editorial do Estadão
É bem a cara do populismo petista: quase metade dos imóveis destinados à
faixa de público mais carente atendido pelo Minha Casa, Minha Vida,
construídos entre 2011 e 2014, apresenta defeitos de construção. Foi o
que comprovou a fiscalização do Ministério da Transparência, cujos
resultados foram publicados no Estado.
Trincas e fissuras na estrutura, infiltrações, vazamentos e problemas
na cobertura foram verificados em 93 mil unidades de 336 dos 688
empreendimentos do programa fiscalizados. É uma realidade vergonhosa que
demonstra o descaso da administração Dilma Rousseff em relação aos
brasileiros mais carentes que têm acesso ao programa. E comprova que,
para o PT, o programa sempre teve um caráter mais eleitoral do que
social.
Na faixa 1, que foi objeto da fiscalização por amostragem do Ministério
da Transparência – antiga Controladoria-Geral da União –, o subsídio
fornecido pelo governo para a aquisição do imóvel chega a mais de 90% do
valor da unidade, o que significa que o beneficiário recebe a moradia
praticamente de graça. Paga, porém, um alto preço pelo descaso com que o
contratante da obra, o governo, parece dar-se por satisfeito com a
exploração política do programa, relevando a negligência, que só pode
ser deliberada, por parte de empresários inescrupulosos que lucram com o
rebaixamento do custo por meio do uso de materiais de qualidade
inferior e mão de obra desqualificada.
É pungente o depoimento de Wagner Mellini, presidente da associação de
moradores de um conjunto habitacional em Ribeirão Preto, onde os
apartamentos apresentam alarmantes sinais de deterioração apenas seis
anos depois de entregues: “No térreo, quando chove, a água atravessa por
baixo da parede e vai parar dentro das unidades”. No ano passado os
moradores entraram na Justiça para obrigar a construtora a fazer os
reparos necessários. “A gente fica preocupado, com medo de tudo
desabar”, afirma o cadeirante Lucas Henrique da Costa enquanto aponta os
vários e graves problemas em seu apartamento. Essa é uma triste
realidade que se multiplica por praticamente todos os empreendimentos
fiscalizados, mas é particularmente grave em 20 deles, onde foram
encontradas falhas que comprometem as condições de uso e segurança.
De outra natureza, essa puramente política – embora não exclua
deficiências de construção –, são os problemas que envolvem as unidades
habitacionais que são distribuídas no âmbito do Minha Casa, Minha Vida
Entidades, segmento do programa oficial cujo cadastramento de possíveis
beneficiários é delegado a cooperativas habitacionais, associações,
movimentos sociais e outras entidades privadas sem fins lucrativos.
Nessa variedade do programa habitacional do governo federal,
teoricamente as famílias beneficiadas “participam diretamente da gestão
dos recursos e do processo de construção das unidades habitacionais”, o
que resulta em “melhor qualidade a custos menores”, segundo não se cansa
de propagandear um dos principais exploradores desse sistema
diferenciado, o agitador Guilherme Boulos, chefão do Movimento dos
Trabalhadores Sem-Teto (MTST).
No geral, o cadastramento do programa é feito pelas prefeituras, o que,
obviamente, implica níveis variados de influência política na escolha
dos beneficiários. Mas no caso do Minha Casa, Minha Vida Entidades, em
particular no que diz respeito à atuação do MTST, a rigorosa seleção
política é regra essencial, uma vez que não se trata apenas de
selecionar pessoas carentes cujo perfil se encaixe no programa, mas de
escolher militantes não apenas do movimento em favor dos sem-teto, mas
baderneiros dispostos a serem manipulados ou a se prestarem como massa
de manobra nos atos de vandalismo a que o MTST frequentemente recorre
para atacar os “inimigos do povo”.
Movimento dito “social”, de inspiração marxista, criado em 1997 como
ramificação urbana do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra
(MST), o MTST de Guilherme Boulos também se beneficiou do patrocínio
oficial dos governos petistas. Hoje órfão do poder, continua manipulando
os sem-teto com a mesma hipocrisia com que o PT sempre o fez.
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