Jornalista Andrade Junior

terça-feira, 27 de novembro de 2012

O povo colombiano deve rejeitar a sentença de Haya

A Colômbia acaba de padecer um grande fracasso histórico, geopolítico, geoestratégico e de segurança nacional.

Os fatos o demonstram. O cinismo crescente corre pelas veias dos mal governantes colombianos, como se não houvesse acontecido nada de grave com a evidente perda de mais ou menos 100 quilômetros de mar territorial.

Santos, a chanceler Holguín e seu bando de assessores, não apenas querem continuar aferrados às delícias da burocracia, senão que desejam contar com a conivência do povo colombiano para que não se lhes diga nada, lhes perdoe sua estupidez funcional, os rodeie de solidariedade e os ratifique nos cargos, enquanto passa a tormenta midiática e os colombianos nos acostumamos à idéia de que já se perdeu esse tramo e não há nada a fazer.

Porém, isso não é assim. O povo colombiano é soberano por lei natural. Portanto, tem total direito a desconhecer uma sentença espúria de uma corte estrangeira, inclinada a defender os interesses políticos, estratégicos e geopolíticos da Nicarágua. O espaço de mar territorial que nos querem roubar é patrimônio nacional e, em conseqüência, o povo soberano está em seu direito universal de se negar a aceitar essa sentença. E ponto.
Porém, como o atual mandatário e sua leviana equipe de assessores em relações exteriores não vão renunciar nem muito menos resolver nada, acompanhados por um Congresso da República débil, timorato e carente de patriotismo, além de até o dia de hoje coonestado com silêncio cúmplice e atitudes pusilânimes da desfaçatez do presidente e sua chanceler, é o momento oportuno, histórico e de “efervescência e calor”, como disse Acevedo y Gómez, para que o povo colombiano em sua majestade se faça sentir.

A primeira expressão popular gigantesca deve ser uma manifestação nacional em todas as cidades, municípios, aldeias e corregedorias, rechaçando a sentença da Corte de Haya, desconhecendo seu conteúdo e declarando-se em desobediência civil a respeito, com atas e assinaturas necessárias para deixar constância histórica de que ninguém brinca com a soberania de nossa pátria.

Em segundo lugar, esse é o momento oportuno para que os patriotas, que somos mais de 40 milhões de colombianos, iniciemos a incessante campanha de recolher as assinaturas necessárias para que seja revogado o mandato do presidente Juan Manuel Santos. Aqui não vale o conto barato de que quando chegou à presidência tudo já estava caminhando e que, pelo contrário, os colombianos saímos a lhe dever.

Não senhor! Santos tinha a faca e o queijo na mão, porém, por manter a chanceler Holguín dedicada a adubar sua imagem pessoal em viagens caras e improdutivas, inclusive uma onerosa e inoficiosa Cúpula de Cartagena para ganhar a veleidosa capa na revista Time, e facilitar o apoio do voto hispânico a Obama nos Estados Unidos, se esqueceu do fundamental, como diria Gómez Hurtado. Nada de re-eleições deste personagem já funesto para a história do país. Nem sequer merece terminar seu mando.

Os fatos o demonstram. A Colômbia acaba de padecer um grande fracasso histórico, geopolítico, geoestratégico e de segurança nacional. Não obstante, o senhor Santos olha para o outro lado, faz politicagens de dois dias na ilha e volta a falar de cultivos ilícitos e outras ervas, como se não tivesse acontecido nada tão grave.

Em terceiro lugar, a chanceler Holguín, os ex-chanceleres e ex-presidentes da República que tiveram a ver com este fiasco iniciado pela Nicarágua há três décadas, todos, sem exceção, devem ser julgados com rigorosidade no Congresso da República, e se sua atuação ou omissão contemplam cárcere por eventual traição à pátria, que paguem. Sem contemplações. “A pátria está acima dos partidos”, disse Benjamín Herrera e das “ascendências ilustres e pergaminhos pessoais”, abonamos de nossa própria colheita.

Por outro lado, este é o momento dos partidos políticos se pronunciarem. Aterra o silêncio cúmplice das direções nacionais liberal e conservadora, além da evidente cumplicidade dos comunistas que não deram nem um pio porque sabem que isso convém ao Plano Estratégico das FARC e de seu sócio Hugo Chávez.

Tampouco ouve-se “Colombianos pela Paz”, nem a senadora Gloria Ramírez, nem muito menos as ONG’s sem cabeça visível que diariamente inventam calúnias contra quem questiona sua resvaladiça ideologia marxista-leninista. Tampouco aparecem as universidades, nem os meios de comunicação, todos, ao que parece, muito santistas, esperam que o pé-d’água amaine e que como dezembro já chega com sua alegria, mês de festas e de diversão, então viva a festa e Güepa! [1]...

Tampouco aparecem os ex-ministros de defesa muito dados a se auto-atribuir os êxitos das tropas em seu momento mas que hoje deveriam estar à frente do debate nacional, até que se faça justiça e clareza. Muito menos vemos os generais do Exército que eram demasiado bravos nos quartéis e causavam terror quando visitavam as tropas como Fracica Naranjo, Pedraza Pélaez, Mora Rangel, Suárez Bustamante e outros personagens, desses que se passam por silvestres em nossa fauna local, que hoje deveriam estar defendendo a integridade nacional com a mesma arrogância com que naquela ocasião tratavam aos subalternos. Todos brilham por suas ausências.

Muito menos se vê os analistas políticos e de temas de segurança nacional, que pontificam sobre o divino e o humano nos programas de opinião. Menos ainda aparecem os politiqueiros que em campanhas eleitorais prometem o céu e a terra, e até se disfarçam de futebolistas quando a seleção da Colômbia joga. Tampouco fala o vice-presidente Garzón, nem seu xará Lucho, dois linguarudos de marca maior quando se trata de buscar prebendas e conchavos partidistas. Nem Peñaloza, nem Mokus, nem Serpa, nem Noemí, nem Ingrid, nem Luis Eladio, nem Consuelo González, nem Sigifredo, nem Navarro Wolf, nem os ex-procuradores. Ninguém...
Silêncio total de todos os politiqueiros que se “alavancam” no curso de Defesa Nacional para acrescentar dados ao seu currículo. Ou a de centenas de profissionais a quem agrada se disfarçar de tenentes, capitães, majores e até coronéis da reserva, mas que na maioria dos casos para usufruir do uniforme. Hoje brilham por sua ausência e baixo perfil calculado.

E os ex-congressistas, embaixadores, os decanos das faculdades de direito e ciências políticas onde se graduaram como profissionais, os “magos internacionalistas” que nos deixaram perder o pleito, ficam calados. A Colômbia não dói a ninguém, porque somos um país alheio a seu destino, aos objetivos nacionais, à visão estratégica, a entender que temos o inimigo ao lado no Palácio de Miraflores, porém somos complacentes com o cúmplice das FARC e provável cérebro por trás dos bastidores para a sentença de Haya.

Muitos procedem do mesmo modo a como atuaram os desinformados magistrados que invalidaram os computadores de Reyes como provas, ou como o padreco com problemas sociológicos que disse em Cali que Alfonso Cano era um “pobre velhinho sem nadinha que comer”. Segundo eles, tudo já está perdido porque somos um país respeitoso das leis, mesmo que os demais não as respeitem para “danar” a Colômbia.

Por isso, mais uma vez como o demonstra a história universal, só o povo em sua sabedoria e têmpera coletiva pode aproveitar este momento histórico para exigir a revocatória do mandato de um presidente inferior ao desafio, de uma chanceler torpe e incompetente e, ao mesmo tempo, a responsabilidade política e, se for caso penal, dos que falharam por ação ou omissão durante os últimos 30 anos.

Tudo isto, é claro, se há caráter no Congresso da República, sob pena de que o próprio povo se atreva e também revogue as cadeiras dos congressistas por ser inferiores à sua responsabilidade histórica.

PS: Em um país com dignidade como a Suécia, Noruega ou Dinamarca, o presidente e seu “staff de Relações Exteriores” teriam caído. E se tivesse sido no Equador, os indígenas os teriam tirado de seus gabinetes a chapelaços.

Nota da tradutora:
[1] “Güepa” é uma expressão popular intraduzível, para exprimir alegria, júbilo, contentamento, tal como as nossas “Uêba!”, “Ôba!” e similares.

Tradução: Graça Salgueiro

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