por Carlos Adriano Ferraz
No último final de semana nosso Ministro da Educação, Abraham Weintraub, declarou que quer “mais médicos, mais enfermeiros, mais engenheiros, mais dentistas”. E acrescentou que não quer mais sociólogos, antropólogos e filósofos.
Confesso que também não quero.
Mas importa observar o seguinte. Ingressei em 1991 (como estudante) em um curso de filosofia. Desde então me submeti a todos os “rituais de passagem”, desde a graduação, passando por pós-graduações, até meu ingresso em uma universidade federal, como professor, em 2005.
Portanto, minha opinião não é a de alguém que desconheça a realidade das nossas “humanidades”, tampouco de alguém motivado por preconceitos contra cursos como o de filosofia. Tais cursos, por eles mesmos, são importantíssimos, e há muito trigo em meio ao sufocante joio.
Na verdade, as “humanidades” são parte fundamental do surgimento e desenvolvimento de nossas universidades desde o medievo. Eu tenho insistido que o problema não está nas “humanidades”, mas naquilo em que elas foram transformadas.
Em verdade, minhas opiniões, hostilizadas em meu entorno e por meus “pares”, não revelam preconceito contra as “humanidades”, mas uma revolta contra seu vilipêndio causado pelos bárbaros que hoje as dominam. Esse é um ponto que precisa ser enfatizado de largada: é imperioso resgatar as “humanidades” da influência perniciosa daqueles que hoje as tiranizam.
Dessa forma, o que temos testemunhado em nossas universidades é uma degenerescência da educação “humanística”. Tal educação foi contaminada por ideologias miseráveis, como aquelas oriundas da Escola de Frankfurt, do pós-modernismo, do pós-estruturalismo, as quais, de jaez socialista, se infiltraram de forma parasitária nas universidades, inicialmente causando danos à universidade para, em seguida, lesar a sociedade civil.
Afinal, ideias têm consequências. Se as ideias da esquerda “humanística” universitária fossem inócuas, seriam mera diversão circense de mau gosto. Mas elas não se limitam aos guetos de mediocridade em que foram transformadas nossas “humanidades”.
Como um câncer elas fazem metástase, e com elas se espraiam seus danos para a sociedade civil. Algumas ideologias malévolas que hoje causam danos aos indivíduos e à sociedade foram concebidas, algumas ao menos tiveram seus pressupostos assentados, em nossas “humanidades”.
Por exemplo, a ideia de desarmamento da população, de desmanicomialização, de descriminalização de criminosos, de estímulo ao uso “recreativo” de drogas ilícitas, de desarmamento da polícia, de defesa da pornografia, de legalização ampla do aborto, de eliminação da família ‘tradicional’ (homem, mulher e filhos oriundos dessa relação), de banalização do divórcio, bem como de estímulo da sexualidade em crianças (e consequente pedofilia – já chamada por alguns pervertidos de “sexo intergeracional”) e da promiscuidade em geral, são alguns dos exemplos de ideias que surgiram em autores como Foucault e outros degenerados, cujas biografias revelam muitos sobre seu caráter e ideias corruptas.
Com efeito, se há alguma dúvida sobre a importância das palavras de nosso Ministro da Educação, atentemos, então, apenas para alguns exemplos do que tem sido feito nas “humanidades” de nossas universidades.
Vejamos, por exemplo, os títulos e temas de algumas dissertações e teses (lembrando que uma bolsa de mestrado da CAPES/MEC é de R$1.500,00 mensais, sendo a de doutorado R$ 2.200,00), alguns dos quais já citei em outros textos aqui no JCO. Em seguida nos perguntemos: é nisso que quero meu dinheiro investido?
1. “A folia dos cus prolapsados: pornografia bizarra e prazeres sexuais entre mulheres”;
2. “Feminilidades, masculinidades e glamour: Uma etnografia da rede de concursos de beleza gay cearenses”;
3. “O diabo em forma de gente: (R)existências de gays afeminados, viados e bichas pretas na educação”;
4. “Negras raízes questionam a ciência ocidental”;
5. “Orgias entre homens: territórios de intensidade e socialidade masculina”;
10. “A produção das masculinidades e socio-espacialidades de homens que buscam parceiros do mesmo sexo no aplicativo Tinder em Rio Grande, RS”;
11. “Prazeres sexuais anais e a produção do olhar pornô em vídeos pornográficos”;
12. Dissertação sobre mostrar o c* contra o capital (“Tropicuir. (Re)existências políticas nas ações performáticas de corpos transviados no Rio de Janeiro”);
13. Dissertação para o seu autor ter experiências sexuais em um banheiro público: “Fazer banheirão: as dinâmicas das interações homoeróticas nos sanitários públicos da Estação da Lapa e adjacências”;
14. Dissertação sobre “Mulheres perigosas: Uma análise da categoria piriguete”;
15. Dissertação: “A Zuadinha é tá, tá, tá, tá: representação sobre a sexualidade e o corpo feminino negro”;
16. Dissertação: “Erótica dos signos nos aplicativos de pegação: processos multissemióticos em performances íntimo-espetaculares de si”;
17. Dissertação: "Personagens emolduradas: os discursos de gênero e sexualidade no Big Brother Brasil 10”.
Temos, inclusive,
18. Tese sustentando que “não é possível afirmar que a pedofilia seja, em sua totalidade, sinônimo de violência sexual contra a criança”: "A pedofilia e suas narrativas: uma genealogia do processo de criminalização da pedofilia no Brasil”.
Se não bastassem tais dissertações e teses, ainda há eventos como:
1. ‘Semana da diversidade’, na qual houve, por exemplo, oficina de masturbação feminina e “gaymada”;
2. Na Universidade Estadual de Maringá ocorreu o ‘V Simpósio Internacional em educação sexual’, no qual alunas realizaram atos eróticos diante do público;
3. Em 2014 ganhou notoriedade o evento (ligado a um grupo de pesquisas vinculado ao CNPq) ‘Xereka Satânik’, repleto de situações grotescas, dentre as quais uma envolvendo a performance de uma feminista que costurou sua vagina com uma bandeira do Brasil em seu interior. Tal evento ocorreu na Universidade Federal Fluminense;
4. Houve, na Universidade Federal do Amapá, um ‘simpósio sobre gênero e diversidade’ com direito a oficina de masturbação feminina e higienização anal antes do sexo.
Acho que podemos parar por aqui. No entanto, se o leitor desejar conhecer outras “pesquisas” e “eventos” congêneres, recomendo uma visita a repositórios de dissertações e teses, bem como de sites de cursos nas áreas humanísticas com divulgação de seus “eventos”.
São incontáveis os exemplos que dão suporte à afirmação de nosso Ministro da Educação. O dinheiro dos pagadores de impostos tem subsidiado “pesquisas” que, ou são como as acima citadas, ou são aparentemente sérias, mas apenas servem para inflar currículos, pois são absolutamente irrelevantes, seja porque ninguém as cita, seja porque são colchas de retalhos formadas por uma mixórdia de textos oriundos de outros autores.
Esse é o atual estado de coisas nas “humanidades”.
Além disso, se considerarmos que um estudante em uma universidade pública tem um custo altíssimo para os pagadores de impostos (cerca de 14 mil dólares ao ano, segundo a OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), a preocupação do Ministro é corretíssima.
Temos, pois, o direito de demandar uma justificativa atinente ao impacto positivo dessas “pesquisas” e eventos subsidiados pelos nossos impostos.
Em que medida fomentam a busca pela verdade?
Como contribuem para a solidificação dos pilares morais que estabeleceram e protegem o mundo civilizado?
De que maneira promovem a prosperidade?
Essas são apenas algumas das questões que deveriam ser colocadas diante dos exemplos acima, os quais, aliás, estão longe de serem incomuns (especialmente nas ‘humanidades’). Recebo frequentemente boletins de associações em minha área, e em todos vige a primazia crescente de livros, eventos, etc, tão aberrantes quanto os que citei acima.
As “humanidades” parecem ter se voltado contra seu propósito originário, a saber, o “humano” e seu “florescimento”. Nesse sentido, elas engendraram ideais lesivos cujo propósito parece ser a dissolução da civilização que se consolidou ao longo dos mais recentes milênios.
Dessa maneira, concordo plenamente com o desabafo de nosso Ministro da Educação. É preciso redimensionar nossos parcos recursos e direcioná-los para áreas que, de alguma forma, causem prosperidade, como áreas da saúde e áreas STEM (Science, technology, engineering, mathematics).
As “humanidades” precisam passar por um redimensionamento rigorosíssimo, especialmente para fomentarem a prosperidade moral, a qual é essencial à resolução de diversos de nossos problemas sociais cujas causas são mais morais do que materiais.
Em suma, é imperioso resgatarmos a universidade dos bárbaros que a invadiram para que possamos assegurar nossa prosperidade material e “espiritual”. Uma das alternativas era a MP 979/20, a qual permitiria ao MEC escolher reitores pro tempore para as universidades durante esse período de emergência causado pela pandemia do COVID-19.
Contudo, a esquerda universitária, aliada a políticos também de esquerda, rapidamente se articulou para impedir, ainda que contrariando a Constituição, a MP 979/20, usurpando, assim, uma prerrogativa de nosso Presidente.
Cientes de que essa medida provisória poderia representar uma ameaça ao seu poder sobre a gestão universitária, imediatamente se uniram para impedir que nossas universidades pudessem adentrar o caminho da prosperidade. Isso apenas revela que estamos em uma cruzada contra bárbaros instalados intramuros. Ou os sobrepujamos ou os danos às universidades e à sociedade civil em breve serão, se já não o são, irreversíveis.
Carlos Adriano Ferraz - (Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), com estágio doutoral na State University of New York (SUNY). Foi Professor Visitante na Universidade Harvard (2010). Atualmente é professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) na graduação e no Programa de Pós-Graduação em Filosofia, no qual orienta dissertações e teses com foco em ética, filosofia política e filosofia do direito. Também é membro do movimento Docentes pela Liberdade (DPL), sendo atualmente Diretor do DPL/RS)
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