por Ruy Castro Folha de São Paulo
Uma frase auspiciosa circulou pela imprensa nos últimos dias: a de que, com o que as últimas delações da Lava Jato prometem revelar, a Velha Política no Brasil não passará de 2017. Parece bom demais para ser verdade — um sistema inteiro, como o que nos governa há décadas, ter suas tripas expostas, dando ao país a chance de uma assepsia geral, um clister público, uma lavagem radical de seus intestinos podres.
O que me pergunto é se terras, mares e ares sobreviverão à exposição simultânea das tripas de Michel Temer, José Sarney, Renan Calheiros, Eduardo Cunha, Wellington Moreira Franco, Edison Lobão, Eliseu Padilha, Geddel Vieira Lima, Romero Jucá, Henrique Eduardo Alves, Rodrigo Maia, Eunício Oliveira, Jader Barbalho, Fernando Collor, Aécio Neves, Eduardo Azeredo, Aloysio Nunes e muitos mais — a lista é longa e cada um deles reboca um bando de operadores, executivos e homens de confiança, o que exigirá irrigações em dimensões quase oceânicas.
Além disso, está longe de terminar o processo idêntico envolvendo Lula, Dilma Rousseff, Antonio Paloccci, Guido Mantega, Sérgio Cabral, Eike Batista, Marcelo Odebrecht, José Carlos Bumlai, Nestor Cerveró, Delcídio do Amaral, Marcos Valério, Delúbio Soares, João Vaccari Neto, João Paulo Cunha, Paulo Roberto Costa, Alberto Youssef, Gleisi Hoffmann, Paulo Bernardo, vários Lulinhas e, idem, uma legião de sócios, intermediários e testas de ferro.
Como as duas turmas são intercambiáveis e, apesar dos discursos opostos, sempre se entenderam e/ou fizeram vitoriosas parcerias — Dilma e Temer, por exemplo —, arrisca a que o resultado dessa evisceração impossibilite a identificação precisa de cada dejeto.
A nação tapará prazerosamente o nariz enquanto a Lava Jato desventra essas entranhas — se, antes, não for solapada pelo volume das excreções.
extraídaderota2014blogspot
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