Jornalista Andrade Junior

terça-feira, 23 de junho de 2020

LARANJAS

MIRANDA SÁ

“Se você tem uma laranja e troca com outra pessoa que também tem uma laranja, cada um fica com uma laranja. Mas se você tem uma ideia e troca com outra pessoa que também tem uma ideia, cada um fica com duas. ”  (Confúcio)
Em tempo de pandemia virulenta seja com o novo coronavírus maléfico ou com a política cada vez mais nefasta, vale a pena falar de laranja, uma fruta festejada em toda parte que, como verbete dicionarizado é originário do árabe “narandja” e curiosamente pode ser substantivo feminino e substantivo masculino.
A versão feminina se refere ao fruto da laranjeira e a versão masculina significa pessoa utilizada por outra como intermediária em fraude e negócios suspeitos, como aplicar dinheiro obtido ilegalmente.
Os dicionários de gíria se referem à laranja para pessoa simples ou ingênua, e nos Sertões a palavra é masculinizada “laranjo” usada como referência à cor de bovinos.
Com menção ao coronavírus, lembro que a laranja é usada medicinalmente para o tratamento de males que derivam de infecções, como a dermatite e a cistite, porque além da famosa vitamina C, contém ácido fólico, cálcio, potássio, magnésio, fósforo e ferro.
Houve época em que os médicos recomendavam beber suco de laranja para “limpar” o organismo antes de determinadas cirurgias, ativando suas propriedades antioxidantes.
É ilustrativa a história de como a laranja doce foi trazida das fraldas do Himalaia para a Europa no século XVI pelos portugueses. Por isso são chamadas de “portuguesas” em vários países, especialmente na Itália e nos Bálcãs. No grego é portokali e portakal em turco.
Além de vários tipos que conhecemos, laranja-Bahia, laranja-da-terra, laranja-lima, laranja-pera, laranja-seleta e laranja vermelha, também designa cor, cor-de-laranja ou alaranjado.
A laranja entrou na literatura em livros como “Meu Pé de Laranja Lima”, clássico de José Mauro de Vasconcellos, que se popularizou com duas novelas, da década de 1970, de Ivani Ribeiro pela TV-Tupi, dirigida por Carlos Zara, com Cláudio Correia e Castro; e, na TV-Bandeirantes, sob a direção de Del Rangel, tendo como protagonista Gianfrancesco Guarnieri.
“Meu Pé de Laranja Lima” chegou ao cinema nacional com o filme também baseado no livro de José Mauro, sob a direção de Marcos Bernstein; cheio de ternura e ingenuidade, confrontou-se com o horror trazido à tela pelo badaladíssimo filme de Stanley Kubrick, “Laranja Mecânica” extraído do romance distópico de Anthony Burgess “A Clockwork Orange”.
O livro de Burgess se inspirou num fato real ocorrido em 1944: o estupro, por quatro soldados americanos, da primeira mulher do autor, Lynne, e o filme é realmente horroroso, amedrontador, mostrando um grupo de delinquentes liderados por um psicopata, que buscam o prazer através da ultraviolência.
Este funesto enredo desenvolvido por Kubrick nos leva ao pânico proporcionado pela pandemia que atravessamos, uma mistura maligna da covid-19 com a politicalha reinante no Brasil, com o fanatismo e o ódio tentando estuprar a Democracia.
É grave e lesiva a convergência dos extremismos de direita e esquerda desprezando as medidas de segurança que o momento exige; e, criminosamente, com o exemplo vindo de cima para baixo…
Laranjas políticos e profissionais se juntam aos laranjas virtuais (termos registrados no Dicionário de Gíria de J. B. Serra e Gurgel) para as tramoias, as rachadinhas, e levando às redes sociais a transgressão da lei e da ordem que vigoram no Estado de Direito.
Como híbrida da toranja e da tangerina, temos uma laranja entre as chamadas laranjas sanguíneas, conhecida como “Moro”.  Ao encontra-la na pesquisa, lembrou-me Sérgio Moro, o caçador de corruptos, que disse: “Talvez alguns entendam que o combate ao crime deve ser adiado indefinidamente, mas o povo brasileiro não aguenta mais!”
Esses “alguns”, da direita e da esquerda o odeiam por isso…









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