por Hélio Schwartsman
“Por que a verdade não seria mais estranha do que a ficção? A ficção,
afinal, precisa fazer sentido.” O chiste acima, atribuído ao escritor
norte-americano Mark Twain, faz todo o sentido. Quem cria uma história
precisa curvar-se às exigências da estrutura narrativa e da
verossimilhança; já quem se limita a relatar fatos corre maior risco de
parecer caótico e contraditório.
Gosto de Fernando Haddad.
Considero-o um dos melhores quadros do PT. Mas a história que ele e o
partido estão contando nesta campanha é quimérica demais para passar sem
reparos.
Na narrativa petista, o país ia bem sob as administrações da legenda.
Havia forte crescimento com distribuição de renda. As elites, porém, não
podiam admitir que pobres enriquecessem e, por isso, decidiram desferir
um golpe para tirar Dilma Rousseff do poder. Ao fazê-lo, destruíram a economia, nos lançando numa das piores recessões da história.
E,
para assegurar que o PT não voltaria, essas mesmas elites deram um
jeito de montar uma farsa judicial para colocar o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva na cadeia. Eleger Haddad seria a única forma de resistir a esse ataque à democracia.
Simples demais para ser verdade. Entre os muitos furos na história,
destaco os dois que me parecem mais graves. Não há alusão ao fato de que
foram erros, alguns deles grosseiros, na política econômica de Dilma
que precipitaram a crise.
Também não se menciona que o PT, ao lado de outros partidos, se envolveu em enormes esquemas de corrupção e que Lula foi sentenciado no
curso de um processo regular, que correu num ambiente democrático.
Mesmo que existam dúvidas sobre a suficiência das provas que o
condenaram, não há como contestar que ele se meteu numa relação para lá
de promíscua com empreiteiros, o que já basta para comprometê-lo no
campo ético.
Sempre que a história contada por um candidato for muito redondinha, desconfie.
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