por Nelson Motta O Globo
Se a ascensão e queda do Rio fosse uma série de TV, seria de terror. Não
recomendada para menores de 16 anos por cenas explícitas de chantagem,
extorsão, boquinhas, mamatas, estupro moral, assassinatos físicos e
culturais, canalhices, fraudes e vilezas, linguagem chula, mortes em
corredores de hospitais, crianças sem escola; protagonizada por
governadores, prefeitos, deputados e vereadores que corromperam o
Judiciário e as forças de segurança pública e tornaram o Rio uma terra
sem lei, sem ordem e sem progresso.
Talvez em outros estados não seja muito diferente. Alagoas, Maranhão,
Mato Grosso... Mas o Rio, além de uma série de TV, merece estudo como
um case de
corrupção sistêmica em que a população e juízes e policiais honestos e
corajosos são derrotados por uma Orcrim que se espalha pelo Executivo,
Legislativo e Judiciário como um câncer. Os Três Poderes estão podres,
unidos contra a população que os elegeu e os sustenta com seu trabalho e
seus impostos.
Em todos os estados, começam a crescer os empregos com carteira
assinada, menos no Rio de Janeiro, que desempregou mais de quatro mil
pessoas no mês passado. A economia nacional se recupera lentamente,
menos no Rio, onde o governo e a prefeitura disputam quem é o pior.
E o Rio foi o estado que mais recebeu dinheiro de royalties de petróleo
durante 20 anos, sem qualquer trabalho, apenas porque os poços estavam
em nosso mar poluído. E queimou boa parte dessas fortunas colossais para
enriquecer bandidos que merecem apodrecer na cadeia, porque, com sua
ganância, incompetência e falta de vergonha, não roubaram ou mataram uma
pessoa, mas milhares de contribuintes inocentes.
Olhem a cara desses caras, Picciani, Garotinho, Paulo Melo, Albertassi;
você entregaria a chave do seu carro para algum deles estacionar? Não há
botox ou implante que resolva; podem vestir um terno Armani sob medida
que estarão sempre mal-ajambrados, os policiais da Federal estão sempre
mais elegantes. Os caras tem o physique du rôle do vilão, que no caso pode ser traduzido por físico de criador de rolos.
Mas o Rio de Janeiro continua lindo. E lutando.
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