editorial de O Globo
O Brasil tem 16.866 quilômetros de fronteiras terrestres, o que representa cinco vezes e meia a extensão da divisa entre Estados Unidos e México. O dado, por si só, já mostra o desafio que é vigiar esses limites de modo a impedir a entrada de drogas e armas no país.
O próprio ministro da Defesa, Raul Jungmann, reconhece o tamanho do problema:
“Evidentemente que você tem uma tarefa muito ampla, que é cuidar da fronteira, a terceira maior do mundo. Ninguém consegue visualizar o que são quase 17 mil quilômetros. É pegar um avião em linha reta de São Paulo, atravessar o Atlântico Sul, o sul da África, passar pelo Oceano Índico, pela Malásia, e chegar ao Japão".
A impressão é que, por maiores que sejam os contingentes empregados pelas forças de segurança, eles estarão sempre enxugando gelo. “Não adianta botar homem na faixa de fronteira inteira. A tecnologia avança a cada dia. Tem que ter sensores, analisar o que os satélites pegam e selecionar isso para definir uma ação. Isso está sendo feito, mas depende um pouco do esforço do país na parte orçamentária", afirmou o general Fernando Azevedo e Silva, chefe do Estado-Maior do Exército.
Com o objetivo de testar a vigilância nas fronteiras, em setembro de 2015 uma equipe do GLOBO comprou, em Ciudad del Este, no Paraguai, uma réplica de fuzil M16 e viajou 1.700 quilômetros até o Rio de Janeiro, de ônibus, com o equipamento numa sacola.
Durante o longo trajeto, autoridade alguma pediu para revistar a bagagem. A réplica foi entregue, no Rio, ao então secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, que não tergiversou: “Não é crítica aos órgãos, mas a entrada de armas pelas fronteiras do país é um problema sério e deve ser tratado como prioridade".
Não é à toa que o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron), implantado pelo Exército em 2012, aposta no uso da tecnologia, integrando satélites, radares, sensores e outros instrumentos de monitoramento para combater o problema. Mas, até agora, o Sisfron cobre apenas 660 quilômetros de fronteiras, 4% do total. Embora o governo prometa aplicar R$ 470 milhões no sistema este ano, o fato é que os recursos têm diminuído nos últimos tempos.
A vulnerabilidade das fronteiras está por trás de boa parte dos problemas de segurança que afligem os estados brasileiros, do poderio bélico dos traficantes fluminenses à guerra de facções que resultou em massacres dentro de presídios do Norte e Nordeste.
E, se não é possível espalhar agentes pelas fronteiras, até pelas características geográficas de algumas regiões, é preciso fazer uso da tecnologia e da inteligência. Um bom exemplo foi dado durante a Rio-2016, com a integração das forças de segurança e a cooperação com os serviços de inteligência de outros países. Graças a esse trabalho, a Polícia Federal conseguiu prender suspeitos de planejar atos terroristas durante os Jogos.
Ou seja, o caminho é conhecido. Basta partir para a ação.
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