por Merval Pereira
Bolsonaro, pré-candidato do PSL à Presidência da República, diz que
sente em suas viagens que tem mais votos do que Lula. Em qualquer lugar
que vá, é recebido por uma multidão de ensandecidos, que o carregam nos
ombros e gritam o mantra “mito, mito” como se estivessem hipnotizados.
Ao contrário de tempos atrás, quando militantes petistas recebiam Lula
onde quer que fosse aos magotes, os bolsominions, como são conhecidos
pejorativamente os seguidores de Bolsonaro, aparentemente se reúnem de
maneira espontânea, não têm a estrutura que os sindicatos forneciam ao
PT.
Há ainda os possíveis “eleitores envergonhados”, que preferem Bolsonaro,
mas não revelam o voto com receio da reação. Não é impossível,
portanto, que o pré-candidato do PSL tenha mais eleitores do que captam
as pesquisas. Contra Bolsonaro, porém, há o voto útil, que em uma
eleição como esta, tão fora de parâmetros, pode ser fundamental já no
primeiro turno.
Diante da possibilidade real de Bolsonaro estar no segundo turno, muito
eleitor tucano pode votar em Marina, assim como parte dos eleitores
petistas que não anularem o voto, cristianizando tanto Geraldo Alckmin
quanto o poste de Lula.
Já Ciro Gomes poderá ter o apoio dos partidos de esquerda que não
conseguem se unir no primeiro turno. Pode ser que a perspectiva de a
esquerda tradicional não ir para o segundo turno faça com que eleitores
dessa tendência invistam em Ciro para evitar que o segundo turno seja
disputado pela extrema-direita contra a centro-direita, que pode ser
representada tanto por Marina quanto por Alckmin.
O candidato tucano, se não deslanchar com o apoio do centrão, poderá ser
abandonado pelos eleitores ainda no primeiro turno. A aposta de Alckmin
é que o tempo de televisão e a máquina partidária do centrão o levarão
para o segundo turno, com um raciocínio analógico da política, quando o
digital domina a campanha. Pode ser surpreendido pela indignação do
eleitorado. Em contrapartida, o voto útil pode ajudar Alckmin caso
esteja disputando o segundo lugar contra Ciro ou Marina.
Como as coligações obedecem a critérios locais, com o MDB sendo aliado
do PT em diversos estados, e a Rede se coligando com forças políticas
que trabalham em outra sintonia, não é possível saber se o enraizamento
de partidos como o MDB, o DEM e o PP sustentará candidaturas
oficialmente escolhidas, ou se essa algaravia partidária facilitará a
traição nacional em troca de vitórias regionais.
O fato de que importa mais aos partidos fazerem bancadas fortes do que
eleger o presidente da República reforça essa possibilidade. A crença de
que Lula transferirá pelo menos metade dos seus votos para um
substituto petista, seja ele quem for, não está sendo confirmada nas
pesquisas eleitorais. Se isso for verdade, há uma boa chance de
eleitores petistas votarem em Marina. Ela é quem mais ganha nessa
situação, seguida de Ciro Gomes, do PDT.
A mais recente pesquisa do Instituto Paraná tentou entender a cabeça do
eleitor. Quando pergunta em quem o eleitor poderia votar, Marina Silva
lidera, mas todos os candidatos, até mesmo Henrique Meirelles ou
Fernando Haddad, têm boa pontuação. Já quando a pesquisa tentou saber em
quem os eleitores votariam com certeza para presidente da República,
Bolsonaro lidera com vantagem sobre Marina Silva, a segunda colocada.
Bolsonaro teve 15,7% de votos consolidados e Marina, 6,3%. Lula aparece
em primeiro lugar com 21,3%, mas está inelegível.
O Instituto Paraná perguntou aos eleitores em quem não votariam de jeito
nenhum, e a má notícia para o PT é que Fernando Haddad tem a maior
rejeição, seguido do tucano Geraldo Alckmin, o que indicaria que, sem a
liderança carismática de Lula, PT e PSDB estão em baixa com o eleitorado
que busca o novo na política.
Jair Bolsonaro e Lula têm a mesma rejeição de 54% do eleitorado. Em
todas as pesquisas, a soma dos votos brancos, nulos e a abstenção supera
Bolsonaro. Os eleitores indecisos, na sua maioria, têm Marina como
alternativa. Todas essas informações demonstram que o voto útil ou o
voto envergonhado pode ter influência decisiva na eleição de outubro,
como também a indignação dos eleitores detectada pelas pesquisas.
O Globo
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