por Celso Ming
Se as agências reguladoras se tornaram “antro de ladroeira e corrupção” e
se “estão emparelhadas por politiqueiros”, como observou um empresário
ao candidato Ciro Gomes, o que, então, fazer com elas?
Ciro respondeu na segunda-feira que sua “tentação é fechá-las”. Depois,
emendou: “Não sei se vou fechá-las, vou convocar o empresariado para a
gente discutir”. E criticou a gestão da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa), da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a
Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Enfim, Ciro Gomes parece
vacilante sobre o assunto. Dos outros candidatos não se sabe o que
pensam.
As agências reguladoras não são organismos de governo, mas de Estado.
São autarquias cuja função é garantir o cumprimento das regras limpas do
jogo em cada setor, de maneira a que nem o poder político nem o poder
econômico obstruam ou contrariem o interesse público. Por isso, seus
dirigentes devem gozar de autonomia administrativa, de mandato fixo não
coincidente com o do Poder Executivo e da prerrogativa de não serem
demissíveis a não ser por justa causa.
Os governos do PT não entenderam a função das agências. Logo no primeiro
ano do seu governo, Lula não escondeu o estranhamento. Declarou
diversas vezes que as agências operavam com indesejada independência,
sem levar em conta determinações do seu governo. E, daí em diante, não
fez outra coisa senão submetê-las ao mesmo tratamento dispensado às
demais estatais, que foi o de ocupar e lotear a administração para
transformá-la em instrumentos de poder político e, até, de fonte de
recursos destinados a fins inconfessáveis.
Sucessivamente, seus dirigentes foram substituídos, primeiramente, por
próceres políticos e, depois, por gente afinada com as corporações
também encasteladas no governo, que passaram a fazer o jogo dos maiorais
do mercado que deveriam regular.
E apenas para dar dois exemplos, foi assim que a Aneel passou a defender
os interesses das distribuidoras de energia elétrica, a ponto de seu
diretor-geral, André Pipetone, afirmar que o governo deveria remover os
benefícios concedidos àqueles que vêm investindo em energia renovável,
especialmente a eólica e a solar. Ou seja, a Aneel passou a ver
concorrência desleal nos produtores formigas dessa energia, e não como
contribuidores para recomposição da matriz energética do País.
Também se viu que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) decidiu
em junho, baixar resolução que regulamentou os planos de saúde em que os
associados arcam com pelo menos 40% dos procedimentos médicos. Essa
resolução, revogada depois de suspensa por liminar do Supremo, atendia
os administradores de planos de saúde.
Em julho, levantamento realizado pelo jornal O Globo mostrou
que em oito das onze agências reguladoras federais, 32 cargos
executivos dos 40 existentes foram ocupados por gente indicada por
políticos, cujo critério, em geral, passa longe da isenção e do
profissionalismo que se quer de um dirigente de agência reguladora.
A solução não está na supressão dessas agências, como sugeriu o
candidato Ciro Gomes, mas em saneá-las e reconduzi-las ao cumprimento da
função para a qual foram criadas.
O Estado de São Paulo
extraídaderota2014blogspot
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