Ataques a rabinos e cemitérios
judaicos tornam-se cada vez mais comuns, embora a resposta do governo
húngaro seja dura. Vários já foram condenados.
Desde que recebi notícias de uma organização húngara chamada Pax Hungarica Mozgalon (PHM) e publiquei em meu blog passei a investigar mais detalhes e descobri que o que já cheirava mal é muito pior. O título deste artigo se refere ao ressurgimento do antissemitismo ostensivo, não um renascimento, pois o antissemitismo nunca morreu, mas desde o Holocausto há certa vergonha em promovê-lo ostensivamente. Não mais! Os dados não são abundantes, já que tais organizações mantêm grande parte de sua estrutura ‘invisível’.
Por enquanto limitei minha investigação à Hungria e o fato de quase todo o material ser em húngaro e poucos têm tradução para o inglês dificulta o entendimento. Com a ajuda de uma amiga húngara e usando o tradutor do Google, com todas suas limitações, foi possível levantar muita coisa das quais só posso aqui fazer um breve resumo.
Outra dificuldade é que o PHM não está oficialmente registrado na Hungria, talvez seu registro esteja em outro país, mas é um movimento tolerado e de nenhuma forma proibido. No entanto, não existe nenhum registro a respeito dos membros (nomes, quantidade, posição dentro do movimento), só se sabe que não aceitam homossexuais, judeus, ciganos (a Hungria é dos países com maior quantidade de Ciganos) e membros que não sejam católicos. São três os pilares sobre os quais se assenta: cristianismo, socialismo e nacionalismo, que na Hungria se chama hungarismo. Não há referência de estímulo à erradicação violenta de outras nacionalidades e etnias, mas veladamente está voltado para expulsão do país de duas: judeus e ciganos. Seu programa deixa explícito que os húngaros não podem conviver com judeus e ciganos. Usam o mesmo uniforme dos antigos hungaristas: botas militares negras, calças (ou saias) idem, camisas verdes, gravata marrom com uma braçadeira vermelha contendo a letra H sobreposta a um quadrado girado para a direita e cercados de ramos verdes. A maioria dos homens raspa a cabeça (skinhead).
O PHM é uma organização claramente fascista, parte do assim chamado movimento hungarista fundado antes da II Guerra por Ferenc Szálasi. Seu fundamento é: "só há um caminho para nós, a luta incondicional pela vitória do hungarismo. Lutaremos em quaisquer circunstâncias e a qualquer preço, enfrentaremos a morte e seremos perseguidos, mas não podemos descansar até a vitória final do hungarismo."
Outro movimento similar é o 'Sangue e Honestidade', organização extremamente radical e violenta. Foi banida, porém existem laços claros entre as duas, pois o porta-voz desta última, Endre Janos Domokos, tornou-se o presidente do PHM.
Uma terceira é a Guarda Negra, que freqüentemente atacava ciganos, até mesmo fisicamente. É preciso constar que os ciganos são os maiores responsáveis por violências e homicídios contra pessoas de idade e de 90% dos assaltos e furtos nas últimas duas décadas, o que reforça o apoio popular às organizações fascistas.
Embora oficialmente banida, possui conexões com um pequeno partido nacionalista radical, Jobbik Magyarországért Mozgalom (Movimento dos Melhores Húngaros).
Os partidos atualmente no poder, FIDESZ (Aliança dos Jovens Democratas) e KDNP (Partido Popular Democrata Cristão) aparentemente mantêm relações de colaboração com o Jobbik, inclusive alguns poucos membros do Parlamento são abertamente membros deste partido, como Tamás Gaudy-Nágy que já fez discursos antissemitas no Parlamento, ainda que desautorizado pela direção dos partidos.
Das 360 religiões e seitas existentes na Hungria, somente 18 foram licenciadas pelo Ato das Religiões e Igrejas recentemente aprovado contrariando a Carta da União Européia que defende a liberdade religiosa. A religião judaica, uma das aprovadas, tem atuação totalmente livre. Um forte antissemitismo existe dentro da Igreja Católica, principalmente na classe média, embora represente uma minoria. A grande maioria dos católicos rejeita o antissemitismo, mas as minorias, como sempre, são as mais ruidosas.
A população mais suscetível às pregações fascistas são os pobres com educação deficitária e a camada mais radical dos operários. Ataques a rabinos e cemitérios judaicos tornam-se cada vez mais comuns, embora a resposta do governo húngaro seja dura. Vários já foram condenados. Recentemente o Memorial do Holocausto foi alvo de pichação ofendendo os judeus e exigindo sua expulsão. Como o espaço é curto deixo para depois outras informações.
Publicado no jornal Visão Judaica, de Curitiba.
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