por Carlos Alberto Sardenberg
O próximo presidente vai gastar muito dinheiro — algo em torno de R$ 1,4
trilhão. Essa espantosa despesa consta da Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO), já aprovada pelo Congresso, e que será a base do
projeto de Orçamento federal para 2019 — o qual, aliás, será encaminhado
amanhã ao Legislativo.
Olhando o dinheiro, muitos candidatos se encantam. E os candidatos
liberais se encantam mais ainda quando verificam que a União dispõe de
estatais e imóveis. Já pensaram?
Vendem-se ativos, paga-se dívida e tome gastos sociais e investimentos.
Pura ilusão. O presidente vai mesmo gastar aquele trilhão e tanto, mas não vai decidir onde e como.
Começando pelo Orçamento, conforme os parâmetros da LDO. A maior parcela
vai obrigatoriamente para benefícios do INSS, nada menos que R$ 635
bilhões. Depois, vem a folha de salários e encargos do funcionalismo,
com R$ 322 bilhões. Em seguida, a conta de despesas sociais, como o
benefício de prestação continuada. Mais R$ 225 bilhões. Somando essas
três rubricas, já se foi a parcela de 83,5% do gasto total.
Há ainda despesas que podem ser remanejadas aqui e ali, mas têm que ser
feitas, por determinação constitucional, em educação e saúde. Isso leva
mais R$ 135 bilhões.
Tudo somado e subtraído, daquela espantosa cifra inicial sobra para o
próximo presidente decidir onde gastar a mixaria de R$ 98 bilhões, algo
como 7% da despesa total. E para todo o funcionamento da máquina e
investimentos.
É verdade, que na parte das receitas, tem um dinheiro bom — R$ 303
bilhões — que são renúncias fiscais, ou dispensa do pagamento de
impostos para diversos setores e empresas. É tentador: cancelem-se
algumas isenções e aparecem mais alguns bilhões.
Verdade, mas as isenções não caíram do céu. Foram colocadas no Orçamento
por lobbies políticos e econômicos bastante poderosos, que continuam
todos por aí. Não será fácil eliminá-las, tudo dependendo de negociações
no Congresso. Dirão: o presidente recém-eleito vem com muita força. Mas
os deputados e senadores também estarão carregados de votos novos.
Deve-se notar ainda que todas as despesas previstas para 2019 na LDO
registram aumentos em relação a este ano. Há, por exemplo, reajustes
salariais para diversas categorias, inclusive para juízes. A conta de
aposentadorias continua subindo.
Há candidatos falando em introduzir o orçamento de base zero. Significa
eliminar todas as vinculações e regras obrigatórias. Bacana, mas depende
de um amplo conjunto de emendas constitucionais e centenas de leis.
E o dinheiro das privatizações e imóveis? De fato, há estatais que valem
dinheiro, como a Petrobras e o Banco do Brasil, não por acaso aquelas
cuja venda tem mais restrição política, ideológica e de poderosas
corporações.
E os imóveis? No balanço patrimonial da União aparece uma fortuna, pouco
mais de R$ 1 trilhão, com a observação de que muitos imóveis podem
estar subavaliados.
Todo governante novo — por novo entendendo-se aquele que nunca esteve no
poder federal — começa com essa expectativa, de fazer caixa com a
alienação de imóveis.
Mas quando se olha a coisa no detalhe, o quadro muda bastante. Nesse
trilhão e tanto, encontram-se: parques, reservas, quartéis das Forças
Armadas, prédios de repartições e escolas, os tais palácios,
residências, como o Alvorada ou o Jaburu, e até estradas. É verdade que
se poderia vender a luxuosa residência do vice-presidente, o Jaburu, já
que o vice não faz nada, a não ser política ou politicagem. Mas quem o
compraria? Daria um hotel? Sem condição.
Cita-se muito como um bom ativo o velho prédio do Ministério da Fazenda,
no Centro do Rio. De novo, quem compraria um edifício deteriorado,
precisando de reformas, num momento em que sobram prédios comerciais?
Todos admitem que há problemas nas contas públicas. Já é um avanço. O
próximo passo é admitir que a crise fiscal é muito grave, urgente e,
pois, sem soluções simples. Há dois pontos aqui: primeiro, o candidato
entender o tamanho da encrenca; segundo, mostrar isso ao eleitorado e
convencê-lo de que não há solução fácil.
O Globo
extraídaderota2014blogspót
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