entendeu quase nada do que ela
disse, mas todos acharam genial. Como diria Gabriel Chalita aos oito
anos (segundo seu testemunho), aos devolver a uma mitológica
professorinha um livro de Sartre (!?!?!?) que ela lhe emprestara: “Não
entendi nada, mas adorei!”. Adorar sem entender parece ser uma vocação
destes tempos…
Sim, Marina falou bastante. Um dos trechos mais encantadores da sua fala é este:
“Estamos vivendo uma crise
civilizatória e não temos o repertório necessário para enfrentá-la. A
crise política e de valores faz com que a gente separe a crise política
da crise econômica”…
Vamos pensar.
Estamos
vivendo uma crise civilizatória??? Eu sei que pode parecer estranho
afirmar isso, leitores, mas, como comunidade humana, nunca fomos tão
felizes — ainda que possa haver muita infelicidade no mundo, é certo.
Vamos ver.
1: nunca antes na história deste mundo tantos homens viveram sob regime democrático;
2: nunca antes na história deste mundo os seres humanos tiveram vida tão longa;
3: nunca antes na história deste mundo houve tanta comida e tão barata;
4: nunca antes na história deste mundo tivemos tantos remédios para nossos males;
5: nunca antes na história deste mundo houve tantas crianças com acesso à educação;
6: nunca antes na história deste mundo houve tantos humanos com saneamento básico;
7: nunca antes na história deste mundo houve tão poucas guerras;
8: nunca antes na história deste mundo, as guerras mataram tão pouco como nos últimos 50 anos…
Ao
contrário do que diz Marina, nunca antes na história deste mundo
tivemos, como espécie, um repertório tão grande para responder aos
desafios que nos impõem a natureza e a civilização. Marina andou
abusando de algum creme “anti-idade”, como se diz hoje em dia? Do que
ela está falando?
Uma fala
tonta como essa soa verdadeira para a geração maluco-natureza, que gosta
mais de matinho e de bichinho do que de gente. Não! Eu não quero acabar
com o matinho nem matar o bichinho, mas a minha medida para avaliar a
“civilização” — já que esta senhora pretende ser, assim, grandiosa —
ainda é o ser humano. Não existe a civilização dos sapos. Não existe a
civilização dos bagres. Não existe a civilização dos jacarés. Mas existe
a civilização dos homens.
Arrogância
Essa história de que a humanidade não tem o “repertório necessário” para enfrentar a suposta “crise civilizatória” é uma das bobagens mais arrogantes que ela já disse. Até porque esse “nós”, em falas com esse grau de generalização, costuma excluir quem fala. Traz o sotaque inconfundível dos profetas. Marina acha, de fato, que os outros — o resto do mundo — não têm o repertório, mas ela… Ah, ela tem, sim! Ela viu “a” coisa! Tomou o lugar de Moisés e recebeu as novas Tábuas da Lei no Sinai.
Essa história de que a humanidade não tem o “repertório necessário” para enfrentar a suposta “crise civilizatória” é uma das bobagens mais arrogantes que ela já disse. Até porque esse “nós”, em falas com esse grau de generalização, costuma excluir quem fala. Traz o sotaque inconfundível dos profetas. Marina acha, de fato, que os outros — o resto do mundo — não têm o repertório, mas ela… Ah, ela tem, sim! Ela viu “a” coisa! Tomou o lugar de Moisés e recebeu as novas Tábuas da Lei no Sinai.
O
que me espanta — e isto, sim, é sintoma de uma formidável crise de
ignorância que toma conta da imprensa e dos meios acadêmicos — é que não
se constate o caráter obviamente reacionário dessa fala. Quando alguém
diz que “vivemos uma crise e não temos repertório”, afirma, de modo
oblíquo, que, nas crises passadas, o tal repertório existia. O que
parece “progressista” no discurso de Marina é, no fim das contas,
regressista. Ela tem saudade de um passado que nunca houve.
Existe uma
crise civilizatória, e Marina pretende enfrentá-la não sendo nem
situação nem oposição, mas posição; não sendo nem utópica nem
pragmática, mas sonhática.
Entendi.
Como disse
neste sábado a minha mulher, “deem uma crise civilizatória para Marina
que ela sabe como responder ao desafio: criando um novo trocadilho”.
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