Jornalista Andrade Junior

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Escolas públicas do DF: Entre abandono e a mídia elitista

Escolas públicas do DF: Entre abandono e a mídia elitista


Caríssimos (as),

Não dá para ficar calado (a) diante do fogo cruzado experimentado pelas escolas públicas do Distrito Federal. É preciso examinar se a mídia elitista não está aproveitando do abandono das escolas públicas do DF para alardear e enaltecer as escolas privadas. Importante também aprofundar o debate junto à Secretaria de Estado de Educação do DF, com a comunidade escolar e com Agnelo Queiroz em que medida o resultado tem a ver com a maneira como se governa. Ainda nessa perspectiva, cabe montar uma estratégia de avaliação da escola pública do DF não apenas do ponto de vista numérico, mas em todas as dimensões. Resultado de provas é desumano quando não se vê o conjunto das relações. ...


Posto essas considerações, gostaria de tecer algumas impressões sobre o alarde de que a “escola privada seja a melhor”, bem como sobre o silêncio da SEDF e de outros segmentos sobre o que considero fogo cruzado entre a mídia elitista e o abandono. Esse posicionamento tem a intenção de provocar ao debate e promover mudanças.


Penso que não se pode negar o fato de que as escolas públicas do Distrito Federal tenham padecido de um desprezo crônico. Não é hiperbólico dizer que as escolas públicas do DF estão na UTI desde o seu nascimento, tendo muitas pessoas e instituições que em vez de oxigená-la, aplica-se a eutanásia sem pudor. As exceções são aquelas que não são divulgadas porque não é interesse da grande mídia divulgar resultados exitosos de escolas públicas. Sempre houve um conchavo entre a Mídia elitista e lideranças políticas descomprometidas com a educação pública. Pode-se dizer sem medo de errar que abandono=fracasso=mídia elitista=interesse dominante. Quem sai perdendo com essa soma? Não tenho dúvidas: é a comunidade escolar que necessita do serviço público.


Pois bem, ao entender que a escola pública está situada em um fogo cruzado, há que considerar possíveis causas. Atribuo ao fogo cruzado a defesa de interesse. Parece pouco apenas uma causa. Há desdobramentos dessa causa, e cada pessoa ou grupo social pode identificar dezenas de causas de acordo com o alcance de cada consciência.


Bem sabemos que não é de hoje que a grande mídia ataca empobrecidos, homossexuais, mulheres, negros (as), a educação pública e outros valores. Ao veicular uma notícia o faz com corte ideológico do ponto de vista do dominante e quando convêm, divulga o que interessa aos governantes. Vejo um governo paralelo que cabe uma pergunta: quem de fato governa?


A recente divulgação do resultado do ENEM, evidenciando a escola privada como a de melhor qualidade, cabem algumas perguntas: de qual qualidade está falando? Qual o senso de justiça se tem ao fazer comparações entre uma escola pública e uma escola privada? O que se considera das escolas, sejam públicas ou privadas ao noticiar resultados?


Veja que o CED Taquara foi divulgado como o pior resultado em termos numéricos, mas todas as pessoas tiveram acesso aos problemas da escola? O que se fez para que se chagasse a tal patamar? Para lembrar: estrada com problemas de acesso, problema de transporte, carência de docentes, escola caindo os pedaços, falta de água potável e outras mazelas. Há escola no meio das avaliadas que se quer tem um muro, vulnerável a todo tipo de violência.


Não dá mais para fazer a politicagem da pessoa que vê e finge que não vê. Já é fato que mais de 80% das escolas públicas do Distrito Federal estão com problemas sérios nas estruturas arquitetônicas. O que salva é a teimosia da comunidade escolar em fazer a diferença para obter uma qualidade que não é a mesma almejada pelas escolas privadas. A escola pública atende ao que faz parte de sua natureza (laica, gratuita e de qualidade socialmente referenciada), oposta à filosofia da escola privada que não é laica, não é pública e prima pela qualidade competitiva, de mercado, portanto tem base no consumismo. Não é de se estranhar dos termos cliente, patrão e donos no domínio da escola privada.


Outro problema muito visível é o alocar recursos da educação para outros setores. Vejam o quantitativo de recursos da educação alocados para outros serviços identificados nesse blog. Nem preciso lembrar-me da prioridade do contexto histórico do Brasil e do DF: estádios. É a ausência de escola decente em meio ao luxo de um estádio. Diga-se de passagem: pão e circo são anacrônicos até em Roma que os criaram.


Diante da propalada qualidade privada é pensável que a hierarquização das escolas, a satanização de umas e canonização de outras, bem como a divulgação de apenas o resultado sem uma análise profunda das condições e filosofia das escolas públicas e privadas faz da notícia uma falsificação e distorção da realidade. Há o ditado popular que diz “quem vê copo não vê alma”. Parafraseando o ditado popular, posso dizer que quem vê notícia não vê a alma da notícia.


Quanto ao silêncio de lideranças políticas no domínio do GDF e de outros segmentos, cabe uma pergunta que precisa ser respondida pelos que se consideram representantes do povo: Qual a relação entre a grande mídia e o GDF? Se há laços tácitos sem pudor é extremamente coerente o silêncio, mas se não há laços tácitos, não há explicação. É preciso, com certa urgência, pensar um diagnóstico da escola pública do DF sob a ótica de um colegiado: SINPRO-DF, EAPE, CNTE, CUT-DF, Conselho Escolar, Grêmio Estudantil, etc. Penso que um diagnóstico do ponto de vista do trabalhador (a) poderá sinalizar o que fazer para melhorar as condições da educação pública do DF.


O fogo cruzado entre o abandono e mídia elitista pode ter seu fim na medida em que houver compromisso com a educação Laica, Pública, Gratuita e de Qualidade Socialmente Referenciada. Na medida em que se faz da educação um comércio, divulgado e referenciado pela mídia, nessa mesma proporção deixa de fora milhares de pessoas ao direito constitucional de vivenciar os quatro lados de um educação emancipadora: laicidade, Pública, Gratuidade e Qualidade.


Por: Cristino Cesário Rocha - Professor de SEDF

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