Daniela Amorim - O Estado de S.Paulo
O vendedor ambulante Jorge Luís, de 61 anos, tem saudade da época em que
ganhava três salários mínimos mensais como auxiliar de serviços gerais,
numa empresa prestadora de serviços para a Petrobrás. A perda do
emprego e, consequentemente, da carteira assinada levou dele também
direitos trabalhistas, benefícios e boa parte da renda familiar.
Hoje, vendendo picolés nas ruas do centro do Rio de Janeiro, ele ganha o
suficiente para suas necessidades primárias, mas precisa da ajuda de
parentes para o sustento da casa onde vive em Belford Roxo, na Baixada
Fluminense.
“Naquela época nós éramos felizes e não sabíamos. Eu era mil vezes mais
feliz do que hoje. Eu só consigo tirar meu sustento porque, graças a
Deus, não pago aluguel e minha família me ajuda, todo mundo trabalha”,
contou Luís.
A máxima de que dinheiro não traz felicidade está equivocada, segundo
dados da Sondagem do Bem-Estar apurados pela Fundação Getulio Vargas
(FGV) e obtidos com exclusividade pelo Estadão/Broadcast. Quanto mais alta a renda do brasileiro, maior a pontuação no ranking de satisfação.
Os entrevistados que recebiam até R$ 1.200 por mês – a faixa de renda
mais baixa da pesquisa – tiveram a menor média de felicidade, 7,58
pontos. Na faixa de renda mais alta, pessoas que recebiam R$ 10 mil ou
mais mensais, o nível de satisfação subiu para 8,22 pontos.
“Quando você pensa em satisfação com a vida, você leva em conta vários
aspectos, subjetivos e objetivos. A questão da renda é muito importante,
é bastante tocada nas pesquisas de bem-estar no mundo inteiro. Quanto
maior a renda, a média de felicidade é mais alta”, confirmou Viviane
Seda, coordenadora da sondagem no Instituto Brasileiro de Economia da
Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
Na pesquisa da FGV, a média de felicidade foi crescendo conforme a média
de renda se ampliava: de R$ 1.200 a R$ 2.600 mensais, 7,77 pontos; de
R$ 2.600 a R$ 5.250, 7,94 pontos; e de R$ 5.250 a R$ 10.000, 8,09
pontos.
Diego Nicheli Chagas viu sua satisfação pessoal aumentar conforme
ascendia profissionalmente e financeiramente. Em menos de oito anos, o
jovem passou de trainee a coordenador na área financeira do Grupo
Estácio. Há apenas seis meses veio a última promoção, virou gerente de
Operações Financeiras no conglomerado de educação.
“O salário foi ficando mais elevado, a vida começou a mudar. Eu, que era
noivo, consegui me casar. Hoje minha mulher e eu temos a nossa casa.
Depois de sete anos, além de ter me estabilizado financeiramente, estou
estabilizado profissionalmente, estou muito mais feliz”, disse ele.
Conquistas. Com
a evolução da renda, surgiram novas oportunidades, descobertas,
experiências para toda a família. “Venho de uma família um pouco mais
humilde. Tive uma ascensão profissional rápida e consegui conquistar
muitas coisas que não imaginava. Com certeza estamos mais satisfeitos
agora. Com um salário maior você tem acesso a coisas novas, restaurantes
melhores, viagens internacionais. Conseguimos proporcionar até para as
nossas famílias algumas dessas viagens”, disse Diego.
Se por um lado a evolução da renda afeta positivamente a felicidade, o
desemprego e a desigualdade impactam negativamente, mostrou a pesquisa
da FGV. “O Brasil é um País em desenvolvimento, tem muito a evoluir, tem
que focar principalmente na redução da desigualdade. Não adianta
aumentar a renda para uma faixa apenas. A renda tem que ser mais bem
distribuída”, afirmou Viviane.
Homens são mais felizes que as mulheres. Paulistas estão mais
satisfeitos do que os cariocas. A diferença pode ser também explicada
pela renda. Os homens tiveram 7,98 pontos no ranking de felicidade, ante
7,90 pontos das mulheres, numa escala de 0 a 10. Em São Paulo, o nível
de satisfação alcançou 7,96 pontos. No Rio, o resultado foi de 7,91
pontos.
“Provavelmente essa média maior de felicidade em São Paulo do que no Rio
tem a ver com a renda mesmo”, contou a coordenadora da pesquisa.
Apesar das diferenças, na média geral, os países da América Latina têm
pontuação alta em relação a outros lugares do mundo, lembrou Viviane
Seda: “Isso acontece por conta da questão do convívio social maior, mais
interação entre as pessoas, isso ajuda na sensação de bem-estar”.
A Sondagem do Bem-Estar ouviu 2.594 moradores das cidades do Rio e São
Paulo. A primeira fase de coleta ocorreu entre os dias 1.º de junho e 4
de agosto de 2016, enquanto a segunda etapa foi a campo de 5 de setembro
a 31 de outubro do mesmo ano.
extraídaderota2014blogspot
0 comments:
Postar um comentário