Jornalista Andrade Junior

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Frei Tiago


Nada apavora mais os comunistas que a celebração segundo a forma clássica: é impossível fazer da Missa um comício.

Uma dessas histórias mal contadas está correndo pelos meios católicos na Internet. De certo, sabemos apenas que Frei Tiago de São José e seus carmelitas tradicionais foram expulsos da Diocese de Bragança Paulista.

A carta do Bispo alude a desobediências dos frades – que não diz quais sejam – e a orientações vindas de Roma, que não afirma ter seguido; a decisão de expulsar os carmelitas e a autoridade para fazê-lo são expressamente dele apenas.
Já a carta de Frei Tiago diz, com todas as letras, que o problema seria a adesão da comunidade à liturgia clássica.
É possível, e nas circunstâncias eclesiásticas do Brasil é provável, que seja realmente este o motivo da expulsão. Explico:
Cinquenta anos atrás, iniciou-se um Concílio Ecumênico, o segundo a ocorrer nas dependências do próprio Vaticano; daí seu nome Concílio Vaticano Segundo. Foi um acontecimento única na história da Igreja: um Concílio que se reunia não para condenar erros do momento, mas para apontar caminhos pastorais. Além do inusitado de seus fins, ele foi marcado por um otimismo que os fatos depois vieram a mostrar desastroso. Logo após o Concílio, a cultura ocidental deu uma reviravolta monstruosa, levando ao movimento hippie e à revolução sexual, pontas-de-lança do processo pós-moderno de dissolução da sociedade ocidental moderna. Ora, esta sociedade moderna era o campo de ação para o qual teriam sido traçadas as diretrizes conciliares!
Subiu então ao trono de Pedro o Papa Paulo VI, que após o Concílio e já em plena convulsão social no Ocidente, decidiu criar uma nova liturgia simplificada. Este texto foi então traduzido – no caso do Brasil, com erros propositais de tradução – e passou a ser empregado como forma usual da Missa.
Vale notar que nem o Concílio mandou criar uma liturgia totalmente nova, nem Paulo VI imaginava que ela não seria celebrada sempre em latim; são coisas que foram acontecendo, modas que foram “pegando”. Outra moda, esta de consequências ainda maiores, foi o padre enfiar-se atrás do altar, ao invés de ficar, como sempre havia ficado, entre o povo e o altar, virando-se para um e para o outro, como o próprio Missal de Paulo VI determina.
Para piorar a situação, a sede de mudanças que varria o mundo nos anos Setenta fez com que se tornasse habitual uma tal quantidade de invenções litúrgicas, que é raríssimo, até hoje, encontrar uma Missa celebrada de acordo com as regras do Missal de Paulo VI.
Ao mesmo tempo, no Brasil, a infiltração comunista na Igreja atingiu proporções antes inimagináveis, sob o manto da dita “teologia da libertação”, que veio a dar no “incorruptível” PT que ora nos governa. Bispos que se orgulham de serem amigos pessoais de Fidel Castro (como Dom Pedro Casaldáliga) foram alçados ao episcopado; o tempo de penitência da Quaresma foi transformado em momento de “luta social”, com a “Campanha da Fraternidade” propondo algum desvario imanentista novo a cada ano.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) – organização reconhecida pela Igreja, mas que pela lei eclesiástica só se pronuncia quando todos os Bispos, unanimemente, assinam o pronunciamento – tornou-se arroz de festa da mídia, com “assessores” esquerdistas fazendo declarações políticas que a imprensa reverbera como sendo “da Igreja”.
A maior arma de doutrinação destes infiltrados é a liturgia. Era comum, até alguns anos atrás, que a Missa fosse praticamente transformada num comício político de extrema-esquerda; o povo, cumprindo o preceito dominical, via-se plateia literalmente cativa. Ora, esta “flexibilidade litúrgica” só é possível na Missa de Paulo VI; a Missa clássica tem rubricas minuciosas que indicam até mesmo a posição dos dedos de cada mão do sacerdote em cada momento da liturgia.
Assim sendo, nada apavora mais os comunistas que a celebração segundo a forma clássica: é impossível fazer da Missa um comício, é impossível usar o preceito dominical como ocasião de lavagem cerebral quando a liturgia celebrada não pode ser torcida e transformada até sinalizar o oposto do que deveria.
O poder dos comunistas infiltrados, contudo, vem sendo aos poucos debelado pela ação firme, mas forçosamente lenta, da Santa Sé. O Papa João Paulo II começou a retirar os mais enraivecidos, e mandou que os Bispos proporcionassem “ampla e generosamente” a aos fiéis celebração da Missa de acordo com a liturgia clássica. Bento XVI, continuando a obra de seu antecessor, definiu que a liturgia clássica é um direito dos leigos, e que nenhuma autorização é necessária para que um padre a celebre; ao contrário, até: é preciso ter autorização episcopal para celebrar em português, mas não para celebrar a Missa tradicional.
Voltando ao caso de Atibaia, vejamos como esta situação eclesial pode se refletir numa circunstância concreta.
A Diocese de Bragança Paulista é proprietária de uma enorme área, na qual arrenda terras para congregações religiosas. A imensa maior parte delas surgiu na época de maior força da infiltração comunista, e por lá permanece, ainda que não tenha novas vocações. Mutatis mutandis, seria possível dizer que os carmelitas se viram vivendo em um condomínio habitado quase que exclusivamente por grupos contrários àquilo que a Santa Sé procura fazer.
Em tal contexto, a presença de um grupo que celebre exclusivamente a Missa tradicional, com padres que ouçam confissões, monges e monjas de hábito, sinos que tocam e demais sinais de ortodoxia católica é quase uma provocação. O provável afluxo de fiéis à capela por eles servida, em busca de uma liturgia reverente, só faz mais perigosa a presença deles para os refugiados dos anos Setenta da vizinhança.
O trabalho iniciado pelo Papa João Paulo II e continuado por Bento XVI, contudo, ainda está longe de ser concluído. A CNBB continua em grande medida sujeita aos encanecidos representantes da “teologia da libertação”, tendo até mesmo surgido propostas no sentido de dar voto aos Bispos eméritos (aposentados), como forma de prolongar a sua influência.
A presença, em tais circunstâncias, do um “inimigo” fiel à Santa Sé em seu meio certamente não teria como deixar de provocar reações fortes e pressões contra a Diocese. A “teologia da libertação” ainda conta com padrinhos poderosos, capazes de cortar ou redirecionar verbas, de dificultar tremendamente a ação dos Bispos, de, em suma, fazer valer pela força o que não tem como ser imposto pela lógica, pela fé ou pela moral.
Por ser uma congregação de direito diocesano ainda em estágio inicial, a dependência da comunidade de Frei Tiago em relação ao Bispo é absoluta. É direito dele dissolver a congregação a qualquer momento, sem que precise sequer declarar os motivos. Tendo isto sido feito, só resta aos carmelitas buscar outra diocese que os acolha e reiniciar seu trabalho.
Não se tem como saber se o que ocorreu foi uma derrota dele diante da força política dos grupos de “teólogos da libertação” que ainda infestam sua diocese, ou se foi realmente a sua vontade que vigorou. O que se sabe é que ser aliado do Papa, no Brasil, ainda é motivo para ser perseguido.


Carlos Ramalhete é professor.

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