por José Nêumanne
Findo o inverno da “eleição sem Lula é fraude” e do “Lula livre”, pois
se esgotaram os esforços para driblar a Lei da Ficha Limpa nas altas
instâncias do Judiciário, chegou a primavera do “ele não”. Com a chapa
de direita do capitão reformado do Exército e deputado federal Jair
Bolsonaro no topo das pesquisas de intenção de voto, excluído o
ficha-suja Lula, condenado a 12 anos de prisão por corrupção passiva e
lavagem de dinheiro, resta à esquerda e ao soit-disant “centro
democrático” o podre expediente de desacreditar o eleitor a pretexto de
desqualificar o candidato. As pesquisas os assustam muito: o político
do baixo clero, de pífia atuação parlamentar, formando chapa com um
general boquirroto da legenda de aluguel de propriedade do usuário do
monotema eleitoral do “aerotrem”, Levy Fidelix, pode ganhar o pleito já
em 7 de outubro, no primeiro turno, e dificilmente não disputará o
segundo, ou seja, não está de todo afastada a possibilidade de chegar à
Presidência da República pelo voto popular.
Para evitar o desfecho previsível e anunciado, mas nem por isso
inexorável, um exército de corneteiros do apocalipse se pôs em marcha. A
cantora baiana Daniela Mercury desafiou sua colega Anitta, que havia
caído em pecado ao “seguir” amiga declarada eleitora do capitão
demolidor, a negar-lhe apoio. Temendo as consequências do assédio, a
outra se declarou, correndo, adepta do #elenao, hashtag da
moda. “Quero deixar claro para vocês, se ainda não ficou, que eu não
apoio o candidato Bolsonaro”, postou a cantora. Ciro Gomes, natural de
Pindamonhangaba, cidade paulista onde nasceu Geraldo Alckmin, e suserano
da República de Sobral, colou na camisa do líder nas pesquisas o rótulo
de “protofascista”. O PSDB parece disposto a liderar uma campanha para
reformar a Constituição e proibir simpatizantes do venezuelano Hugo
Chávez de disputarem eleições no Brasil, à exceção do PT de Lula, Dilma e
Haddad, é claro. ACM Neto, presidente do DEM, prefeito de Salvador e
timoneiro da nave tucana, que faz água em mar turbulento, foi além, ao
sugerir que “eleição não pode ficar entre prisão e facada”. Marina
Silva, adepta de panos quentes, filosofou: no primeiro turno, o eleitor
pode votar no candidato do coração e deixar para evitar um desafeto na
rodada definitiva.
O Estado apurou
que um grupo de “artistas, advogados, ativistas e empresários articula
um manifesto contra a candidatura de Jair Bolsonaro”. Segundo Renata
Agostini, uma versão preliminar do manifesto conta com cerca de 150
assinaturas, entre elas as de Maria Alice Setúbal, educadora e acionista
do Itaú Unibanco, protagonista da campanha de Dilma contra Marina em
2014; do economista Bernard Appy, que foi secretário de Política
Econômica do governo Lula; do empresário Guilherme Leal, sócio da Natura
e financiador de campanhas de Marina; de Caetano Veloso, ex-devoto do
“Lula livre” e eleitor declarado de Ciro; do advogado e professor da FGV
Oscar Vilhena; e do médico Drauzio Varella.
Segundo a reportagem, “o documento intitulado Pela democracia, pelo Brasil não
indica apoio à candidatura do Partido dos Trabalhadores (PT) nem de
qualquer um dos adversários do deputado, mas afirma ser necessário um
movimento contra o projeto antidemocrático do candidato do PSL”. Reza o
texto: “É preciso dizer, mais que uma escolha política, a candidatura de
Jair Bolsonaro representa uma ameaça franca ao nosso patrimônio
civilizatório primordial (sic). É preciso recusar sua normalização, e somar forças na defesa da liberdade, da tolerância e do destino coletivo entre nós (sic)”.
O documento diz que o País já teve em Jânio Quadros e Fernando Collor
de Mello “outros pretensos heróis da pátria, aventureiros eleitos como
supostos redentores da ética e da limpeza política”, mas que acabaram
levando o Brasil ao “desastre”. E, em apelo às trágicas lembranças da
2.ª Guerra Mundial, os autores do relambório proclamam: “Nunca é demais
lembrar, líderes fascistas, nazistas e diversos outros regimes
autocráticos na história e no presente foram originalmente eleitos, com a
promessa de resgatar a autoestima e a credibilidade de suas nações,
antes de subordiná-las aos mais variados desmandos autoritários.”
Ao contrário de Bolsonaro, Jânio chegou à Presidência da República após
ter sido eleito e cumprido mandatos na Câmara Municipal e na Prefeitura
de São Paulo, no governo do Estado e no Congresso Nacional. Renunciou ao
cargo mais alto e, depois, disputou o governo paulista e foi, de novo,
eleito e empossado prefeito da maior cidade do País. Qual dos 150
eventuais signatários da cartilha citada tem a apresentar a seus
prosélitos tantas demonstrações de apreço popular? Talvez tais
manifestantes nem saibam, mas, consultando a Wikipédia, saberão que
Fernando Collor “foi prefeito de Maceió de 1979 a 1982, deputado
federal de 1982 a 1986, governador de Alagoas de 1987 a 1989 e
o 32.º presidente do Brasil, de 1990 a 1992. Renunciou à Presidência da
República em 29 de dezembro de 1992, horas antes de ser condenado
pelo Senado por crime de responsabilidade, perdendo os direitos
políticos por oito anos. Posteriormente, voltou às disputas eleitorais
e, desde 2007, é senador por Alagoas”. Ou seja, as instituições
continuaram funcionando.
Talvez não tivessem como encontrar notícias de que o desastre que ora
vivemos e que pode resultar até na vitória de seu adversário
preferencial foi provocado pelos catastróficos desgovernos do
presidiário Lula e da futura senadora pelo PT de Minas, Dilma Rousseff.
Com o auxílio luxuoso do vice Temer, que ajudou o poste de Lula a chegar
à Presidência e, depois, beneficiou-se da incúria, incompetência e
inabilidade da titular da chapa que derrotou o tucano Aécio Neves em
2014.
Os responsáveis pela “advertência” sobre os malefícios que podem advir
de uma eventual (e não inevitável) vitória de Bolsonaro têm todo o
direito de votar em quem bem entenderem e até mesmo de encontrar bons
motivos para convencerem quem não os acompanha de que deveriam fazê-lo. O
que não devem é se comportar como se fossem revisores universais da
soberania popular ou, o que é pior, tentar tutelar a decisão do cidadão
diante da urna. Cobrar de Jânio, Collor, Lula, Dilma, Temer e até de
Aécio pela traição que cometeram no exercício do cargo público para o
qual foram eleitos ou derrotados é lícito, válido e pode ser
explicitado. Tentar censurar o eleitor enganado pelos erros de quem os
ludibriou é nefanda má-fé de quem pratica esse ato vil, de mera covardia
cívica.
Caso diferente é o de representantes de seis centrais sindicais que
divulgaram, no sábado, 22 de setembro, nota de repúdio ao mesmo
Bolsonaro. Sob o título Sindicalistas contra o projeto fascista de Bolsonaro,
representantes da Força Sindical, das Centrais dos Trabalhadores e das
Trabalhadoras do Brasil (CTBs), da Nova Central Sindical, da
Intersindical e da Conlutas a nota classifica Bolsonaro como
“antitrabalhadores” e repudia o candidato do PSL “por sua postura
antidemocrática, intolerante com minorias, que faz apologia da
violência, e pela sua conivência com práticas repugnantes, como a defesa
de torturadores”. Para os sindicalistas, a eleição de Bolsonaro pode
representar “ameaça de retorno a (sic)
ditadura militar”. A argumentação se insere na liberdade permitida pela
luta política, da qual o marketing negativo faz parte, como, aliás, a
propaganda dos partidos no rádio e na televisão exibe sem pudor nem
justa causa.
Detalhe interessante no caso é que a Central Única dos Trabalhadores
(CUT), braço sindical do PT de Lula, Dilma e Haddad, não subscreveu o
documento, a exemplo da União Geral dos Trabalhadores (UGT). A ausência
tem motivo político: ao contrário do “Centrão”, ao qual se associa parte
da esquerda viúva do presidiário de Curitiba, o partido deste tem noção
de que está no jogo e se dispõe a disputá-lo para ganhar ou perder. No
caso de derrotada por Bolsonaro, o que temem seus adversários da dita
“terceira via” (risos gerais no salão), e talvez tenham razões que nós
outros desconhecemos para tanto, os petistas sabem que logo ocuparão o
confortável camarote da oposição. Dele combaterão à luz dos holofotes as
catástrofes que profetizam Alckmin, Ciro e Marina, ao lado da pretensa
censora de biografias Paula Lavigne. E, então, tirarão proveito, como já
o fizeram antes, dos erros dos adversários, o que tornará lana caprina a
culpa deles mesmos nos desastres provocados pelos próprios desgovernos.
Ou seja: ele não? Por que não?, cantarolava o signatário Caetano…
Com Blog do Augusto Nunes, Veja
extraídaderota2014blogspot
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