Para
Gustave Le Bon, “as palavras e a dialética sempre foram os mais
terríveis inimigos dos povos latinos. 'Os franceses', disse Moltke,
'sempre tomam as palavras como fatos'. Isso é igualmente válido para os
outros povos latinos.”
Quem acompanhou recentemente os artigos de Jeffrey Nyquist aqui no MSM, tem visto com grande frequência citações do livro Psychologie du socialisme (1898) do psicólogo e sociólogo francês Gustave Le Bon (1841 - 1931). Com prognósticos estarrecedores e extremamente acertados – daqueles que, caso fosse vivo, o autor logo seria chamado de agente da CIA – Le Bon traçou o panorama psicológico (e sociológico) de alguns povos; parece até que Le Bon publicou o livro semana passada sobre algum assunto da ordem do dia.
Embora
Nyquist destaque apenas o que Le Bon falou da América anglo-saxônica,
tive a feliz surpresa em descobrir que Le Bon também fala dos latinos no
livro. Ele não faz referência a uma etnia em específico para se referir
aos latinos, ele fala em termos de “raça histórica”, ou seja, “raças
inteiramente criadas por eventos históricos. Tais raças se estabelecem
quando um povo, que frequentemente é formado por elementos de origens
muito diferentes, foi sujeito durante séculos às mesmas condições
ambientais, modos de vida semelhantes, instituições em comum, além de
crenças e educação idênticas”.
Não
resta pedra sobre pedra. Chega a ser cruel ver a descrição da Itália
com 30 anos de antecedência e toda sua suscetibilidade ao cesarismo
(palavra usada antes do próprio italiano Giovanni Gentile cunhar o termo
“totalitarismo”) que seria seguido por uma dissolução.
Sobre
os latinos em geral, é tamanho o acerto, que a reação às vezes é usar o
famoso termo para tal ocasião: “batata!”. De acordo com o sagaz
francês, “as palavras e a dialética sempre foram os mais terríveis
inimigos dos povos latinos. 'Os franceses', disse Moltke, 'sempre tomam
as palavras como fatos'. Isso é igualmente válido para os outros povos
latinos.”
Sobre
sua predição ele continua: “em todas as eras eles tiveram grandes
oradores, amantes da lógica e das palavras. Pouco preocupados com o
mundo dos fatos, eles amam grandiosamente uma ideia, desde que ela seja
simples, generalizadas e apresentadas numa linguagem elegante”. Parece
até um pré-Imbecil Coletivo.
Sobre a nossa (des)preocupação com a realidade, Le Bon faz uma comparação:
“Um anglo-saxão sempre se coloca de acordo com os fatos e necessidades, nunca joga a responsabilidade pelo que acontece a ele no governo e pouco se importa com as óbvias indicações lógicas. Ele acredita na experiência e sabe que os homens não são conduzidos só pela razão. Um latino sempre deduz tudo da lógica e reconstrói sociedades inteiras baseado em planos traçados à luz da razão. Tal era o sonho de Rousseau e de todos os escritores daquele século.”
“Um anglo-saxão sempre se coloca de acordo com os fatos e necessidades, nunca joga a responsabilidade pelo que acontece a ele no governo e pouco se importa com as óbvias indicações lógicas. Ele acredita na experiência e sabe que os homens não são conduzidos só pela razão. Um latino sempre deduz tudo da lógica e reconstrói sociedades inteiras baseado em planos traçados à luz da razão. Tal era o sonho de Rousseau e de todos os escritores daquele século.”
Mais
cruel – e certeiro – que isso, só quando ele começa falar das
repúblicas da América Latina: “Consideremos primeiro as nações no mais
baixo nível de civilização na escala das civilizações latinas: as vinte e
duas repúblicas (em 1898) da América”. Sobre estas bandas, Le Bon diz:
"O saqueio é generalizado nessas infelizes repúblicas e todo mundo deseja tomar parte nisso; a guerra civil é uma instituição permanente e os presidentes são sistematicamente assassinados para que se dê lugar a um novo partido no poder e, deste modo, deixar que eles se enriqueçam. Esse estado de coisas continuará ininterruptamente até que algum talentoso aventureiro se coloque como chefe de alguns milhares de homens disciplinados e se empenhe na fácil tarefa de conquistar esses infelizes países e os coloque sob um regime de mão de ferro, o único digno de nações desprovidas de virilidade e moralidade e incapazes de governarem a si mesmas”.
Creio eu que dispensa comentários esse trecho, não?
"O saqueio é generalizado nessas infelizes repúblicas e todo mundo deseja tomar parte nisso; a guerra civil é uma instituição permanente e os presidentes são sistematicamente assassinados para que se dê lugar a um novo partido no poder e, deste modo, deixar que eles se enriqueçam. Esse estado de coisas continuará ininterruptamente até que algum talentoso aventureiro se coloque como chefe de alguns milhares de homens disciplinados e se empenhe na fácil tarefa de conquistar esses infelizes países e os coloque sob um regime de mão de ferro, o único digno de nações desprovidas de virilidade e moralidade e incapazes de governarem a si mesmas”.
Creio eu que dispensa comentários esse trecho, não?
O
livro está repleto de exemplos reais das teorias enunciadas (eu como
bom latino fui pouco atento à realidade e só recortei a belas teorias.
Veja só!). Embora no fim do capítulo sobre os latinos Gustave Le Bon
fale que nossa propensão à dominância não seja motivo para pânico e que a
situação é reversível, o tapa foi muito forte e – insisto – certeiro
para uma mera assopradinha dar conta de amenizar.
A
dor é tanta que ninguém se atreveu a traduzir isso para o português até
hoje – embora seja possível encontrar outras obras dele traduzidas.
Logo imagino um acadêmico de humanas pegando esse livro e fazendo aquela
cara de ojeriza que logo se transmuta naquela afetação de
superioridade. A surra foi demasiada violenta para se admitir.
Leonildo Trombela Júnior é jornalista e estudante de filosofia.
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