por Vitor Hugo Soares
Ateu que acredita em milagres – depois da entrevista do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) no Jornal Nacional e diante dos disparos barulhentos e raivosos de ofensas e ataques pessoais aos apresentadores William Bonner e Renata Vasconcelos (além de rajadas contra a TV Globo e seus donos) nas redes sociais em chamas, – rogo a Santo Antonio da Glória e ao Senhor do Bonfim da Bahia, para que livrem o País de “um mal passo” nas eleições presidenciais que se aproximam.
Na véspera, fenômeno semelhante já se dera em relação à passagem do candidato do PDT, Ciro Gomes, pela bancada de âncoras do JN, os dois como o Diabo gosta (Deus também, creio) e o jornalismo vibra em prós e contras. Sem refresco também, na quarta e quinta, para Geraldo Alckmin (PSDB), e Marina Silva ( REDE). Produção ao vivo, de competência técnica, conteúdo informativo e polêmico, sem espaço para oba-oba. Falhas, exageros e equívocos também, por parte dos entrevistadores, sim. Mas Renata e Bonner, no balanço geral, fizeram o que se espera de profissionais de comunicação ao entrevistar candidatos em campanha eleitoral: perguntas sobre temas de interesse público, que cobram respostas cabais. Sem concessões a proselitismos vazios, gabolices intelectuais, arrogâncias explícitas ou mal disfarçadas, dubiedades, desculpas esfarrapadas ou valentias retóricas que cheiram a bravatas.
Na prece referida no começo deste artigo reproduzo um exemplo de minha mãe (atenta ouvinte de TV e crítica ate a morte dos malfeitos de políticos e donos do poder) e tias sertanejas, nas ladainhas da matriz da cidade da infância na beira do São Francisco (o rio da minha aldeia), quando o tempo fechava, e relâmpagos e trovões ameaçavam tempestade. Rodado profissional do ramo, o que vi e ouvi nas quatro sabatinas (de regras e estilos já conhecidos) não me impactam negativamente nem me constrangem. Tudo (ou quase) ficou dentro da expectativa de um programa de TV com o alcance e repercussão do JN. Em seguida à passagem de Ciro, comentei em meio ao bafafá ideológico ( à “direita” e à “esquerda”) contra Renata e Bonner nas redes sociais:
“A essência de uma entrevista está nas perguntas e nas respostas. Nos fatos, como a questão do SPC. Não importa a “simpatia” ou “antipatia” de entrevistadores ou do entrevistado. Não é uma reunião para troca de amabilidades ou uma ação entre amigos, mas oportunidade de produzir informações, revelar contradições, desmascarar imposturas. Do contrário vira tudo uma sala de rede social, onde o que importa é parecer bonzinho, obter “curtidas”. Aí está a diferença e por esta razão a imensa repercussão da entrevista política de candidatos no principal noticiário da TV Globo. Para o jornalismo, para os jornalistas , para os candidatos e, principalmente, para o público ouvinte e eleitor”.
No Jornal do Brasil aprendi com Juarez Bahia, editor nacional, mestre de teoria e prática da comunicação de várias gerações de profissionais brasileiros (repórter vencedor de seis “Esso de Reportagem”, prêmio maior do jornalismo nacional ): “Os maiores riscos da entrevista – seja em que contexto for – estão na dissimulação e na fabulação. Porque, diz Edgar Morin, se fundamenta na fonte mais rica e duvidosa de todas: a palavra”. Bahia deixou este ensinamento escrito em seu essencial Dicionário de Jornalismo. Recomendo e assino embaixo.
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta
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