por Ruy Fabiano
O que une todos os presidenciáveis, sem exceção, é a constatação de que não há como vencer a guerra eleitoral sem malhar – e muito – o chamado establishment político.
Todos são contra a velha política, manchada de corrupção e ineficiência, mas todos dela emergiram – e todos, afinal, nela estão.
São o seu retrato pronto e acabado.
Três deles – Henrique Meireles (PMDB), Geraldo Alckmin (PSDB) e o nome que vier a representar o PT – a simbolizam com maior nitidez, por pertencerem aos partidos que governaram ao longo das três últimas décadas, na sequência dos governos militares.
Mas há também os partidos coadjuvantes, que participaram de todos esses governos, movidos pela fisiologia, que moldou um ecossistema predatório, que, para além do discurso ideológico, unificou o padrão moral de governança e levou o país à falência.
Nem todos, porém, são percebidos como parte da velha política. É o caso de Jair Bolsonaro, que, embora há três décadas no Congresso, tornou-se corpo estranho ao ambiente que frequentou (e frequenta), malhado em uníssono por todos os concorrentes.
Essa rejeição geral, visível no tratamento agressivo e diferenciado que lhe dá a mídia, acentua a percepção de que, se ele não é o novo, é ao menos o fator de ruptura, desejado por amplos segmentos da população, ainda que ela própria não saiba aonde isso a levará. O capital eleitoral de Bolsonaro é a rejeição que provoca no establishment – do qual a mídia faz parte. Por isso, como massa de bolo, quanto mais apanha, mais cresce.
De um lado, ele simboliza o fim de um ciclo e atrai quem isso deseja (e não são poucos); de outro, representa a hipótese de retorno ao ciclo militar, que a falência do poder civil fez ressurgir no imaginário de razoável parcela da população.
A ideia de todos contra Bolsonaro, que o ex-presidente Fernando Henrique verbalizou esta semana, ao propor ao PT e à esquerda em geral um pacto de união no segundo turno, pode ser uma faca de dois gumes. No momento em que a própria política sofre de rejeição em massa, elegê-la como instrumento de demolição de uma candidatura, provoca efeitos que podem sair pela culatra.
Se aqueles que a população identifica como responsáveis pela derrocada do país elegem um inimigo comum, esse personagem tende a ser visto como o antídoto para os males presentes. Por essa via, acabarão por garantir o contrário do que pretendem.
Ruy Fabiano é jornalista
Com Blog do Noblat, Veja
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