Jornalista Andrade Junior

terça-feira, 18 de setembro de 2018

ESPIRAL DO SILÊNCIO E VOTO FEMININO EM BOLSONARO

 por Paulo Moura.

Os estudos contemporâneos em Teoria da Comunicação aventam três hipóteses explicativas que podem ajudar a entender como se "fabrica" uma suposta opinião pública nos dias de hoje. São elas as hipóteses da Newsmaking (fabricação de notícias); da Agenda Setting (agendamento de pautas na mídia), e da Espiral do Silêncio.
Sinteticamente e assumindo o risco da imprecisão, os estudos sustentam que hoje a produção e publicação de notícias passa por um processo de manufatura na "cozinha" das agências de notícias e veículos de imprensa, que padroniza e pasteuriza os conteúdos de modo em que se produz uma certa distorção entre o fato e a versão publicada. O repórter autor desapareceu.
Esse processo facilita o agendamento de pautas na mídia, pois os inputs de introdução de conteúdos nessa linha de produção de "notícias" não são aleatórios e casuais, mas controlados por canais determinados. O acesso a esses canais possibilita a certos agentes introduzir e massificar (agendar) pautas para o debate público.
Já a hipótese da Espiral do Silêncio constitui-se numa explicação sociológica para a formação da "opinião pública". Parte da constatação de que o ser humano é atavicamente impelido ao convívio social por necessidade de autodefesa e sobrevivência. Essa condição desenvolve no ser humano a necessidade de pertencimento e aceitação em grupos sociais. Temendo o isolamento e a exclusão ou bullying, a maioria dos indivíduos tende a se adaptar à conduta grupal, adaptando-se ao padrão de comportamento do grupo a que quer pertencer, ou calando-se (ainda que contrariado). Quem dita os padrões do grupo? Uma minoria de indivíduos com vocação para a liderança. Dessa forma, cria-se uma maioria artificial resultante do silêncio e submissão do grupo ao padrão da minoria que lidera e influencia.
Aplicando-se a teoria à prática temos no Brasil a seguinte situação. A minoria organizada e barulhenta da esquerda pauta a mídia com sua agenda: ideologia de gênero; política de cotas raciais, e, com a ideia de que Bolsonaro é um cara violento, machista, racista, misógino e homofóbico. Esse conteúdo é introduzido nos inputs das mídias tradicionais, tendo-se em conta que as redações de toda a grande mídia são dominadas por jornalistas de esquerda que selecionam as notícias, manufaturam os textos e definem as pautas. Paralelamente, esses grupos organizados atuam nas mídias sociais com as mesmas pautas, criando, por exemplo, o tal grupo de "Mulheres contra Bolsonaro", que, por sua vez vira notícia e retroalimenta o mecanismo.
Pronto; está fabricado o pano de fundo para as manchetes que estampam a "suposta" rejeição das mulheres ao Bolsonaro. Cria-se assim um clima coercitivo de opinião nos grupos sociais de convivência que constrange eventuais pessoas simpáticas a Bolsonaro a declarar o voto nele sob pena de "pegar mal" e de gerar a exclusão do grupo se as pessoas assumirem o que realmente pensam.
É possível romper e inverter a Espiral do Silêncio? Sim. Tivemos o caso do referendo das armas em 2005 e, mais recentemente, do impeachment de Dilma Rousseff. Em 2005, no momento em que os defensores do direito de posse de armas legais tiveram direito ao horário de TV para defenderem seus argumentos e acertaram na comunicação, a espiral do silêncio se inverteu e os defensores da restrição às armas que lideravam as pesquisas com 80% de aprovação, perderam o referendo por 65% dos votos.
O impeachment da Dilma começou com grupos minoritários espontâneos atuando nas ruas e nas mídias sociais numa época em que havia mais liberdade e menos controles das empresas donas das mídias digitais. Éramos chamados de loucos e radicais. Na mídia tradicional e no meio político essa minoria atuando por fora do sistema virou o jogo e conquistou o impeachment da petista.
Como? Grupos sociais reais organizados e mobilizados atuando na sociedade e nas mídias sociais descobriram-se como maioria silenciosa a romperam a espiral do silêncio.
Minha hipótese, em consonância com a análise que fiz em outro artigo (A eleição 2018 e o efeito capote – http://emaconteudo.com.br/2018/08/29/a-eleicao-2018-e-o-efeito-capote/) é a de que podemos estar em vias de testemunhar outra ruptura da espiral do silêncio em torno do voto em Bolsonaro e que, boa parte dessa virada virá do voto feminino no candidato.
Digo isso pois nas últimas semanas tenho me dedicado a fazer um estudo qualitativo dos perfis das mulheres que apoiam Bolsonaro nas mídias sociais. O que constatei? Em primeiro lugar que são muitas. Em segundo lugar, que boa parte delas está organizada em grupos ativos nas mídias sociais e na sociedade real. Em terceiro lugar, que após o atentado à vida do candidato esse apoio cresceu e o apoio tornou-se mais ativo e explícito, fato aliás comprovado pelos cruzamentos de dados das pesquisas recém-publicadas.
Opinião pública não é estatística medida por pesquisa publicada. A opinião pública é um bicho vivo e que se mexe sob influência de lideranças e grupos sociais organizados e mobilizados para tornar a sua verdade predominante na sociedade, processo esse catalisado em situações de disputa eleitoral acirrada e polarizada como a que temos.
No artigo acima citado fiz referência ao fato de que hoje, no Brasil, há apenas dois polos sociais com poder de mobilizar pessoas; os apoiadores de Bolsonaro e os apoiadores do PT. Acrescento, a bem da precisão, que o poder mobilizador do bolsonarismo hoje é muito maior que o do PT. Basta ver a quantidade de gente que sai às ruas em defesa do mito e a quantidade de gente que a esquerda mobiliza em torno dos seus candidatos.
Bolsonaro tem, entre as mulheres, um grupo organizado e politicamente mobilizado nas ruas e nas mídias sociais respeitável tanto pelo número como pela qualidade das ativistas que têm se pronunciado em vídeos nas redes em defesa do seu candidato.
Assim como no comportamento de compra, as mulheres diferem dos homens na hora de definir suas escolhas políticas. Têm um estilo mais light, são menos impulsivas, mais cuidadosas e conservadoras, não são agressivas, argumentam racionalmente, analisam variáveis e possiblidades e pensam antes de escolher. Mas, no momento em que se decidem, passam a ser influenciadoras nos seus círculos de relacionamento.
Após o atentado as pesquisas revelam que Bolsonaro cresce sobre os demais concorrentes; inclusive lulistas, sobre o bloco do não voto (indefinidos), sobre extratos socioeconômicos mais amplos, e, também, sobre o eleitorado feminino. Esse crescimento sugere a possibilidade que o "efeito capote" pode estar se materializando em favor de Bolsonaro e que o crescimento do candidato entre as mulheres pode estar indicando o início da ruptura da espiral do silêncio que constrange o voto feminino no mito.
Qual o tamanho e a extensão dessa "onda"? Não é possível saber. Há um potencial de crescimento inercial em curso resultante do sentimento de solidariedade à vítima agregado ao enfraquecimento dos constrangimentos sociais impostos aos simpatizantes enrustidos de Bolsonaro.
Se os grupos que comandam a campanha de Bolsonaro chegarem a um acordo e pararem de bater cabeça em público e se acertarem no posicionamento estratégico a ser adotado no momento em que o candidato puder voltar a se pronunciar em vídeo pelas mídias sociais, há uma razoável chance de que se amplie esse crescimento. É precipitado afirmar hoje que possa vencer no primeiro turno. Mas, que essa possibilidade entrou no radar entrou.
O antipetismo é o maior partido do Brasil hoje e o crescimento de Haddad incentiva a migração do voto útil em Bolsonaro para impedir o perigo maior. Nessas horas quem quer tirar o PT busca o mais forte e capaz de fazer isso. Na guerra de rejeições a do Bolsonaro pode cair e a do PT, subir.
*Paulo Moura é cientista político.


























extraídadepuggina.org

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