por Guilherme Fiuza Epoca
Dizem que o Brasil vive uma nova onda de censura e moralismo
conservador. Já temos inclusive vigilantes guardiões da liberdade de
expressão e dos bons costumes atuando vigorosamente. Eles denunciaram,
por exemplo, a queima de uma boneca representando a feminista Judith
Butler em frente ao Sesc Pompeia, em São Paulo, onde a filósofa
americana palestrava. Os arautos da liberdade disseram que os
reacionários usaram métodos medievais para reprimir a defesa dos
direitos da mulher.
É isso aí. Cada um tem o direito de falar o que quiser, onde quiser,
dentro das regras da democracia. Não é isso? Bem, mas então surge a
pergunta: onde estavam esses mesmos ativistas libertários que não
toleram a censura quando a blogueira cubana Yoani Sánchez foi impedida
de falar, no grito, nessa mesma cidade de São Paulo?
Diferentemente de Judith Butler, Yoani não conseguiu nem fazer a
palestra para a qual fora convidada – onde, sintomaticamente,
denunciaria o autoritarismo e a falta de liberdade na ditadura
socialista da ilha. E ela estava dentro de uma livraria. Não teve
conversa: aos berros, os manifestantes progressistas, libertários e
adversários da sociedade moralista e conservadora calaram a palestrante.
Impediram na marra que ela expressasse suas ideias. Reacionários são os
outros.
Não houve nenhuma grita contra a censura por causa disso. Ao contrário,
de lá para cá surgiu um movimento – organizado pelas mesmas figuras
desse 342 contra as trevas – chamado Procure Saber, nascido basicamente
para lutar pela censura prévia a biografias não autorizadas. Um primor
de liberdade, estrelado por esses mesmos heróis da MPB que estão aí
gemendo contra a onda conservadora. Reacionários, obscurantistas,
autoritários e medievais são os outros. É proibido proibir – a não ser
que estejam atrapalhando meus negócios, minha lenda, meu presépio de
bondade tarja preta.
Não deixa de ser comovente todo esse esforço para a construção de um
inimigo imaginário. Agora os arautos de laboratório estão gritando
contra o tabu da nudez. Tabu de quê? No ano de 2017? Depois de tudo que a
TV e a internet escancararam para todas as idades e em todos os lares,
eles resolveram querer chocar a burguesia de novo ficando pelados...
Nostalgia é fogo. Melhor nem contrariar. Como você vai conversar a sério
com alguém que quer ser vanguarda de museu? Outro dia no Rio de Janeiro
havia um grupo de mulheres fazendo topless contra a onda conservadora.
Uma graça, parecia foto de época. Daqui a pouco elas descobrem a pílula
anticoncepcional.
Enfim, inventaram a luta pela liberdade de cativeiro. O sujeito quer de
qualquer maneira ser herói da contracultura e se propõe obstinadamente a
uma masturbação cenográfico-temporal para fingir que o mundo vive
dilemas de meio século atrás. É a mais completa definição do
reacionário, coitado, mas ele ainda encontra plateias aplaudindo sua
modernidade mórbida. Normal. Atrás dos muros altos também há vários
Napoleões ganhando guerras entre um banho de sol e outro.
Os ativistas intrépidos das liberdades não se importaram com a
ideologização vagabunda das provas do Enem. Não há problema transformar
educação em panfleto. E ainda surgiu o requinte da ameaça de nota zero
para o estudante que afrontasse os direitos humanos – e se você quiser
imaginar quem, nesse caso, decidiria o que são direitos humanos, basta
lembrar do bando que calou Yoani Sánchez no berro. É isso aí.
Professores simpatizantes do PSOL, dos black blocs, do MST, do Maduro e
grande elenco da fofura revolucionária avisando: quem desrespeitar os
direitos humanos leva porrada.
Não tinha o general que ameaçava prender e arrebentar quem fosse contra a
abertura política? Então por que os Napoleões de hospício da
contracultura não podem barbarizar os subversivos que ousarem atrapalhar
a lenda deles?
Os novos heróis da liberdade de cativeiro não gritam contra a campanha
medieval para matar os aplicativos de transporte, não gritam contra a
tentativa de censura da exposição sobre as vítimas de Stálin, não gritam
contra a repressão sexual às mulheres e a escravização do povo nos
regimes que seus amiguinhos do PT, PSOL e companhia apoiam. Censura é o
que eles apoiam todas as noites nos seus travesseiros.
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPOT
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