Os postes saíram do armário
Guilherme Fiuza - Revista Época -
O resultado da eleição em São Paulo confirma: se a economia brasileira não derrapar feio até lá - e nada indica que isso acontecerá -, Dilma Rousseff deverá ser reeleita em 2014. Nesse caso, o Brasil será governado pelo PT por 16 anos, no mínimo. Getúlio Vargas, com ditadura e tudo, só conseguiu ficar 15 anos seguidos. E não tinha Valério, Delúbio e companhia no Palácio. A ditadura Vargas era o Estado Novo. A democracia petista é o Estado Velho - e doente.
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Poderia ser pior. Lula e Dilma mantiveram as
instituições funcionando (até aqui), não tentaram nenhuma guinada
autoritária explícita (só as dissimuladas, como o mensalão), cumpriram
contratos e nao cairam na tentação dos calotes, como seus parceiros
argentinos. Isso não é pouco. Ou melhor: é pouco, mas é essencial. Pior
se o país tivesse caído nas mãos de franco-atiradores como Brizola, Ciro
Gomes e outros inspirados por ideólogos da salvação, como Roberto
Mangabeira Unger.
Em 2000, o PT discutia se
valia a pena embarcar na quarta candidatura presidencial de Lula. O
filho do Brasil ainda não tinha nascido. Quem existia era o bastardo, o
perdedor, que a cada quatro anos repetia seu disco de reclamações contra
tudo e era descartado pelo eleitorado. Lula trabalhara bravamente para
desacreditar o Plano 11eal, que seu partido tentou sabotar no Congresso
Nacional. Depois de sua terceira derrota como presidenciável, boa parte
do PT queria outro candidato em 2002 - o nome do ex-governador Cristovam
Buarque era o mais cotado.
Aí o Brasil foi
abalroado pela crise da Rússia, que agravou a anterior, no Sudeste
Asiático. José Dirceu teve a ideia de aparecer com o projeto Lulinha Paz
e Amor. Em lugar do barbudo rancoroso - espécie de João Pedro Stédile
urbano -, Lula apareceria como um conciliador, jogando fora suas
próprias bandeiras de ruptura.
Foi um
sucesso. A eleição foi ganha, e o perdedor ranzinza, que ninguém
aguentava mais (nem o próprio PT), virou messias. Com a economia
nacional arrumada e o início de um período sem tormentas externas, os
brasileiros passaram a acreditar que a vida melhorava por que Lula era
pobre e tinha consciência social. O PT ganhou na loteria - e está até
hoje administrando o prêmio.
Prêmio que, vale
lembrar, é colossal. O governo popular bateu seguidamente seus próprios
recordes de arrecadação, com uma carga tributária entre as maiores do
mundo. O país gigante deu a Lula e Dilma uma fortuna para administrar, e
eles cumpriram sua missão: gastaram pesado com a máquina - que emprega
os companheiros e os aliados dos companheiros (até terceiro grau ou onde
a vista alcançar). Derramaram as bolsas gratuitas pelo território
inteiro, enriqueceram a floresta de convênios picaretas com os
ministérios.(como se viu no Esporte, no Turismo e no Trabalho), que
servem para a manutenção de uma infinidade de boquinhas com altos
dividendos eleitorais. Torraram dinheiro grosso com a propaganda do
governo dos coitados.
Esse é o Estado Velho
do PT, que o Brasil resolveu eternizar. Um Estado que não precisa se
preocupar em planejar nada, porque o país não lhe cobra isso.
Infraestrutura? A receita é a mesma: usina-dinossauro de Belo Monte,
trem-bala imaginário, e o futuro empurrado com a barriga e o marketing.
Não há ninguém trabalhando para modernizar um dos países mais próximo,
burocratizados do mundo,ninguém gastando, neurônios com um planejamento
tributário decente, ninguém projetando a organização das metrópoles
caóticas que dependem do governo federal para os grandes projetos
viários,mas que receberão a Copa do Mundo cheias de remendos e
disfarces.
O prefeito eleito Fernando Haddad
achou engraçado se dizer o segundo poste de Lula (Dilma é o primeiro) e
perguntar quem será o próximo. Não há dúvida: haverá um próximo, ou mais
de um, para continuar torrando o prêmio lotérico do messias. O crime é
tão perfeito que os postes já estão resolvendo sair do armário.
A
defesa de Dirceu pediu ao STF a redução de sua pena, considerando o
alto "valor social" do réu que combateu a ditadura. Antes de discutir se
esse valor social será cotado em reais ou em dólares, seria o caso de
perguntar ao ex sequestrado e seus amigos: qual o valor do resgate do
Estado sequestrado por eles?





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