editorial do Estadão
O jornal britânico Financial Times publicou no dia 21 um artigo
de Fernando Henrique Cardoso no qual o ex-presidente critica duramente
seu sucessor, Lula da Silva, por enxovalhar a imagem do Brasil no
exterior – a mais recente estocada foi um artigo, publicado pelo New York Times,
em que o petista diz, entre outras barbaridades, que sua prisão “foi a
última fase de um golpe em câmera lenta destinado a marginalizar
permanentemente as forças progressistas no Brasil”.
Em resposta a essa patacoada, FHC escreveu que “a maneira que Lula da
Silva escolheu para se defender perante o mundo (...) tem de ser
contestada”, pois “sua versão da história recente do Brasil guarda
escassa relação com a realidade”. Diz também que “o ex-presidente
retrata o Brasil como uma democracia em ruínas, na qual o Estado de
Direito deu lugar a medidas arbitrárias destinadas a enfraquecê-lo e a
seu partido”, o que “não é verdade”.
Depois de descrever as muitas mentiras de Lula sobre o “golpe” contra a
presidente Dilma Rousseff e sobre o processo que condenou o petista à
cadeia, FHC afirma que “é uma grave distorção da realidade (...) dizer
que há uma campanha no Brasil para perseguir indivíduos específicos” e
termina com um protesto: “Meu país merece mais respeito”.
Já não era sem tempo. A máquina lulopetista de agitação e propaganda,
calejada depois de mais de três décadas destruindo reputações alheias e
construindo a mitologia de seu morubixaba, há muito tempo trabalha para
convencer a opinião pública no exterior de que o impeachment de Dilma e a
prisão de Lula foram parte do tal “golpe” destinado a “reverter o
progresso dos governos do PT”, como diz o caviloso artigo do chefão
petista. Era mesmo necessário que alguém da estatura de FHC, reconhecido
internacionalmente como estadista, viesse a público manifestar seu
repúdio mais veemente contra essa campanha de desinformação e má-fé.
Mas o fato é que o estrago está feito. O aparato da seita de Lula para
desmoralizar a democracia brasileira no exterior mobilizou tantas
frentes que hoje é praticamente impossível tentar conter seus danos por
meios tradicionais, como a diplomacia, ou com artigos na imprensa
estrangeira.
São artistas, intelectuais, professores universitários e políticos de
diversos países, todos convencidos de que Dilma Rousseff caiu em razão
de um “golpe” e que Lula da Silva é um “preso político”. Pudera: até uma
“greve de fome” os petistas deflagraram para caracterizar o “estado de
exceção” brasileiro.
Essa campanha de desinformação não para de dar frutos. No mês passado,
por exemplo, o cientista político Steven Levitski, de Harvard, autor do
best-seller Como as Democracias Morrem, disse em entrevista ao Estado que
o impeachment de Dilma “viola o espírito das leis” e que a exclusão de
Lula da corrida presidencial “é algo perigoso a se fazer” – como se, em
ambos os casos, a lei não tivesse sido seguida.
O mesmo equívoco, mas numa dimensão muito maior, cometeu o ex-chanceler do México Jorge Castañeda. Em artigo no New York Times, intitulado Por que Lula deve ter permissão para concorrer à Presidência,
Castañeda argumenta que “a causa de Lula foi endossada por muitas
figuras internacionais ao redor do mundo” e sugere que seu caso se
assemelha à perseguição política empreendida pelas ditaduras da
Venezuela e da Nicarágua contra seus oponentes. Após dizer que impedir a
candidatura de Lula seria marginalizar milhões de eleitores que querem
“seu ídolo de volta à Presidência”, ele completa: “As acusações (contra
Lula) são tão frágeis, os alegados crimes, tão pequenos, a sentença, tão
escandalosamente desproporcional (...) que a democracia deveria se
sobrepor ao Estado de Direito” – ou seja, o “desejo” dos eleitores de
Lula deveria prevalecer sobre a lei.
Quando prestigiados intelectuais, alguns com boas credenciais
democráticas, se deixam encantar dessa forma pelas patranhas de Lula, a
ponto de abdicar da defesa do Estado de Direito – que é o pilar da
democracia, pois assegura que ninguém, nem mesmo deidades como Lula,
está acima da lei –, só resta esperar que a Justiça brasileira não
vergue ante essa espantosa histeria coletiva.
extraídaderota2014blogspot
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