por J.R. Guzzo
O Brasil vive um desses momentos em que tudo parece acertado para “dar
ruim”, como se diz. A economia está doente ─ crescimento perto do nada,
desemprego devastador, falta de confiança na responsabilidade do
governo, da oposição e de quem mais está fazendo política, atraso
apavorante no entendimento e na aplicação de tecnologia. A educação
caminha para garantir a permanência de milhões de brasileiros na
escuridão; suprime-se cada vez mais a transmissão de conhecimento,
substituída pela transmissão das crenças, dos desejos e da pura e
simples ignorância de professores e burocratas que mandam no ensino. Foi
eliminado no Brasil o trabalho livre: os cidadãos e as empresas são
servos da classe que transformou a máquina pública em sua propriedade
particular e hoje, na prática, trabalham apenas para sustentar o Estado.
Não há mais financiamento; há agiotagem. O Tesouro Nacional está
quebrado.
Quando se chega a esse nível de desastre, morre qualquer conversa de
“política econômica” ─ e, mais ainda, a costumeira fraude de “discutir
com a sociedade” as soluções a tomar. Não tem de conversar nada, e muito
menos perguntar para o doente qual o tratamento que ele prefere. A
única saída racional é apagar o incêndio que está rolando aí, e para
apagar o incêndio utiliza-se os meios conhecidos desde sempre ─ como,
por exemplo, jogar água em cima do fogo. Depois, quando não houver mais
risco de morte, talvez venha ao caso debater se o melhor é tratar a
economia assim ou assado. Mas o que se vê todos os dias no Brasil é a
cegueira coletiva diante do fogaréu. Discute-se fórmulas, em vez de se
trazer o caminhão pipa. Ou, então, não se discute coisa nenhuma a sério ─
só despejam mais gasolina sobre as chamas.
Estamos em plena campanha presidencial e até agora nenhum dos
candidatos, seus partidos e os sistemas que os apoiam deram o mais
remoto sinal de que pretendem trazer água para apagar o incêndio que
está queimando o país. Ao contrário: falam de tudo, menos disso. Estão
diariamente na mídia, mostrando-se escandalizados e indignados com os
horrendos problemas à vista de todos, mas não lhes passa pela cabeça
comprometer-se com nenhuma das providências mais elementares, todas elas
conhecidas desde a Arca de Noé, para enfrentar a emergência. Pior: nem
sequer percebem que eles próprios, com a sua maneira de pensar e de
praticar política, fazem parte do problema, e não da solução. Propor o
que, então, se o problema são eles? Ninguém diz que não há nenhuma
possibilidade, mas nenhuma mesmo, de se chegar a algum lugar enquanto o
Brasil tiver, como tem no momento, mais de 700.000 funcionários públicos
que jamais fizeram concurso para ocuparem seus cargos. Ninguém lembra
que é inviável, simplesmente, um país onde o Senado tem uma gráfica
própria. Ninguém percebe que é impossível melhorar alguma coisa enquanto
o governo usar o dinheiro da população para manter no ar um canal de
televisão que jamais saiu da casa dos 0% de audiência desde que existe.
O último magnata a falar sobre “projeto econômico” foi o suposto candidato por procuração do PT, Fernando Haddad ─ dos outros minions do
ex-presidente Lula é melhor nem dizer nada. As propostas de Haddad, em
sua aparente função de Guia Econômico da Esquerda Nacional, seriam
ouvidas com algum interesse, talvez, no tempo do faraó Ramsés II. De lá
para cá, ele parece não ter adquirido consciência de que surgiram
economias modernas e que elas têm elementos mínimos de funcionamento.
Não é só que Haddad desconheça a existência do capitalismo; o real
problema é que desconhece o que vem acontecendo na economia do mundo nos
últimos dez anos. Sua grande ideia: usar o dinheiro das reservas
internacionais para “investir” e “criar empregos”. Por que não tentar
descobrir uma mina de ouro no semiárido do Nordeste? Por que não trazer
professores cubanos para melhorar o ensino da matemática? Por que não
mandar uma expedição à Marte?
O Brasil, às vezes, parece que não tem conserto.
Exame
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